quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

o olhar de Uilcon Pereira sobre a poesia do livro Suor & Cio de Artur Gomes


 A poesia liberada de Artur Gomes

 Há uma passagem, em Auto do Frade, de João Cabral, que me chamou a atenção:

“- Fazem-no calar porque, certo, sua fala traz grande perigo.

- Dizem que ele é perigoso mesmo falando em frutas e passarinhos”.

Vislumbro aí  uma espécie de definição do alto poder da poesia, do poeta, da arte em geral: deixar fluir uma energia de protesto e indignação, crítica e iluminação da existência, qualquer que seja o pretexto ou o ponto de partida.

Por exemplo -: Suor & Cio, novo poemário de Artur Gomes. Na sua primeira parte (Tecidos sobre a Terra), lemos um testemunho direto sobre as misérias e sofrimentos na região de Campos dos Goytacazes, interior fluminense. Não se canta amorosamente as lavouras de cana e grandes usinas, os aceiros e céus de anil. Ao contrário. Ouvimos uma fala que “traz grande perigo”, efetivamente, ao denunciar – com aspereza e às vezes até com extremo rancor – a situação histórico-social,  bruta e feroz, selvagem e primitiva, da exploração do homem no contexto do latifúndio e da monocultura.

 

“usina mói a cana

o caldo  e o bagaço

usina mói o braço

a carne o ossso.”

 

Mas essa poesia dura, cortante e aguda, mantém igualmente a sua força de transgressão – continua revolucionária e perigosa – mesmo quando tematiza (principalmente em Tecidos sobre a Pele, segunda parte do livro) as frutas, ou o prazer sexual, os seios, o carnaval, o mar, e os impulsos eróticos. Por detrás dos elementos bucólicos e paradisíacos (só nas aparências, bem entendido), eis que explode o censurado o reprimido, o que não tem vergonha e nem nunca terá:

 

“arando o vale das coxas

com o caule da minha espada

no pomar das tuas pernas

eu planto a língua molhada”.

 

Por isso, frequentemente os poemas se debruçam sobre o próprio ofício do poeta, e sobre o próprio sentido do fazer artístico. Ofício de artista, experiência de poeta: presença do risco da violação das normas injustas: carnavalizando, desbundando a troup-sex, infernizando o céu santificando a boca do inferno, denunciando o rufo dos chicotes, opondo-se aos d nos da vida, que controlam o saldo, o lucro e o tesão.

Os versos de Artur Gomes querem ser lidos, declamados, afixados em cartazes, desenhados em camisas. E vieram para ficar nas memória e bibliotecas da nossa gente, apesar do suor e do cios, graças ao suor e ao cio:

 

“com um prazer de fera

e um punhal de amante”.

 

Uilcon Pereira

São Paulo, julho de 1985


tecidos sobre a pele

ó terra incestuosa de prazer e gestos não me prendo ao laço dos teus comandantes só me enterro à fundo nos teus vagabundos com um prazer de fera e um punhal diamante

minha terra é de senzalas tantas enterra em ti milhões de outras esperanças soterra em teus grilhões a voz que tenta – avança
plantada em ti como canavial que a foice corta
mas cravado em ti me ponho a luta mesmo sabendo – o vão estreito em cada porta

 

 COITO

 

teu corpo é carne de manga

em meu pênis viril

enquanto sangra

quando beijo tua boca

                     enfurecido

rasgando por trás

o teu vestido

 

COR DA PELE

 

África sou: raíz e raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema

 

o negro na pele

é só pirraça

de branco

na cara do sistema

 

no  fundo é amor

que dou de graça

dou mais do que moça

no cinema

 

 CARNE PROIBIDA

 

o preço atual

proíbe

que me coma

 

mas pra ti

estou de graça

pra ti

não tenho preço

 

sou eu

quem me ofereço

a ti

:

músculo e osso

 

leva-me à boca

e completa teu almoço

 

 

 PROFISSÃO

 

meu ofício é de poeta

pra rimar poema e blusa

e ficar em sua pele

pelo tempo em que me usa

 

 FRUTAS

 

no vermelho dos morangos

marrom dos sapotis

na pele das romãs

carne das goiabas

polpa das amoras

licor das melancias

e tropical abacaxi

 

no gosto que elas têm de beijo

e jeito que elas têm de sexo

penetro os dentes mordendo

chupando dragando em ti

 

a terra das frutas na boca

arando o vale das coxas

com o caule da minha espada

eu planto a língua molhada

 

PRIMEIRO AMOR

 

montado no sol a pino

no pasto do céu em chamas

eu cavaleiro menino

enlouqueci na sua cama

 

VOO SELVAGEM

 

I

 

correndo nos  cavalos

cresceu

meu coração de égua

enxertado

em ilusões de águias

 

II

 

meu coração galopa

pelo campo afora

no dorso dos poemas

na pele das esporas

 

III

 

diante da cerca

estão os bois

saciando o sexo:

corpos sob o sol

selvagens & parceiros

guiados pelo odor

amando pelo cheiro

 

IV

 

no pasto

o encontro boca a boca

a égua abriu-se toda

para que nela

entrasse

 

                 bastasse ver

o seu pulsar

           e gozo

para que o alazão também

          entre o capim

gozasse

 

V

 

com espada em riste

galopamos pradarias

e lutamos ferozmente

por dois segundos e meio

 

tua fúria era louca

e agarrei-me em tua crinas

para não cair da cama

 

mas o amor era tanto

e tanto era o prazer

quando fomos pra cama

não tinha mais o que fazer

 

 

CORAÇÃO CIVIL

 

meu coração vadio

quando está no cio

faz comício

em seu quintal

vai pro bar e bebe o rio

e canta um  hino nacional

 

 

 TEMPERO

 

é preciso socar certas palavras

com sal pimenta & alho

para dar o gosto

 

o ardido

que se traz na boca

é tempero mal cuidado

 

é preciso cortar o mofo

das ações de certas palavras

para quando for poema

ter ação presente

penetrar a carne

e ter sabor de gente

 

 

meu poema

se completa

em seu vestido

roçando sua carne

no algodão tecido

 

 

EXERCÍCIO

 

com um dedo

abro

a tua boca vagina

 

com dois

aperto

o bico do teu seio

 

e

 ultra passo

a porta do teu meio

 

 

TERRA

 

amada de muitos sonhos

e pouco sexo

deposito a minha boca

no teu cio

e uma semente fértil

nos teus seios como um rio

 

o que me dói

é ter-te

devorada por tantos olhos

e deter impulsos por fidelidade

 

 

POESIA

 

I

 

chegas a mim

como uma égua assanhada

não quer saber do meu carinho

só quer saber de ser trepada

 

II

 

eu te penetro

em nome do pai

do filho

do espírito santo

amém

 

não te prometo

em nome de ninguém

 

 

boca do inferno

 

por mais que te amar

seja uma zorra

eu te confesso amor pagão

não tem de ter perdão pra nós

eu quero mais é teu pudor de dama

despetalando em meus lençóis

e se tiver que me matar que seja

e ser eu tiver que te matar que morra

em cada beijo que te der amando

só vale o gozo quando for eterno

infernizando os céus

e santificando a boca do inferno

 

Artur Gomes

Do livro Suor & Cio – MVPB Edições – 1985

Musicado e gravado por Luiz Ribeiro no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – Fulinaíma Produções – 2000

 

O CORPO DA POESIA

                        para Artur Gomes

 

I

Seu semântico

sêmen

quântico

seu semeio

sêmen

esteio.

nos aceiros

assim e

pinci

pau

mente

assados.

nas moendas

assim

e parti

cu

lar

mente

assadas.

 

II

seu pênis poético

(caneta tinteiro

lápis grafite)

é tênis

atlético

a cada passada

por toda calçada

por todos os Campos

&

campus.

seu gozo é pôr

prazer.

 

III

E se a terra é escrava

a mulher é companheira

e se todas duas suam,

gemem, sabem

da rija verga da cana,

só você pode fazer

com cada uma

uma mágica

e tê-las como fecundas,

frutas, fibras, forças, fadas

e não só vê-las (solvê-las) absurdas,

frias, frágeis, soturnas, apáticas.

 

IV

É que o corpo da poesia

tem em si suor & cio

tem assim toque macio

e braveza de enxurrada.

 

Marco Valença

Itapuã – Salvador – Bahia

05 setembro – 1985

 

Suor & Cio – Artur Gomes

 

A cor da pele, à flor da pele, tecido da pele, à flor da terra.

É o livro de Artur Gomes:

Suor & Cio, reconduz o homem a terra. Resgata o seu suor de homem e cio da terra. É tanto amor e o tanto amar homem terra homem.

Artur tem muito da característica de João Cabral, quando fala da terra, mundo: muito de Ledo Ivo na capacidade de reunir palavras e dizer algo, que as vezes, gostaríamos de gritar com todas as forças.

Poeta de fôlego de gato. Artur é uma das grandes expressões da atual poesia brasileira.

 

Hugo Pontes

Poços de Caldas-MG – 17 junho 1987

 

Obs. Os poemas tecidos sobre a pele carne proibida estão publicados na antologia Carne Viva. Org. por Olga Savary, prmeira antologia de poesia erótica publicada no Brasil.


entrevista a Jiddu Saldanha - tradução: Leo Lobos e Cristiane Grando

 

Entrevista a Jiddu Saldanha
traducción: Leo Lobos y Cristiane Grando 

Artur Gomes es un poeta que se mueve a la velocidad de su erotismo, un liberta­rio, con una sed poética– antropófaga. Dueño de un estilo único y con talento extremo para decir sus poemas en público el viene coleccionando fans por el Brasil y el exte­rior. Influenciando multitudes de jóvenes poetas en Río de Janeiro y contribuyendo fuerte­mente para la cultura del país.

- Leyendo tus poemas me encontré con una cuestión semejante a Hilda Hilst. No escribes una poesía “fácil”, entonces te pregunto: ¿Escribes para tener lectores? -

Claro que escribo para tener lectores, como Hilda Hilst también que­ría tenerlos. La dificultad, creo, está en la cuestión de los lenguajes poéti­cos. No creo que mi poesía sea difícil. Tal vez la falta de lectura de poesía sea el factor que dificulte a la mayoría de los lectores captar en su esencia el mensaje del poeta.

– Para muchos poetas posees una óptima forma de decir poemas, de las mejores que ya se vio por ahí. ¿Hablar poemas es también un oficio?

– Hablar poesía, es un ejercicio que practico cotidiana­mente desde el instante en que me descubrí poeta. Si ser poeta es un oficio, hablar poemas, para mí también lo es. Se que con esta comunica­ción directa, el poema se torna más accesible al otro, que deja de ser lector para ser oyente. El sentido auditivo le permite una emoción que la lectura silenciosa no proporciona.

– Tengo curiosidad en saber, el Artur Gomes que escribe los poemas es el mismo que los habla. ¿Existen “auras” diferentes en cada momento de tu actividad artística?

– El acto de la crea­ción, es un instante solita­rio, en que el poeta se encuentra con los conflictos inherentes a todo ser humano, es cuando está en comunión consigo, y al mismo tiempo en comunión con todos. En este instante no existe mucho en que pensar, a no ser, dejar al imagina­rio fluir y a la escritura brotar en el papel, o en la tela del computador. Ahora el acto de hablar el poema requiere otras prácti­cas. En mi caso tiendo a no teatralizar el texto, y si dotar el habla de una sonoridad compatible con el drama o el humor pertinente que está contenido en la palabra escrita. En este momento el poeta deja de ser poeta, para tornarse actor.

– Además de poeta eres también un gestor/productor, haciendo puente para otros artistas y ayudando a eventos de gran importancia nacional como la “Bienal de Campos”, o “Festival de Campos – Poesía Hablada”, o el “Concurso de cuentos José Cândido de Carvalho”. ¿ Queda tiempo para tirar maní a los monos?

– Tú me haces recordar una bella canción de Car­los Careqa, “No de maní a los monos”, presente en su disco “Los hombres son todos iguales”. Todas estas actividades son rea­liza­das con un intenso placer, si así no fuese no valdría la pena. Lo que más importa en este caso es la posibilidad de colocar la poesía en primer lugar, lo que para mi es una tarea diaria. Los monos que esperen por el maní… (risas).

– ¿“Fulinaíma” y “Sagarana” son conceptos inspira­dos en Guimarães Rosa y Mário de Andrade? ¿O es una especie de diálogo filosófico
poético con la juventud brasilera tan carente de contacto con artistas viscerales?

– Por instinto natural, siempre me gusto jugar con las palabras, re
inventar unas y otras, no es simple­mente hacer una relectura. Pero si, intentar crear a través de ellas algunas otras. Tengo la certeza que los contactos con la música y el teatro contribuirán decidida­mente para desa­rrollar todavía más esa práctica.
Tanto Fulinaíma como Sagarana son frutos que crecieron de proyectos desa­rrolla­dos con el objetivo de una re
creación volcada para esos pila­res de la cultura brasilera contemporánea. La crea­ción de Fulinaíma se la debo a mi cercano colabora­dor el músico Naiman. Ella nace cuando todavía estaba en escena en São Paulo con el proyecto “Retazos Inmortales de Serafim”, a pesar que su foco está centrado en Oswald de Andrade, es con la mezcla macunaímica de Mário de Andrade que pensa­mos adobar nuestra comida. En tanto Sagarana, nace con la crea­ción del poema Saragaranagens, que es un pedido de bendición al maestro Guimarães Rosa.

– Antes de destacarse como un maestro de la palabra ya eras conocido como artista visual. Háblanos un poco de tu trabajo en esta área.

– En 1983, aún en Campos, cree el proyecto Muestra Visual de Poesía Brasilera, que es una “exposición gráfico visual” con los lenguajes experimentales que pudimos conocer a partir del modernismo. A partir de ahí comencé a estrechar contacto con grandes poetas del país y del exte­rior que ya hace algún tiempo trabaja­ban con poesía visual y otros lenguajes experimentales donde la visualidad estaba presente. Este proyecto tubo varios desdoblamientos y a cada exposición de acuerdo con el objetivo que intentá­ba­mos alcanzar definía las característi­cas de la poesía que íbamos a exponer. Considero este trabajo bien singular en mi producción poética. Aunque es con la palabra escrita con la que procuro colocar mi condición de poeta en este mundo.

- ¿A quién lees?

– En poesía leo una infinidad de poetas conocidos o no, por cuenta del “Festival de Campos de Poesía Hablada”, y a nuestros maestros Drummond, João Cabral, Oswald y Mário de Andrade, Paulo Leminski, Mário Faustino, Torquato Neto, Murilo Mendes, Baudelaire, Augusto y Haroldo de Campos, Mallarmé, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Manoel de Barros, Ferreira Gullar, Hilda Hilst y Ana Cristina César. Acabe de leer el libro Plano de Vuelo, de Ademir Antonio Bacca.

- A quién conside­ras hoy el primer equipo de la poesía en el Brasil?

– Es muy difícil definir ese primer equipo. Aunque tene­mos también de una forma subterránea, una decena de grandes poetas en plena productividad como Tanussi Cardoso, Marcus Vinicius Quiroga, Helena Ortiz, Antônio Cícero, Aclyse de Mattos, Aricy Curvello, Dalila Teles Veras, Ademir Assunção, Fabiano Calixto, Diana de Hollanda, Zhô Bert­holini, Lau Siqueira, y por ahí sigue… Es una producción aún restringida a una ciudad o a una región de cada uno de esos poetas, pero de gran calidad.

– Quién es Artur Gomes por Artur Gomes?

– Un ser, social, erótico, religioso, sagarânico y fulinaímico, preo­cupado con las cuestiones humanas de los seres que habitan este convulsionado planeta.

ALGUNA POESÍA

no. no basta­ría la poesía de tranvía
que desbarranca luna en mis pestañas
en un trapecio de pendientes donde la solapa
cargada de asaltantes en sus arcos
hiriendo la fría noche como un golpe
que va haciendoel amor entre las líneas.

no. no basta­ría la poesía cristalina
para las niñas que están rasgándo
se el cuerpo intentando lasuerte
en cada puerta del metro.
y nosotros poetas desvendando palabritas
vamos danzando en el vértigo de este circovola­dor.

no. no basta­ría toda risa por las plazas
ni el amor que las palomas tejen por los trigales
los pája­ros despedazándose en los ventanales
y las mujeres cuidando a sus críos.

no basta­ría delirar Copacabanay
esta cosa de sal que no me engaña
la luna en la carne cortando una seducción gay
y un olor de fémina en el aire devora­dor
aparentando rea­lismo hipermoderno,
en un cuerpo de ángel que no fue mi dios quien hizo
ese gusto de cosa del infierno
como probar el amor al aire libre
en una cósmica y profana poesía
entre las piedras y el mar de Arpoa­dor
una mixtura de hechizo y fantasía
en altas olas de misterios que son nuestros

no. no basta­ría toda poesía
que yo traigo en mi alma un tanto puerca,
esta pos­tal con una imagen parecida a Lorca:
un tranvía aterrizando allá en la Urca
y esta ciudad recostándose en el agua
en mis demoliciones
pues si el Cristo redentor dejase la piedra
con certeza nunca más reza­ría el padrenuestro
y con certeza solo haría con mis huesos poesía.

EL BUEY MANCHADO

Levanta mi buey levanta
que es hora de viajar
despierta buey todo
buey debe luchar.
Y…allá va el buey
con sus ojos tris­tes
hecho madre cansada
del camino, de la vida,
cargando dolor
cabizbajo
con miedode ser el primero
en enfrentar el puñalo la horca.

Allá va el buey del arado
buey de carro
buey de carga
buey de cerca
buey de yugo
buey de cuerda
buey de prado
buey de corte.

Buey negro
buey blanco
Allá va el buey manchado…
allá va el buey
en su conciencia
triste, solita­rio
ojeando a los que pasan
con miedo de alzar su voz
su bufaral oído de los otros.

Allá va el buey
en su paso manso,
danza en la contra
danza
con la certeza que la esperanza
es mucho más que aquello
que le fue predestinado.

Allá va el buey
manchado…
allá va el buey…buey Antonio
buey Juana buey María
buey Juan.
Buey Thiago
Buey Ferreira
Buey Drummondel
Buey Bandeira,
y tantos
que conoci que sabiendo o no sabiendo
cada buey tiene su fin.
Allá va el bueycon su gesto manso
en el equilibrio manco
que me inspira y desespera…
va para el cofre,
él sabe eso.
Va al matadero
él sabe eso.
Va a la balanza
y sin ser equilibrista
ya conoce su destino.
allá va el buey
manchado…

Y allá va el buey
por las líneas del tren
en los vagones de fierro.
Cargado
de marcas en el cuerpo
y agonía en su corazón.

Levanta mi buey levanta
que es hora de viajar
despierta buey todo
buey debe luchar…

Levanta mi buey opera­rio
buey de martirio y de sala­rio
buey de pala y de hora­rio
buey de la amarra en el cuello
buey de carne, buey de hueso
servido al plato de la serpiente
buey de lama
buey de foso
buey indigesto e indigente.

levanta mi buey de fardo
buey de cerca
buey de carga
buey de yugo
buey de cuerda
buey de fuerza
buey de farsa
buey de farra
de venganza
buey de fiesta
buey de hierro
levanta mi buey destino
buey pavesa
espanta
pájaro
buey de paño
levanta mi buey de paja
buey de circo
buey de sueño
buey salvaje
buey de plano
levanta mi buey de barra
buey de guerra
buey de berro buey de barro.

Levanta mi buey manchado
hombre payaso enmascarado
máscara de ani­mal y desengaño
ningún hombre des­almado
se mostrará con nuestra cara
se cubrirá con nuestros paños

Levanta mi buey de plata
buey de plato
buey de llanto
buey de clavo
alambre de púas
buey de carga y de arado
buey Juan des­empleado
de terno infierno y de corbata
buey sin libro
buey sin acta
buey de zafra
buey de cofre
buey de carta
buey de corte:
buey de carne herida
mugiendo de sur a norte,
buey que nace para la vida
y que engorda para la muerte.

Traducción: Leo Lobos y Cristiane Grando
http://www.santiagoinedito.cl/

 

com os dentes cravados na memória

 

Com Os Dentes Cravados Na Memória

 

A Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo, nasceu em dezemvro de 1990, durante uma viagem em que cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então ETFC(IFF), a Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana Cultural desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá conheci Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.

 

A Igreja Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a 1ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas dependências do Ginásio de Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei o livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas.

O grande objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da África e Grécia para de alguma forma descobrir de onde vem as nossas ancestralidades. De alguma forma e em alguns momentos mitologia grega e africana se misturam e viajando metaforicamente nessas realidades reinventadas vim desaguar no Vampiro Goytacá canibal Tupiniquim.

 

Artur Gomes

https://arturgumes.blogspot.com/




segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

vertigem 12

 

vertigem 12

 

o barro do valão que os pés pisaram impregnou o sangue transpirou  nos poros o limo embaixo das unhas lembra-me o lugar de onde vim aquele sertão alado como uma ilha de creta montando alazão enluarado pre-destinado a ser poeta não tracei a linha reta já nasci um anjo torto nada em mim se concreta no meu sonho – desconforto –

 

Artur Gomes

O Homem com A Flor Na Boca

https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/


sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

serAfim 2 - rúbia querubim a desejada de federico baudelaire

serAfim 2 -                 rúbia querubim a desejada de federico baudelaire

 quieta aqui nessa solidão capixaba quantas vezes me vem em sonhos ou alucinações contemporâneas tudo o que não fui eu não era a bruna beber muito menos débora seco mas ele gostava até queria que fosse assim como biúte me chamava de vários nomes ao mesmo tempo aquela profusão de palavras como inseto em volta da lâmpada e os cálices nos lençóis de algodão as vezes linho para atiçar nossa luxúria com a contribuição da enel que nos deixava quase sempre no escuro na guarapari do espírito santo uma noite ele passou o tempo todo lendo pagu no meu ouvido e macabea não se conforma por ter sido deixada de lado nas artes cínicas do presídio federal de brazilírica trafega com seus fantasmas pelos corredores falando para o vento que entra pelos buracos das fechaduras

 

nasci no dia nacional do samba talvez por isso aos 15 entrei para mocidade independente de padre olivácio – a escola de samba oculta no inconsciente coletivo instituição criada pelo intrépido artur gomes uma filial da igreja universal do reino de zeus pastor de andrade o antropófago não anda muito satisfeito com meu comportamento a frente da bateria da escola mas como sou capixaba e não amo capixaba e a única coisa de capixaba que gosto é a torta e o quibe de peixe amor com capixaba não faço já disse isso milhão de vezes mas faço amor não faço guerra e quem quiser que me queira por essa terra inteira


 não conheço

mas é como

se conhecesse

 

disse-me ontem

a psicóloga

 

antes que

amanhecesse

 

depois de uma noite

de trégua

depois de passar a régua

 

na direção dos caminhos



https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

 

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

 


vampiro goytacá

canibal tupiniquim

             poesia muito prosa

viagens metafóricas por realidades reinventadas

 

 veraCidade

 

por quê trancar as portas tentar proibir as entradas se já habito os teus cinco sentidos e as janelas estão escancaradas ? um beija flor risca no espaço algumas letras de um alfabeto grego signo de comunicação indecifrável eu tenho fome de terra e esse asfalto sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos quando piso na augusta o poema dá um tapa na cara da paulista flutuar na zona do perigo entre o real e o imaginário joão guimarães rosa caio prado martins fontes um bacanal de ruas tortas eu não sou flor que se cheire nem mofo de língua morta o correto deixei na cacomanga matagal onde nasci com os seus dentes de concreto são paulo é quem me devora   selvagem devolvo a   dentada na carne da rua aurora

 

serAfim 1 -                  Artur Gomes

 

 para ademir assunção

um nome escrito no vento

 

não quero o sentido normal

da coisa como me aparenta

quero a realidade

exatamente como a gente inventa 

 

     no concreto do abstrato

na argamassa do concreto

sou

vampiro bêbado de sangue

assassinei os alfarrábios

para inventar meu alphabeto


tempo de poesia

para renata magliano

 

lancei o tempo

numa agulha da fresta

 

ainda bêbado de ontem

bebo as trina e cinco pausas

de uma mulher em chamas

que ainda não conheço

 

o tempo me dirá o endereço

como metáfora ou alquimia

 

e sendo drama ou festa

tempo de poesia

é o que nos resta

 

vamos comer mastigar chupar beber

devorar  deglutir cuspir escrever  xingar falar sobreviver  sobrevoar os telhados  de todos os fantasmas  goytacá  ancestrais  invadir os palácios de todos tupiniquins canibais  mesmo que o templo esteja escuro não me mostre o que preciso não quero perder o meu  juízo nos currais de assombradado tem um morcego nas cancelas principais vamos pichar nos muros : sem justiça não haverá paz

 

 no lado esquerdo

do peito

o direito não conforta
nem comporta a estrada
que preciso

nu poema 

a porta
que se abre
a procura do inciso


31 janeiro 2010

era um domingo de sol rock and roll e poesia irina gozou comigo quando beijei santa teresa no parque das ruínas com uma bela imagem de cristo tatuada em nossas costas depois de uma noite de sonhos amanhecemos nas laranjeiras dentro do severina o famoso botequim mais uma vez me beijou e bem ali no pé do ouvido me falou assim:

 - vamos pra saideira

meu vampiro goytacá

canibal tupiniquim meu serafim

 

a saideira foi itacoatiara itaipu

 

engenho do mato dentro

engenho de dentro fora

quando penso que clara está vindo

irina já foi embora

 

o barro de alguns barracos  continuam entranhados na carne com seus  nomes tapera cacomanga cupim queimado cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri trago a poeira na sola dos meus pés o sangue das pessoas trouxe impregnados nas  unhas vampiro  goytacá canibal  tupiniquim 

no  branco do papel deponho a faca a foice navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do vieira paraíso perdido joazeiro coqueirinho nas mallarmargens da br

já fui do breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido na paulista  roubei poemas do piva para vender nas lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta da língua da memória

 quando  criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde no porão da casa onde aprendi a enxergar   clara/luz na escuridão quando seus olhos de vidro

 viraram espelhos para os meus numa madrugada  27 agosto  1948 datas também me acompanham desde que vi o primeiro clarão diurno quando o trem passou para dores de macabu 

quando estive na bolívia senti o cheiro de corumbá ali de perto em assunção do paraguai porto viejo canavarro o barro vermelho no carnaval pelas fronteiras cerveja com caldo de piranha  a dona de um bordel no pantanal chamava os jacarés com nomes de jogadores de futebol quando perdi o avião pra boa vista

 

 tem noites que a lua cheia me chega com sangue entre os dentes com aquele gosto de veneno escorrido das serpentes tem dias que as serpentes me chegam com gosto de lua cheia


a mulher dos sonhos me deixou de quatro a ver navios com pavio aceso essa palavra incendeia os poros pelos orifícios esse meu ofício de perfurar na carne o que não cabe in-verso nem por um segundo nem por um milímetro nesse acampamento logo depois da febre como marimbondo provo o teu veneno

quem me vê

assim

tão comportado

não sabe

o que se passa

aqui no centro

 

não sabe do vulcão

em erupção

nesse serTão

do mato dentro

 

  a traição das metáforas

para juliana stefani

 

dandara ainda mora

naquela beira  de estrada

com seu vestido amarelo

no rio grande do sul

mesmo que não esteja

ainda a vejo

atravessando a calçada

saindo do carro azul

abrindo o portão da casa

de 7 portas douradas

 com mil  garrafas de vinho

psicografadas na sala

por algum poeta dos pampas

que escreveu por aquelas rampas

o que testemunhou nos vinhedos

quando italianos chegaram

nas serras dos meus segredos



https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/

Artur Gomes 77

  27 de agosto com muito gosto fazer setenta e sete outra coisa me disse fulinaíma pra definir o que faço o traço a cada compasso pensado se...