sexta-feira, 20 de setembro de 2024

com os dentes cravados na memória

Balbúrdia PoÉtica 5 

A Balbúrdia 1 e 2 foram realizadas na Taberna de Laura -  Copacabana – Rio de Janeiro. A Balbúrdia 3 foi realizada no Bistrô do Ernesto – Lapa – Rio de Janeiro – a Balbúrdia 4 será realizada na Patuscada – São Paulo – e a  Balbúrdia 5 – onde será?

São João Del Rey-MG, Campos dos Goytacazes-RJ?

 Tentem adivinhar.

 

Artur Gomes

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Com Os Dentes Cravados Na Memória

Mesmo com uma grande dor, provocada por um bico de papagaio que a décadas insiste em cantar na minha coluna, roubando-me as vezes a paciência, passei uma tarde de ontem super divertida no Auditório Miguel Ramalho em cia da equipe de Coordenação de Projetos de Audiovisual e Design Para Educação - Centro de Referência do IFF Campos Campus Centro.

Motivo do Encontro: um depoimento sobre os mais de 50 anos que Vivi no IFF desde os tempos de aluno no Ginásio Industrial na então ETC (Escola Técnica de Campos), de 1961 a 1964. Passando pelo período de 1968 a 1986 quando já servidor da ETFC(Escola Técnica Federal de Campos), trabalhei como Linotipista na Oficina de Artes Gráficas (Tipografia).

De 1975 a 1985 mesmo subvertendo a ordem natural vigente que direcionava a instituição, criei totalmente à revelia da direção na época, uma Oficina de Teatro, que se manteve subversiva até 1986 (pois era assim que os professores reacionários da época se referiam a atividade.

Nunca fui poeta de bons modos, bons costumes, e como os alunos da Oficina de Teatro, eram também alunos da ETFC, nos "anos de chumbo" onde o Diretor da instituição era escolhido pelo MEC, depois de algum curso na Escola Superior de Guerra, era normal que a minha atividade com Teatro dentro da Escola fosse tratada como Subversão.

Em 1986, acontece as primeiras "Eleições Diretas", nas Escolas Técnicas Federais e nas Universidades Federais, pós Ditadura. Na ETFC se elege Diretor o Professor de Matemática Luciano D´Angelo. Como desde 1980 o trabalho com a Oficina de Teatro havia ultrapassado os muros da cidade e ganhado as ruas de Campos, com o Auto do Boi-Pintadinho, Luciano então, me transfere da Tipografia para o Grupo de Atividades Culturais.

Em 1997 a ETFC já havia se transformado em CEFET, e com a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases), criada por Darcy Ribeiro, a Oficina de Teatro, como outras Oficinas de Arte que já existiam então passam a fazer parte da grade curricular para os alunos do Curso Técnico (nível médio). No período de 1997 a 2002 passo então a Coordenador da Oficina de Artes Cênicas, até a minha aposentadoria.

De 2011 a 2012 convidado pelo então Diretor do IFF Campos Campus Centro, Jefferson Manhães, volto a instituição para Dirigir Oficinas de Criação e Produção Cine Vídeo e crio o I Festival de Cinema Curta-IFF, realizado em 2012 no Auditório Cristina Bastos.

As 3 horas de bate papo e gravações foram poucas para narrar os períodos e os fatos em seus mínimos detalhes. Esperava que um dia, acompanhando e vivendo as transformações do IFF como acompanho, que esse depoimento viesse a acontecer, e esses 50 anos vividos ali dentro pretendo transformar no livro Com Os Dentes Cravados Na Memória, onde não só o que vivi dentro do IFF será contado, mas também muito da minha travessuras culturais por este país a fora.

Equipe da Coordenação de Projetos de Audiovisual e Design para Educação que trabalharam nas gravações: Larissa Vianna, Rodrigo Otal, Carlos Henrique Morelato e Lionel Mota.

 

Artur Gomes

Com Os Dentes Cravados na Memória

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uma cidade sem memória não é uma cidade

                           Federico Baudelaire

Campos precisa acordar para voltar a ser 

                                 Rúbia Querubim

tocar-te por dentro lentamente calmamente como quem morde a maçã na boca da serpente e uiva mastigando a carne como sobremesa

                                      Artur Kabrunco

o gosto da tua carne não conheço não me deste o endereço

                                   Federika Bezerra

transverso anjo avessso atravesso as artérias da cidade águas do paraíba emporcalhadas de esgotos

                                        Irina Serafina

como poesia devoro para matar a fome quando oro o prazer tem outro nome

                                          Artur Gomes 

absinto impossível te sentir mais do que já sinto

                              Pastor de Andrade

cidade veraCidade nossas angústias penduradas nos varais

                               Federika Lispector

 

viva a lira do delírio antropofágica paulistana metendo a língua desbragada nos bordéis de copacabana

                                            Lady Gumes

o delírio é a lira do poeta se o poeta não delira sua lira não concreta                                                

                                  Artur Fulinaíma

 

desde os tempos de moleque para descascar carne de manga faca facão canivete arma branca de pivete nos quintais da cacomanga

                            EuGênio Mallarmè  

não tenho papas na língua  nem pastor me come as coxas eu sou do mar da tempestade beira mar é quem   lambe  as minhas ostras

                                      Gigi Mocidade 

*

In Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

Livro inédito de Artur Gomes – lançamento previsto para 2025

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Artur Gomes -  Poesia Afro Tupiniquim

Dia 4  novembro 9:30h

performance com poesia dos  livros Suor & Cio 1985 e O Homem Com A Flor Na Boca 2023 –

Ciep 147 – José do Patrocínio – Campos dos Goytacazes-RJ

 Artur Gomes é poeta ator produtor cultural - atua na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima como Coordenador de Cultura e recentemente foi eleito para a Academia Campista de Letras para ocupar a cadeira 12 antes ocupada pelo professor Hélio de Freitas Coêlho

 

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Poeta Artur Gomes é eleito para cadeira 12 da Academia Campista de Letras

O último ocupante dessa cadeira foi o professor e ex-presidente da ACL Hélio de Freitas Coelho

*

 Os membros da Academia Campista de Letras (ACL) elegeram Artur Gomes, poeta, ator e produtor cultural, para ocupar a cadeira n. 12 da instituição, na noite de quinta-feira (3).

O último ocupante dessa cadeira foi o professor e ex-presidente da ACL Hélio de Freitas Coelho, tendo como patrono Heitor de Araújo Silva.

Candidataram-se como postulantes à vaga os escritores Diego Nunes Abreu, Ivan Vilela Júnior, Pedro Henrique Rodrigues Ribeiro, Thais de Souza Silva, Wedson Felipe Cabral Pacheco e Wesley Barbosa Machado.

As candidaturas, previamente analisadas pela comissão eleitoral (formada pelo presidente Ronaldo Junior, pelo segundo vice-presidente Carlos Augusto Alencar e pela Secretária Titular Sylvia Paes), foram deferidas e assim votadas: Artur Gomes obteve 15 votos, enquanto Pedro Henrique Ribeiro obteve 1 voto. Os demais não receberam votos.

A cerimônia de posse está marcada para ocorrer no sábado, dia 19 de outubro, às 16h, na sede da ACL, localizada no Jardim São Benedito.

 

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Em 16 de dezembro de 2016 a convite do querido e saudoso amigo Hélio de Freitas Coêlho – então presidente da ACL  - Academia Campista de Letras, estreei  a performance poética  com os dentes cravados na memória  com a qual circulei pelo Brasil durante todo ano de 2017

 

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Adorei saber que Artur Gomes vai ocupar a cadeira n. 12 da Academia Campista de Letras. Que escolha acertada! Artur tem dedicado sua vida à poesia através de livros, vídeos, performances, saraus etc. É, sem sombra de dúvidas, um nome honroso para tão conceituada instituição cultural. Parabéns, admirado poeta e querido amigo Artur Gomes!


Joilson Bessa da Silva

 

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como bem disse Carlos Augusto e tantos outros também já disseram, minha trajetória é provocativa, sim, e continuará sendo não tenho motivos nem razões para que não seja

 

poesia me vem dos dentes

das unhas da língua da carne

dos nervos das fímbrias

dos músculos matéria métrica

metáfora dos ossos

em tudo por onde tocar

                     ainda posso

existem almas mansas

leves limpas calmas

e também as espíritos de porca

com a minha

e a de Federico Garcia Lorca

 

Artur Gomes

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                    poema das invenções

fosse essa jura secreta
brazilírica fulinaimagem
mutações em pré-juizo
muito além da mesa posta
couro cru em carne viva
lambendo suor e cio
como corrente de rio
deságua no além mar
profana sagaraNAgem
nos gumes da carNAvalha
teu corpo em Maracangalha
fulinaimando comigo
agulha no meu umbigo
como uma faca nos dentes
a língua na flor da boca
em transitiva linguagem
ereto poema crescente
rasgando a carne no grito
o gozo nos nervos de dentro
roendo os ossos do mito

Artur Gomes
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  Balbúrdia Poética 4

 eu sempre madrugo Jiddu as tentações não me deixam sossegado e a madrugada me ins-pira ouço as 7 sereias do longe lá em nova granada de espanha cada aranha tece a sua teia eu teço cada palavra quando a musa me arranha como bem disse hygia ferreira as sagaranagens fulinaímicas são  heranças do mestre  guima  que recebi do sagarana em itaguara das minas

 

Artur Gomes

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Olga Savary - poeta, poetisa não

No blog Mostra Visual de Poesia Brasileira, estamos prestando uma homenagem a memória e a poesia de Olga Savary, por toda a sua luta em favor da poesia no Brasil. Fomos vizinhos de 1983 a 1987, quando morei no final da Rua Gomes Carneiro e início da Visconde de Pirajá em Ipanema e ela na Sá Ferreira em Copacabana.
Foram incontáveis as madrugadas que varamos saboreando vinhos e conversando sobre tudo que diz respeito a poesia. Inúmeras vezes fomos juntos aos ensaios da Mangueira, sua grande paixão. O Carnaval de 1984 assistimos pela TV em seu apartamento, jogando baralho até o raiar dia.


Gratidão eterna.

Aceita-se contribuições

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Em 1984 poemas meus foram  publicados na Antologia Carne Viva, organizada por Olga Savary, considerada a primeira Antologia de poesia erótica publicada no Brasil, com a presença de poetas como Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant´Anna.

 

Carne Proibida

 

o preço atual

proíbes que me comas

mas pra ti

estou de graça

pra ti

não tenho preço

sou eu quem me ofereço

a ti

músculo & osso

leva-me à boca

e completa o teu almoço

 

Artur Gomes

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afio ainda mais a carNAvalha em cada trilha em cada tralha fora do trilho pra não ser atropelado por algum trem descarrilhado o poema ainda mais faca amolada  cada palavra um tiro oculto sem bala perdida só bala encontrada

 

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meu santo daime um querubim e leve federico baudelaire de volta pra iriri meus cardápios são familiares a tempos estou em greve de sexo o e endomoniado e satânico não me dá sossego nem com poema de fernando pessoa já apelei até para a bahia de todos os santos jorge amado ogum oxumaré fiz despacho pra iansã na boa viagem flores pra yemanjá e o bendito não sossega apela pra rúbia de nada vale ela também não quer mais o rejeitado lá mergulhando em suas águas

 

Federika Lispector

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Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

 

serAfim 1 -             artur gomes 


 curta brisa

 

não tem jeito

 a vida é uma fera

quando menos se espera

 uma hora qualquer

a máquina dá defeito

então o que me resta

 para não perder o fim da festa

- fechar a boca

 cortar um kilo disso

 outro daquilo

e nada de comer aquilo

 porque o vento me avisa

a melhor coisa é comer a brisa

e curtir a atriz enquanto ela me desliza


entre o poeta e a musa

para May Pasquetti


houve um tempo de comunhão e sacramento de bento ao parque das ruínas a poesia deslizava em minha íris retina brisa flutuava entre confete  purpurina mesmo não estando em teresina


- tanta poesia me deixou tesa domingo de rock em santa teresa me larguei a falar quintana sem me preocupar que dia era da semana de tanto comer poema  me tornei atriz de cinema a vida tem coisas que não avisa chega de surpresa me pega e eterniza  

não acredita?

                 me veja lá no curta brisa.


A inocência do mortos

para Adriano Moura

 

mesmo ainda não tendo lido ouso dizê-lo: objeto direto -  substantivo - a inocência dos mortos  espanta a ignorância  dos vivos 


Pensamento Chão

para Viviane Mosé

 

 lavo a palavra solidão que no palácio da cultura é quebrada pelo barulho das espátulas raspando  paredes e  teto  até os livros sentem a falta de afeto por não serem tocados por mãos ávidas por leitura -

 

 meta poema

para Ribamar Bernardes  


meta poema direto na veia meta abstrata concreta simbolista meta poema em linha curva pra não cruzar com a linha reta a meta do poeta é a lata me dizia gilberto gil quando a letra não maltrata  se  a musa é arquiteta


meu santo dai-me

   para Juliana Stefani

 

certa vez  Tchello d´Barros

meu parceiro KINO3

para curar hipertensão

me recitou 1 soneto por dia

e 3 haicais de 8 em 8 horas

ora bolas

nunca tive pretensão

de ter saúde  de ferro

dizem que não falo - berro

e quando xingo poesia

o silêncio grita pro meu santo

dai-me 0 chá que preciso

para arrancar esse dente do juízo

 

e se ainda não melhorar

me diz  o Ribamar

procure a UPA

unidade de poesia autônoma

para arrancar esse dente

me diz Tchello novamente

e se doença for crônica

nem Mário Quintana

só uma Crônica por semana

e não se envergonha

porque nem te CONTO mininu

me diz Jiddu Saldanha

lendo a dica de primeira

que me deu Ricardo Vieira

nesta insana quinta-feira


1 poema visual de 12 em 12 horas

mas só se for recaída mesmo

meu irmão

complementou Tchello ao telefone

só uma sopa de letrinhas

pode amansar hipertensão

              e aplacar a tua fome 


imaginem se vou suportar

 daqui pra frente

essa dieta alimentar ? :

 sem açúcar állcool farinha carboidrato chocolate

 : me faz pensar :

sai pra lá nutricionista

me deixa :

 vou virar peixe

morar no mar e comer peixa 


para ademir assunção

um nome escrito no vento

 

não quero o sentido normal

da coisa como me aparenta

quero a realidade

exatamente como a gente

   simplesmente  inventa  


 

  nonada


ela me inspira me transpira me transborda estico a corda para alinhar o plumo no rumo certo do poema a seta no foco o poema em linha torta para entortar a linha reta

no concreto do abstrato

na argamassa do concreto

sou

vampiro bêbado de sangue

assassinei os alpharrábios

para inventar meu alphabeto

*

vamos comer mastigar chupar beber
devorar  deglutir cuspir escrever  xingar falar sobreviver  sobrevoar os telhados  de todos os fantasmas  goytacá 
os  ancestrais  invadir os palácios de todos tupiniquins canibais  mesmo que o templo esteja escuro não me mostre o que preciso não quero perder o meu  juízo nos currais de assombradado tem um morcego nas cancelas principais vamos pichar nos muros : sem justiça não haverá paz

 

para Luiz Ribeiro in memória 


no lado esquerdo

do peito

o direito não conforta
nem comporta a estrada
que preciso

nu poema 

a porta
que se abre
à procura do inciso


31 janeiro 2010

era um domingo de sol rock and roll e poesia irina gozou comigo quando beijei santa teresa no parque das ruínas com uma bela imagem de cristo tatuada em nossas costas depois de uma noite de sonhos amanhecemos nas laranjeiras dentro do severina o famoso botequim

mais uma vez me beijou e   ali no pé do ouvido me falou bem assim: - vamos pra saideira meu vampiro goytacá canibal tupiniquim -  meu serafim –

a saideira foi itacoatiara itaipu engenho do mato dentro engenho de dentro fora quando penso que clara está vindo irina já foi embora 

*

o barro de alguns barracos  continuam entranhados na carne com seus  nomes tapera cacomanga cupim queimado cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri itapemirim 

trago a poeira na sola dos meus pés o sangue das pessoas trouxe impregnados nas  unhas vampiro  goytacá canibal  tupiniquim 

*

 no  branco do papel deponho a faca a foice navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do vieira paraíso perdido joazeiro coqueirinho nas mallarmargens da br já fui do breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido na paulista

 roubei poemas do piva para vender nas lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta da língua da memória quando  criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde 

                                      *

 no porão da casa onde aprendi a enxergar   clara/luz na escuridão quando   seus olhos de vidro   viraram espelhos para os meus numa madrugada  27 agosto  1948 datas também me acompanham desde que vi o primeiro clarão diurno quando o trem passou para dores de macabu  quando estive na bolívia senti o cheiro de corumbá ali de perto em assunção do paraguai porto viejo canavarro o barro vermelho no carnaval pelas fronteiras cerveja com caldo de piranha  a dona de um bordel no pantanal chamava os jacarés com nomes de jogadores de futebol quando perdi o avião pra boa vista

*

tem noites que a lua cheia me chega com sangue entre os dentes com aquele gosto de veneno escorrido das serpentes tem dias que as serpentes me chegam com gosto de lua cheia

                                 *

 a mulher dos sonhos me deixou de quatro a ver navios com pavio aceso essa palavra incendeia os poros pelos orifícios esse meu ofício de perfurar na carne o que não cabe in-verso nem por um segundo nem por um milímetro nesse acampamento logo depois da febre como marimbondo provo o teu veneno

                                 *

               quem me vê

assim

tão comportado

não sabe

o que se passa

aqui no centro

 

não sabe do vulcão

em erupção

nesse serTão

do mato dentro

 

a traição das metáforas

para juliana stefani

 

dandara ainda mora naquela beira  de estrada com seu vestido amarelo no rio grande do sul mesmo que não esteja ainda a vejo atravessando a calçada saindo do carro azul abrindo o portão da casa de 7 portas douradas com mil  garrafas de vinho psicografadas na sala por algum poeta dos pampas que escreveu por aquelas rampas o que testemunhou nos vinhedos quando italianos chegaram nas serras dos meus segredos


                         origem

 sou afro-tupi guarani goitacá que subiu o paraíba para o litoral paulista nasci na cacomanga bicho do mato curupira carrapato sou campista não tiro onda de turista sou retalhos imortais do serAfim comigo é assim : nem fiado nem à vista

 

 II

 

áfrica sim minha mãe de sangue cresci mamando do teu leite lambendo o sal da tua carne quente bebendo água suja no tanque sou fel pimenta azeite quem quiser que me aguente eu sou a lama do mangue


     metáforas em linhas curvas

quando manhã canta e não chove lucia me fala das coxas de yve mergulhadas no pontal até a última sílaba do poema letras salgadas de mar embora mesmo que agora chova e a noite seja um relâmpago de estrelas sinto que nos falta um vagalume para alumiar a escuridão tantas vezes lamparina acesa no bar de neivaldo foram lâmpadas florescentes entre olhos famintos de luz no verão de 2010


minha escrita

grita

muitas vezes

invento 

palavras soltas ao vento


a flor dos meus delírios

 

tem cheiro de poesia relâmpagos de iansã incêndio no meio dia netuno em polvorosa me disse em verso e prosa que ela vem com o frescor da maresia e eu serei o seu ogum anjo da guarda e companhia hoje mesmo distante essa preamar me incendeia ondas espumas explodem na areia tempestades trovoadas ventania e nem sei se estando perto                                      calmaria

 

 estação 353

para cecília in memória


eu planto
minha estação existe
a adubagem orgânica está completa
não sou negacionista nem sou triste
sou poeta

irmão das coisas da alegria
eu sinto o gozo no tormento
atravesso noites e dias - invento

eu sei que planto
e o sistema é bruto
mas a terra gira como pomba gira
amora minha eterna namorada
e amanhã eu sei colherei teus frutos
nessa minha estação amada

*

       hoje me surgiu esta ideia:

estava lendo antonio cícero

e antonio carlos secchin

e ai pensei - ler ler ler ler re-ler

não escrever - parece-me brincadeira

aprendizado para vida inteira

do mim dentro de mim

o Eu dentro do Eu

o Não dentro do Sim


metáfora 1

suspenso no ar às vezes penso se devo pensar tanto como um poema de mayakówski ela um dia virá ao meu encontro e ressuscitará o poema que ontem não nasceu a vida não é só flores ela me disse clarice em cada coisa tem o instante em que ela é as vezes também penso ela não virá aí vou para praça jogar milho aos pombos ao jardim zoológico dar comida aos patos os meus sapatos já conhecem os anos de espera na última primavera os lírios não nasceram e as rosas eram só espinhos com minha língua na faca cortei a fala ainda na garganta e fui pra sala afiar o taco ela não sabe que o vinho que guardei pra ela é de      uma safra especial de bacco


hipotemusa

 

a menina da lanchonete hoje rói as unhas de ira pira quando quero  o que ela pensa que é apenas bolero na praça são salvador com esse poema torto que te leva ao desconforto de pensar o que não sinto como ela vive sozinha entre pastéis e empadas sua vida é hora marcada de entrada e de saída não conhece uma outra vida por isso me olha estranha com uma sede faminta de comer meus olhos  com palavras – quando te digo : não minta

 

 

hipotemusa 1

 

a menina da lanchonete

em frente a floricultura

são salvador

mexe na flor dos cabelos

dedos entre pelos

enquanto aguço os olhos

pensando mar de abrolhos

na terceira margem do rio

leio um poema no cio

 grafitado em isopor

 

não sendo assim

    que seja como for


hipotemusa 2

 

ela bagunça meus 7 sentidos

aguça lambuza

planta um punhado de brócolis

no pé do meu ouvido

me dá de beber mastruz com leite

de comer esphirra koreana

lhe chamo de sacana

ela me diz que é bacana

me fazer de pé de moleque

pra lamber meus sustenidos


hipotemusa 3

 

 ela agora usa piercing no nariz

sem medo de ser feliz

joga capoeira no mercado

aprendeu dançar suing

não dá mole pra racista

nem pra patrão

que escraviza empregado

 

  hipotemusa 4

 

essa garota me alucina não sabe ficar quieta com santa teresa no parque das ruínas tem mais de mil desejos um deles é quebrar meus óculos com sua fome de beijos tem mais de mil ofícios um deles é mapear o litoral das minhas costas pelas praias de são francisco essa garota é bárbara afrodite artemanha de iansã me banha com sua língua de vênus as terças-feiras de manhã

 

 hipotemusa 5

 

quero botar no seu orkut um negócio sem vergonha um poema descarado já chegando fevereiro e meu rio de janeiro fica lindo mascarado

 quero botar no seu e-mail um negócio por inteiro eu não sou zeca baleiro pra ficar cantando a mama que ainda tem medo do papa

 meu negócio é só com a mina que me trampa quando trapa meu negócio é só com  a mina que me canta ouvindo                 rappa


hipotemusa 6

 

vou encontrá-la no rio psiu poético sentidos todos plural um tanto cético nessa ponte para o nada - duvido que não exista alguma esperança nos olhos de uma criança disse-me a hipotemusa no amarelinho da lapa antes de atravessarmos para o ccjf com alguma poesia na manga do lado esquerdo do pulso rasgar o verbo da fome e entregar a  cara à tapa


 hipotemusa 7

 

hoje acordei com uma vontade da porra de trepar na goiabeira talvez assim quem sabe ela me chame de jesus e tire ele da cruz

 ou quem sabe bacurau ou quem sabe bacuri para acabar com carkamanos

 ou então até quem sabe ela me chame de exu cabra da peste do nordeste koreano

 

 hipotemusa 8

 

pode ser que ela nem saiba o quanto o tanto o torto pode ser que ela me queira bem debaixo do vestido e me chegue como sempre me rasgando a roupa me lambendo a boca sem vergonha alguma e me pegue bem assim descabelado displicente distraído pra querer mais uma poesia pra entortar 7 sentidos

 

 hipotemusa 9

 

ela me deu um beijo na boca e me disse carne seca me interessa assada na brasa como sua língua quente salivando entre meus dentes enquanto conto peixinhos na baia da guanabara na hora do gozo pode cuspir na minha cara essa gosma de lesma na calçada pedra faca trinca ferro na janela casa mal assombrada cosme velho coisinha de sal e o bruxo          ainda escreve dentro dela 


hipotemusa 10

 

quando alvoroçar os teus cabelos

quero outras coisas alvoroçadas

poros pelos entradas

 

maria padilha

pomba gira cigana

presente na trilha

de qualquer oxossi caçador

 

beatriz sua filha de santo

foi quem vi no espelho

da minha mesa de búzios

quando joguei para xangô


hipotemusa 11

 

fulinaimânica sagarânica

fulinaímica sagarínica

algumas vezes muito prosa

tantas vezes muito cínica


 hipotemusa 12

 

foi em são carlos a última vez que fui encontrei alzira pira da pira de piracicaba incendiou minha carne devorou meu esqueleto o lance só acaba quando mergulhamos em são josé do rio preto era uma japinha que conheci em batatais depois da prova dos 9 deu adeus e nunca mais 


hipotemusa 13 

 

como ninfa estrangeira ontem me veio envolta de plumas em estado de poesia na baia da guanabara estudava antropologia pelas marinas do rio no sexo sempre quentinha feito uma gata selvagem gozando a vida no cio vestida em pele de algas despida nos desvarios lambeu o mel entre as coxas    desapareceu no navio


hipotemusa 14 

 

nem bem havia anoitecido no parque das ruínas teus olhos de lamparina tocaram a pedra do reino nas águas da guanabara coisa rara aquele peixe brilhante dentro daquela boca com seios de primavera e vinhos da santa ceia em tua língua muito louca

 

 jura secreta 101


as orquídeas ainda são azuis
girassóis relâmpagos na chuva
na surpresa dentro a tempestade
dessa manhã que finda
pimenta tua boca em chamas
incendeia meus lençóis profana
essa linguagem como arco-íris
como fosse pulsação que arde
nas entranhas dessa luz de fogo
nos meus dentes mastigando a tarde

*

todo dia que não amanhece

anoitece

quem nunca leu sagaranagens

não pode dizer que me conhece

                            *

hoje na michigan vi o cara de bunda pra lua tirando cocô de cachorro na calçada torta tonto na califórnia cachorros moram em apartamentos bem diferente lá no engenho de dentro os cães uivam na ferrovia não são lobos mas parecia o outro cara dando marretadas na laje na esquina da santo amaro estação corpo belo universo paralelo vida louca vida Irina sorria enquanto beijava o sorvete trepada na padaria na outra esquina do dia rúbia querubim quase entuba enquanto volto pra munduba setenta e um guiado por federika a flor delírio de oxum


anjo torto

 

quando nasci torquato neto

veio ler a minha mão

tinha chegado de teresina

com uma garrafa de cajuína

e um livro na outra mão

e eis o que o anjo me disse

apertando a minha mão  

com um poema entre os dentes

:

vá bicho!

não tenha medo do inferno

seja um poeta moderno

cheire as flores do mal

que a poesia de Baudelaire

vai te salvar no final

*

minha irina toda via

é travessa e atravessada

em transversas travessias

trepa sempre nas esquinas

contra o poder da tirania

*

no princípio era fábula depois veio o verbo logo depois a ficção e aí começou a invenção bem depois das sagaranagens antes fulinaimargens depois das fulinaimânicas atrás das fulinaímicas nem circo nem tarde de mímica apenas alguma paisagem na janela da viagem quando lia o lado b         me transmutando em alquimia

*

a selva de concreto fala pelos seus poros ela veio de outra mata virgem agora devorada pelos dentes da cidade irina evapora não chora mamãe não chora a vida é assim mesmo inda não fui embora


onde tudo é carnaval

minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao lado do colégio estadual nilo peçanha primeiro endereço que conheci nesta cidade antes de estudar no grupo escolar xv de novembro de onde muitas vezes assisti desfilar a mocidade louca ao lado do meu padrinho benedito que inventou deixa que eu chuto meu guardião absoluto

*

 entre muros e paredes do presídio federal de brazilírica macabea foi jantada pelo pastor de andrade no carnaval da mocidade tem memórias por lá adormecidas que ninguém ousa contar a hipocrisia  varreu daquele território a rebeldia marca registrada de um tempo que não podemos apagar trago nas nervuras entre a   carne e os ossos marcas de explosões da caldeira na tipografia das letras onde tentaram me domesticar

 

mas sou vampiro goytacá

          endiabrado serAfim

    sou canibal tupiniquim

 

meus 7 sentidos

 

fulinaíma me veio no vento um instrumento invento para acrescentar a minha escrita para escancarar a minha fala percorria a   bandeirantes quando me dirigia para campinas com oficina de artifícios e não sei em que ofício a pedra do rock rola a pedra do vento voa depois de um instante qualquer que seja o estalo nos meus 7 sentidos já perdi a conta do tanto faz então pra mim tanto fez o faz de contas que me quiseram impor sem ao menos saber se quero o tempo ajusto as pedras que rolam meu calcanhar é testemunha em toda veracidade verdade deve ser dita em qualquer tralha da cidade porque bem sei por quantas trilhas já trilhei para chegar até aqui

*

afora em mim grafitemas  nenhuma figuralidade  frutas legumes verduras quem cala a fala consente  houve um tempo que a dita/dura  calou a fala da gente grafito em tua carne de pedra  medusa de sete patas  poema de sete cabeças  miragens do amor que enlouqueça  apóstolos na santa ceia  miró brincando de circo  com os olhos na lua cheia


jura secreta 102

 

a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta
a ninfa que me ímã quando arquiteta
o salto da abelha quando mel em flor
pulsa pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que te veste é nada
éter pluma seda pelo
quando custa estar em arcozelo
desatar a lã dos fios do novelo
no sol de amsterdã desvendar hollandas
e os mistérios da palavra por entre o nó dos  cotovelos


meus dedos esticados
como cordas de pianos
roçam teus olhos azuis
eu tenho planos
de te tocar com blues

 

o poeta é um fingidor

chove aqui dentro
mais do que lá fora
eu tenho pressa
de olhar teus olhos
nesse mar de angra
o pau brasil ainda sangra

enquanto isso
ela passeia no egito
entre templos sagrados
dessas múmias quânticas

me perdoa
o poeta é um fingidor
mas eu não sou fernando pessoa

qual lamparina me ilumina
e por onde andará macunaíma?

*

sombras na parede as vezes me invocam falas delírios outros nem precisa tapa na pantera muitas vezes uma doze de conhac basta como quando editávamos o curta tropicalirismo jiddu me colocou na mala da fama foquei lá e até hoje não achei outro endereço minha cama tem colchão de palha e a tua tem lençóis que não conheço

quem diria

filho de lavrador

e mãe analfabeta

um dia no brasil

ser chamado de poeta 

 

ainda existe uma mulher

que me lança chamas
que me distorce o crâneo
me disseca e me atraca
quando chego ao cais

com esse barco em movimento
essa carcaça de lâminas e ossos
uma mulher que me estica o plumo

e me satisfaz

me enrola em desenredos
e me deixa arame farpado
a ponto de me sangrar os dedos


vampiro lobisomem

 

tenho frequentado os telhados junto aos fantasmas da planície visitando os territórios lamacentos da cidade em cambaíba por exemplo espreito os fornos crematórios de um passado inda recente voltei aos braços dos desamparados indigentes da contra mão os que foram trucidados por gritarem contra ditadura e escravidão

*

do som dessa palavra

nasce uma outra palavra

fulinaimicamente

no improviso do repente

do som dessa palavra

nasce uma outra palavra

fulinaimicamente

*

muitas vezes

 descrevo minha musa

num poema menos lírico

mais intenso

mais irônico menos penso

muitas vezes 

 quero estar em  alfa

mas estando  em beta

a massa do abstrato

na argamassa do concreto

minha musa é linha curva

não  poema em linha reta


teatro do absurdo

no próximo dia seis vou me despir de vez rasgar os p(l)anos no próximo dia seis no parque desengano plantar amoras pedra bonita – metáforas para os olhos de quem não vê isa bela acha bonito tudo aquilo que não falo no próximo dia seis desmontar o circo no universo paralelo montar pirandello beckett  ionesco artaud fernando arrabal no próximo dia seis vou me despir pro carnaval


resumo

 

ela tinha as mãos tão suaves que tocavam-se como quem tem a pele sob a chuva de setembro eu procurava colher maçãs no horto de santa maria madalena olhava a montanha e lembrava-me de selvagem que fui aos olhos dela enquanto ainda vivia na tapera o meu cavalo deixava na porta da cidade escrevi sobre isso no poema quando o tempo rasgou meu corpo na calçada e trouxe-me folhas de papel em branco.


Itabapoana Pedra Que Voa

dia desses sonhei com alquimia
ciência da transformação
na prova dos nove é alegria
o coração da pedra vira pássaro
         e voa para outra dimensão


*

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Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

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