domingo, 26 de março de 2023

para Gigi Mocidade

para Gigi Mocidade

procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por um amor qualquer

Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com


pele grafia

pele grafia

meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com



Isadora

 

Isadora

ela me chega assim bailarina
como uma tarde de música
envolta em física quântica
etérea qual labirinto
para dizer o que sinto
procuro em teu livro secreto
palavras que não conheço

Federika Lispector


sexta-feira, 24 de março de 2023

o vampiro de si mesmo


LIVRO DE CESAR AUGUSTO DE CARVALHO

CESAR, VAMPIRO DE SI MESMO.

Conheci o professor CESAR AUGUSTO DE CARVALHO,ainda nos anos 85/86,em palestras que realizava em Marília/SP, sobre taoísmo. Eu me lembro que certa vez, ele dizia que uma das funções do professor era fazer a cabeça do aluno refletir, girar, explodir em saberes, ou algo assim. Eu penso que ele como educador e poeta conseguiu. Seu livro se chama PROESIA, todo branco em capa e despojamento, á memória de UILCON JÓIA PEREIRA,e muitos outros queridos seus. Eu destaco pelo despojamento e brilho o toque de "DOIS CAMINHANTES", "numa noite de fevereiro", "PARA UM SUICIDA EXEMPLAR,TORQUATO NETO".

Mas, há os haicais deliciosos, insuflados de sabores leminskianos, claros, brancos, transversais, chovando certa sensualidade, desapego, dúvida,humor, natureza, amores,raios lunares,urbanismos, kigo, jhorei, o poeta como vampiro de si mesmo,o sabor da infância, alice ruiz, beija-flor. CESAR AUGUSTO ,relata ter jogado no lixo, muitas impropriedades poéticas, como todo poeta ou artistas já o fez algum dia, porém, os poemas são produtos de nossas vivências, e ressurgem,ainda que não aceitemos esse fato, e são registros humanos, que em qualquer época futura nos afetam e respingam suas matizes em leitores mais atentos.

O que me interessa é o teor de sinceridade entre o poeta e seu registro em prosa e verso - nem tanto a sua técnica,a qual se aprimora com o tempo. Uilcon nos dizia: "você nunca leu um livro ,ou ouviu um disco,ou viu algum filme" -porque estamos sempre a ver o filme,a ouvir o disco, a ler o poema. O livro de CESAR AUGUSTO CARVALHO ,pela leveza, clareza, e sabor é para ser apreendido desta forma, sem subterfúgios poéticos,na clareza da aurora, branco intenso, alma inquieta, relato verdadeiro.

Seus poemas são cinematográficos, curtos, sugerem imagens na cabeça do leitor. Ele que tentou fazer cinema neste país de novelas de gosto insípido. Fazer cinema,foi uma tragédia para muitos de nossas melhores cabeças como GLAUBER E LUIZ ROSEMBERG -fazer poesia é também um imenso desafio, em pleno século 21. Vampiro de si mesmo é o poeta, essa a grande pedra filosofal, a grande sacada que o difere do trivial, a descoberta crucial que o consome ao longo da encruzilhada.

everi rudinei carrara
site telescopio.vze.com 


nydia bonetti

 

a torre no alto da montanha parece ter vida
sentinela que a si mesmo se guarda
há algo de humano nos metais (incerto brilho)
a superfície térmica, feito pele
os olhos de espelho a refletir o sol
(relâmpagos)
a imobilidade que aprisiona
o sonho de ter asas, quando o pássaro
pousa leve feito pluma
a ilusão do aconchego
quando um ninho se faz
entre as hastes frias
a precária condição de saber-se ao relento
nos temporais
a solidão que nos irmana
nas noites longas. homem, ave, peixe - terra
(e seus mil tons) pedra - vertigem de ser
efêmero. e o vento. o vento.

Nydia Bonetti


quinta-feira, 16 de março de 2023

Geleia Geral - Rádio Caiana

 

Hoje às 20h

Geleia Geral

Rádio Caiana

www.radiocaiana.com.br

 

Gravamos ontem com Paulo André Netto Barbosa o primeiro Geleia Geral com participação especialíssima da minha querida amiga parceira Marcella Roza cantando à capela Vapor Barato (Jards Macalé/Wally Salomão).

Além de uma seleta musical com meus parceiros Paulo Celso Ciranda Reubes Pess Otávio Cabral Naiman e Luiz Ribeiro e duas faixas com poesia e som instrumental de Fil Buc fluiu ainda um breve bate papo focado na minha trajetória desses 50 anos de poesia. Esse programa de estreia vai ao Ar hoje às 20h.


sábado, 4 de março de 2023

Teatro do Absurdo

 


Teatro do Absurdo

 

O quarteto da hipotenusa

versus o quadrado do quarteto

da hipotenusa a musa do quadrado

fosse apenas o retrato na fotografia

mas não sendo hipotenusa

somente musa algaravia

uma palavra mais que estrada

sendo musa multi-via

me levou nessa jornada

para fora da Bahia

todos os santos mar aberto

no abismo a fantasia

de querer mus entretanto

muito mais que poesia 


e ela vai pintando

 o homem com a flor na boca

com seus pincéis de aquarela

poema que só é possível

pelas lentes dos olhos dela

 

na balada ou no bolero

nossas letras se entrelaçaram

pele corpo carne sangue pelos

poros entre tintas entre tantos

anos que  foram pintados

sobre papéis de cartas em fogo

sob o sol  chuva verão inverno

quando qualquer das estações

é primavera

 

e ela era uma estudante de arquitetura que pintou poemas no cachorro louco

e desenhou imagens em Brazilírica Pereira : A Traição das Metáforas 


Artur Gomes 

O Homem Com A Flor Na Boca 

https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/


 

O Auto do Boi Macutraia

 

por onde andará

Macunaíma

tá no rabo da sereia

tá no rabo da arraia

já passou por Gargaú

tomou pinga em Bracutaia

?

não  

 

Joilson Bessa  já me disse

Kapi do céu já ensaia

 Macunaíma  vem dançando

na farra do boi Macutraia

 

levanta meu boi levanta

que é hora de viajar

acorda boi povo todo

povo e boi tem de lutar

 

olha o rabo do boi é boi

a barriga do boi é boi

olha o chifre do boi é boi

e o couro do boi é boi

 

o meu boi é valente é boi

já chifrou o tenente é boi

é um boi de mercado é boi

e também o delegado é boi


e lá vem Toninho Xita

todos vestido de rosário

vai cantar mais  samba-enredo

pra enriquecer o relicário

 

ê meu boi brasileiro ê boi

pintadinho sem dinheiro ê boi

ê meu boi alazão ê boi

que chifrou o capetão ê boi

 

o meu boi é kabrunco é boi

o meu boi garrutio é boi

o meu boi lamparão ê boi

pra encantar a multidão é boi


o meu boi é jaguar é boi

mãe maria vem cantar vem boi

e meu boi sapatão ê boi

vem também pai joão vem boi

 

o meu boi julivete é boi

já comeu a micheque ê boi

e meu boi operário é boi

já chifrou salafrário ê boi 


o meu boi é cigano é boi

o meu boi é baiano é boi

é também pernambucano é boi

tá  no canto da sereia é boi

tá no rabo da arraia é boi

é um boi carnavalhado é boi

veste calça e veste saia é boi

eita boi da macutraia ê boi


o meu boi jaburu é boi

enfrentou o bangu ê boi

desfilou no ururau ê boi

e ganhou carnaval é boi 


esse boi sem segredo ê boi

esse boi não tem medo ê boi

se um dia passa fome ê boi

noutro dia nós vira samba-enredo

 

Artur Gomes

www.arturkabrunco.blogspot.com


Artur Gomes 77

  27 de agosto com muito gosto fazer setenta e sete outra coisa me disse fulinaíma pra definir o que faço o traço a cada compasso pensado se...