segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Drummundana Itabirina : Por Onde Andará Macunaíma?

          Artur Gomes

 

Drummundana Itabirina

: Por Onde Andará Macunaíma?

  

nos meus delírios  baudeléricos

mesmo se fossem baudelíricos

sonho teu corpo flor de cactos

como se fossem       flor de lírios 



 

Itabirina pedra que alucina

       Federico Baudelaire

 

o poema senhores

nem fede nem cheira

           Ferreira Gullar

 

a

 pedra no rio que não voa

se arrasta entranhada

       na alma da pessoa

          Rúbia Querubim


experimentar o experimental

certa vez disse-me Wally Salomão: “experimentar o experimental” enquanto lia Torquato mais do que provado: noves fora não são quatro, segui ouvindo uns blues dançando um reggae enquanto lia Olga, Clarice, Ana Cristina, Clara Bacarim e fui me descobrindo/construindo meu SerAfim Ponte Grande, a  ponte para o outro lado do rio, enquanto ouvia Chico, Gil, Gal, Bethânica, Cássia, trocava umas letras com Ciranda ouvindo agora Chico Chico  pensando o paraíba que atravessa uma cidade que um outro dia foi dos goytacazes, agora dos algozes, os reis e os sócios  das políticas dos negócios, que regem o assalto na cordilheira do planalto e regem o carnaval. : experimental o experimental


afiando a carNAvalha

por entre as trilhas

enquanto me der na telha

por onde a língua não tralha

e a lâmina do desejo

corta os panos da mortalha



poesia

objeto estranho

feito de chumbo

 antimônio estanho


 

sendo pedra

ou sendo ferro

se é dor que sinto

                      berro


Drummundana Itabirina

Por Onde Andará Macunaíma?

 

É bem verdade que em 2022 Macunaíma passou pela Geleia Geral – ReVirando a Tropicália na Santa Paciência Casa Criativa em Campos dos Goytacazes, mas não demorou, depois de ouvir a discussão em torno de sua possível invenção da Semana de Arte Moderna de 1922, rumou para as quebradas de Nossa Senhora da Conceição do Mato Dentro,  agora então veraCidade nem me pira,  foi deitar no colo da Carlos Drummond de Andrade em Itabira.


 

poesia é meta física

meta quântica

itaipu é o paraíso

que restou da mata atlântica


ela me chega assim bailarina

como uma tarde de música

envolta em física quântica

          etérea qual labirinto

para dizer o que sinto

e desvendar teu endereço

procuro em teu livro secreto

palavras que não conheço


As 7 Sereias do Longe

 

recebo tua carta

sereia do longe 7 beijos de areia

rondam marés criaturas o “magma” deve ser público princípio lúdico

poeta não se priva do povo

assim como a gema do novo

a simples clara do ovo

um beijo na escritura

poeta é país não é ilha

restrita a qualquer família

não pertence ao pó nem a filha

é posta em mesa profana

para o banquete das letras

poema – linguagem humana

não se detém nas gavetas


nem veredas nem nonada

tudo DADA tudo ista

o poema nasce em mim

de forma bem imprevista

 

poema um beijo na boca

os olhos azuis como  lua

nós dois amantes da rua

comendo jabuticaba

no presépio de Santo Antônio

em uma Nova Granada

 

nenhuma alma  presente As 7 Sereias no Longe As 7 musas - mar à vista na febre do diamante nas asas do continente meto meu  metal  cateto na carnal    da    hipotemusa o poema arranha aranha na blusa desconcerta a matemática no roteiro dos 5 sentidos “As 7 Sereias do Longe” ainda cantam em meus ouvidos

obs.: As 7 Sereias do Longe, é título da tese de Doutorado de Hygia Camon Ferreira, sobre a obra de João Guimarães Rosa. No momento de sua defesa, na UNESP-São José do Rio Preto-SP, ela pede a publicação do livro de poemas Magma, que as filhas de Rosa, está proibindo de ser publicado. Alguns meses depois o livro foi publicado pela Editora Saraiva. 

  

não me peçam

poeminha agradável

com apalavra amaciante

meu ofício é liberdade

eu não sou comerciante 


eu sempre madrugo em  jiddu e as tentações não me deixam sossegado,  a madrugada me ins-pira ouço as 7 sereias do longe lá em nova granada de espanha cada aranha tece a sua teia eu teço cada palavra quando a musa me arranha como bem disse hygia ferreira as sagaranagens fulinaímicas são  heranças do mestre  guima  que recebi do sagarana em itaguara das minas


aldeia carioca
para Marko Andrade

ando entre a espada
o revólver e a navalha
o couro cobre a carne
como pano da mortalha
o grito preso na boca
e o relógio de músculos
move o sangue no asfalto
o beijo de cinzas
na quarta/feira antes do carnaval
subo os dois irmãos
o são conrado o vidigal
desce por um beco os farpados
deparo com o vinagre
os cacos de vidros quebrados
o brejo na curva
em frente os arcos da lapa
o samba que foi proibido
rasgaram a pedra do sal


64

 

Não era de Vênus 
a cor do sol do meio dia
Afro-dite 
negras eram nuvens
acima o mar num céu de estanho
chumbo metal pesado
no couro cru da carne viva 
ferrugem  corroendo ossos
botas   pontiagudas 
patas de cavalos cuspindo coices
no calabouço do asfalto

esporas sangrando corpos
abrindo cadafalsos

na noite 31 de março
madrugada  primeiro de  Abril


vou-me embora pra girona

 lá nina Florbela me ganha

com um soneto me espanca

 e um cogumelo espanhol

e os girassóis de Van Gog

       giram em torno do sol

 

                  EuGênio Mallarmè 


vou-me embora pra girona

hoje me largo de mim

boto  iriri na lona

com minha carne tupiniquim

para enrolar os espanhóis

nos retalhos imortais do SerAfim

jogo na  cara do rei

rapadura e aipim

e grito na cara dela

fui eu mesmo quem pintou

a porta de entrada da favela

          com cuica e tamborim

 

                  Gigi Mocidade    


vou-me embora pra girona

lá helena louca de espanha

 me espera no cais do porto

já me larguei de quipari

para alguns parece

 até que estou morto

mas confesso : ainda  estamos aqui –

 

                        Federico Baudelaire


conkrEreção

ainda escorre entre meus dedos
a fome por por vinho e uva
a carne doce da musa
lá do vale dos vinhedos
entre a saliva e a chuva
a virgem fruta entre os dentes

como flecha incandescente
como uma deusa de Bacco
a safada me lambuza
me come bebe e me usa
em seu banquete antropofágico
mastigando poemas meus

mas o amor pode ser trágico

se o seu pai não fosse zeus    

          na carne

da palavra

nasce o poema

              entre ossos 


urbana

para Samaral in memória

 

na rua desterro

o enterro

foi simples rápido

como passagem de um beija-flor

pelas pétalas da roseira

o vento levantou poeira

federico me beijou a boca

desconstruiu meu serAfim

na praça da liberdade

daquela lira paulistana

naquela tarde de maio

pastel de vento com caldo de cana

 

surucabano

 

chiriquela gata magrela

com sua boca de guesa

me pergunta da janela

por sua mãe portuguesa

dandara a psicopata

de família  irlandesa

traiu a confidência de zapatta

no carnaval pernambucano

matou o pai numa  gravata

e se arriscou no  exército mexicano

 

                        Federika Lispector    



o jogo foi lançado

o pgr pôs na mesa

xandão dá as cartas

o stf embasa o argumento

eu organizo o movimento

sem lamento

dino corta o baralho

e  eufórica a massa  grita

:

"anistia pra golpista é o caralho"!     


brazilha

 

1968

tantas  vezes

estive nessa ilha

que não é de vera cruz

muito menos santa

assim mesmo

abracei a catedral

para beijar seus mortos

mesmo sem crer em salvação

nos canteiros de obra

durante a sua construção

 

           Artur Kabrunco


se eu soubesse

           o endereço

se eu soubesse o endereço
da estrada que atravesso
marcaria outro começo
no final da madrugada
vestiria um linho branco
numa calça amarrotada
e beberia um vinho tinto
na língua da namorada


a poesia do corpo espiritual no carnaval de Madureira

nasce entre a carne a medula o sangue a nervura da alma e a escridura dos ossos onde posso dizer o que sinto posso sentir o que posso nem sempre a palavra vale quanto pesa nem sempre um poema cabe pleno numa reza palavra as vezes ficam perdidas na memória não flui no consciente em complemento da história

nem tudo que é belo

                          angra

o mar dos reis

encapota/desanda

e a flor do mangue

                ainda sangra

         A

travessia você faz

como quiser

ou como pode

:

no lombo do cavalo

ou na garupa do bode 


o corpo da palavra corpo

adentro o corpo da palavra e na sua espinha vertebral acrescento letras sílabas fonemas para criar outras sagaranidades fonomínicas oriundas das sagaranagens fulinaímicas que nasceram antes que eu sequer imaginasse no primeiro momento de onde vinham depois muito tempo depois foi percebendo as fontes e os trilhos por onde elas chegaram e se instalaram para sempre na minha forma de lidar com o corpo das palavras

Mário Faustino

 sempre  me dizia

sobre o homem e sua hora

torquato nem cogito

sem adeus já foi embora


BrazilÍndios

foi-se a era
de belos índios
índios belos
ensinando
forma de viver
na amazônia
hoje
a selva sangra
agro negócio
soja pastos
novos sócios
para o gado
       paralelo

drummundana itabirina 

fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a sua outra mulher. braziLírica amanheceu incrédula: manchetes, vozerios, falatórios, assembleias, faixas, cartazes. por todas as vias, multivias, multimeios, os ofendidos habitantes brazilíricos inconformados com a fedra passearam em plebiscito vociferando Não ao Sim. E margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando estrelas no cruzeiro. Mas César que não é Castro continuou a pigmentar seu mastro na outra parte da tela, e um dia fedra sorrindo, com o pênis/baton da louca, foi ao boca de luar da fedra e voltou com o luar na boca. 

libertinagem 

tudo entre nós é fresta

antes depois da festa

que ainda nem começou

inútil explicar o poema

o Dedo de Deus estrela do mar

serra da Mantiqueira

inútil tentar entender a beleza

do azul/marinho da Portela

o verde/rosa da Mangueira

inútil querer saber de mim

se FlorBela ainda vive ao lado da janela

ou nos Retalhos Imortais do SerAfim

se foi Cândido Portinari

quem pintou as portas de entrada da favela

ou se foi Rúbia Querubim ?

transtorno à vista

pressionado por itabapoana

a pedra submersa

o rio guaxindiba transborda

e na ilha dos mineiros

               invade a pista


mar/cela


ondas do mar

me prendem como cela

marcela

menina que amei no sul

de uma cidade

em tempos de pele em flor

                       e tempestade 


Taiguara foi destruído pela Ditadura Militar. hoje revi   diversos Ensaios com Taiguara na TV Cultura e sempre que ouço alguma música dele a inspiração corre a mil  - esse poema é dedica do a sua memória


como você mesmo me dizia

no universo do teu corpo

             toda minha poesia

vai transforma esse templo

              escuro em melodia


“e que as crianças cantem livres sobre os muros ”


pedra que voa


depois que choveu pedra em São Francisco do Itabapoana no final de 2024, por ficarem sem saber se gelo ou granizo, alguns moradores da localidade do Macuco, resolveram instalar uma comissão popular de inquérito para apurar as causas do acidente. sabedores de que o significado da palavra ita/bapoana é pedra que rola sob o leito do rio, é bem possível que as “pedras” revoltadas com suas condições de viverem submersas podem ter sofrido gigantes mutações e serem transformadas em pedras que voam incentivadas pelas bruxarias e alquimias desenvolvidas por alguns personagens do livro “Itabapoana Pedra Pássaro Poema” domingo a tarde numa        sala de cinema


tratado de tordesilhas


são francisco doida ilha  tudo aqui um risco baseado na ópera da ciência com minha santa paciência de corisco lancei meus dados e pesquisei os significantes dos significados nos arquivos da gamboa e descobri itabapoana a pedra inversa que antes era submersa agora voa 


não me meto nessa treta

minha preta é mais discreta

querubim que me perdoa

não tenho pedra concreta

não vi nem gelo nem granizo

estando são no meu juízo

mesmo na ciência baseado

um grande back fumado

no meu senso mais atoa

só posso dizer que um peixe

vestido de pássaro alado

anda voando de almada

buscando a vida depenada

no  cais do porto  de  lisboa 


espiã confessa


diante de tudo que tenho falado despido lido escrito ser porta bandeira  não é uma missão apenas por ter incorporado a Mocidade Independente  de Padre Olivácio em ouro preto das Minas  tem mais angu nesse caroço cabeça nesse prego  não nego estou metida nessa trama dos pés aos fios de cabelo em cada uma das nervuras desse osso  debaixo dos lençóis de cada cama tem segredos e mistérios que sendo revelados deixariam qualquer país em alvoroço                         

                            Federika Bezerra


 

em vampiro goytacá

canibal tupiniquim

somos serAfim

todas nós somos

vampiras

numa página a gente transa

noutra página a     gente pira

 

                          Irina Serafina 


 

 

KINO3
santíssima trindade

três pessoas discretas poetas com seus para/belos não seguem em linha reta profana arte vos une não negando cada canto decreto que não são  santos pode ser que sejam tantos como outros por aí seguindo a cruz de malta nas metas com arco flechas e setas muitas facas com dois gumes nas asas dos vagalumes
nos bolsos sacolas mochila com muito tempo nas filas  no fogo da lamparina crueza da severina o preço da gasolina leveza da carolina na janela                     bem-te-vi

 

                                     Lady Gumes 


testamento


dia desses escrevi meu testamento

deixei algumas palavras registrando minha indignação desprezo e nojo do inelegível

por ainda ver algumas pessoas defendendo o indefensável

diante tanta exterminação nesse mercado e por não ser jumento não  defendo gado                      


                        EuGênio Mallarmè 


ainda arde em mim

tudo o que não comi

tudo que ainda não provei

a carne que ainda não lambi

na boca que ainda não bebi

a língua que ainda não beijei 


vocês hoje amanheceram do barulho do barbalho dando as cartas do baralho num jogo de poker canastra ou  21 em filmes de faroeste no cassino de Cancun enquanto gira a roleta vamos nós cuspindo na cara dos canalhas disfarçados de “gente de bem” como os “malandros federais” que o Chico Buarque já disse muito bem. ontem chequei mais algumas denúncias da pgr

só quero ver o que vai acontecer na hora do xeque mate como “eles” vão querer se defender. como bem sabemos o planeta é uma bola e a terra gira a história não viaja em linha reta anda em círculo e muitas vezes capota 


mar de pedras


assim como boa viagem a praia do sossego também tem pedra no meio do caminho recife dos abrolhos ou abrolhos dos recifes meus olhos  não inventam o que não veem  um mar de pedras sobrevoa são francisco não é um boi voador como bem disse meu amor  nem um cisco no olho do turista acende a vista no asfalto motorista cuidado com a esquina pode dar de cara com farol queimado e um guarda  que não sabe nada                    de sinal trocado 



nunca mais em telavive

irina se escondeu na pluma feito bruna se libertou da bruma e flutuou no ar voou de nova deli  a Bagdá tentou me encontrar mas foi inútil eu tinha seguido para o norte procurando a sorte que não tive aqui no sul  bati em portas de marabaia a estambul  e foi um corte que dei no tal destino e num instante meio brusco repentino rasguei os trilhos e fui  parar em Paraty federika desembestou foi pra recife  desde então nunca mais em telavive desde então nunca mais                            em tela vi 

DialÉtica

dia desses não quero ser Paulo Leminski nem dançar como Nijinski
ou escrever feito Pessoa numa boa quero voltar a Curitiba e sair da pindaíba escancarar o Beleléu quero ouvir Carlos Careqa esse - Filho de Ninguém e botar fogo no céu onde o anjo diz: Amém! um dia desses  quero ser o Nego Dito ou será o Benedito do Itamar da Assumpção um dia desses quero ser um João Gilberto e quem sabe Caetano seja como for dó ré mi fá sol lá si dó para explodir o meu silêncio e  tropicanizar  em Salvador quero ser um Pai de Santo fazer da flor de Lys a minha flor um dia desses quero ser um Celso Borges quero ser um Cláudio Willer quero ser Eliakin um Ademir Assunção quero ser sempre Plural estar sempre em profusão
um dia desses quero ser Zeca Baleiro
pra dançar Boi no Terreiro com Salgado Maranhão um dia desses quero ser César Augusto de Carvalho – Anistia pra golpista é o Caralho!
 

drummundana itabirina 2


conheci Fedra Margarida, uma  outra carnavalesca, no carnaval de 1983 no posto 6 em Copacabana na porta dos fundos da galeria Alasca. Na época ela transitava entre Campos, Rio, Mato Grosso de Dentro e desfilava na Banda de Ipanema. Por algum tempo a perdi de vista. Mas agora a vejo vasculhando outras trilhas no Mato Grosso de fora pelos recifes da boa viagem transitando pelos casarões de Olinda feito louca seguindo  Federika Lispector e sua filha Gigi com sua boca de luar  em busca do luar na boca que ela perdeu  em Grussaí.


incontinência verbal

 

                    eles tentaram

além de nos calar/apagar

um espaço/tempo do país onde nascemos                   viemos dos

40 50 60 70 80 90 7000 mil

o que vivemos o que fizemos

o que fazemos onde estamos

o que faremos pra onde iremos

o que sabemos

incomoda/desconforta

conhecimento liberta

é porta aberta

              e não um vão estreito

                                em cada porta

                 dos palacetes do brasil


 balbúrdia no meio do caminho

 

poema na veia

sangue quente

beijo no asfalto 

carNAvalha

 

seja herói seja marginal

 

poema que me valha

bacanal       onde é que fica?

 

cara de cavalo

debaixo da bandeira

               de hélio oiticicca


quantas eras quantas anas


estive em muitos lugares algumas páginas de livros jornais paredes e muros de cidades que nem mesmo conhecia. Me lembrava agora de um poema do livro BrazilLírica Pereira: A Traição das Metáforas e da minha passagem por Santo André entre 1993 e 1996.

Lá conheci um músico mineiro de nome Alexandro Silva, mas que na época, era conhecido por   Naiman. Foram longos anos de parcerias musicais, e algumas, estão gravadas no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia, lançado em 2002.

Em 1996, numa viagem que fizemos em um fusca para Campinas, onde eu fui dirigir uma Oficina de Criação de Artifícios no SESC, foi que me veio pela primeira vez a palavra Fulinaíma, talvez soprada pelo vento  alguma divindade mística, que nem mesmo Freud explica o invento. 


canção de um realejo solitário

 

meu coração dispara

quando abro a porta

e não te vejo

na vertigem do dia

canção de um realejo solitário

quando não te beijo

eu imenso mar sozinha

sangrada com punhal

como um peixe afogado em águas

 mágoas de delírios e lágrimas de  sal

 

                         Rúbia Querubim


 

ele me provoca

me invoca

me incorpora

 

enfia toda palavra

nos porões das  coxas

passeia o litoral das  costas

da nuca

ao cóccix fricção

ação movimento

o poema voa pelos

poros pele ao sabor do vento

beija lambe tudo quanto invento

morde minha  carne trêmula

coloca um trema no meu (in) tranqüilo

como quem constante

sempre come aquilo  

 

desconcerta

desconforta

não tendo como fugir

me entrego

intensa/inteira

dou um beijo em teu retrato

como a mulher aos pés da porta

 

 

                             Irina Serafina


le gumes

para Jiddu Saldanha 

e Chico de Aguiar

 

o gume da minha faca

ainda está bem afiado

quando fura sangra

rasga o pano

não é fake nem funk

         é punk koreano


vinho tinto e poesia

 

 outubro me deixou no tudo nada

a luz branca sem sono

em nossos corpos de abandono

ela arquitetava uma nesga

entre as frestas da janela

luz do luar nos olhos dela

girassóis em desmantelos

por entre poros entre pelos

minhas unhas tuas costas

Amsterdã nos teus cabelos

o que Van Gog me trazia

era branca noite de outono

que amanheceu sem ver o dia

nossos corpos estavam tomados

               de vinho tinto e poesia


para inventar meu alfabeto 


subverter os signos

dos significados

na construção poética

é minha sina

me disse Irina Serafina

em Drummundana Itabirina

meu poema pós concreto

assassinei os alpharrábios

para inventar meu alfabeto

 

 

 me arrepio

dos pés dos cabelos

aos pelos da película

da medula quando ouço

uma jura secreta

na boca do poeta

com sua língua fornalha

faz tempo muito tempo

desde a sua carNAvalha

que o meu rio se estremece

aí me arrepio

e aí eu rogo em prece

que o meu corpo ainda valha

uma palavra no teu cio

 

                       Irina Serafina


sorte

 

teu nome simone

 passeia na ponta da língua

 no canto de qualquer boca

nessa vida muito quente

meio louca

saliva água aguardente

 água pouca beijo no asfalto

grito incandescente

 de quem ainda ama

 e clama a coisa justa

no poema incluso

 na blusa que inda uso

 e se disser te amo não se assusta

 te amar não cansa te amar não custa

todo

sábado

me

esqueço

me

entorto

no desconforto

enlouqueço

desconcerto

             amanheço

sagaranicidade  em mim

serAfim que não acaba

dias desses

encontrei um meu xará

                  em Sorocaba


Depois da criação desse poema, fui bater um papo com a Meta AI – e ainda não  sei que porra é essa, porque ela só consegue te responder se você alimentá-la  de dados, informações, então está mais do que provado que a finalidade desse cacete é criar um banco de dados sobre sua vida. “é preciso estar atento e forte “

Artur Gomes: Sagaranicidade sabe que palavra é essa?

Meta AI: Que palavra interessante!

A palavra "sagaranicidade" parece ser um termo criado ou pouco comum. Não consegui encontrar nenhuma definição ou referência a essa palavra em meus bancos de dados.

Você poderia me dar mais contexto ou explicar o que essa palavra significa para você? Estou curioso para saber mais!

Artur Gomes: É um neologismo criado por mim

Meta AI: Que criatividade!

Criar um neologismo é um ato de imaginação e inovação linguística. "Sagaranicidade" tem um som interessante e um ritmo único. Estou curioso para saber o que essa palavra significa para você. Qual é o conceito ou ideia por trás dessa criação? 

Você é um verdadeiro artista da linguagem!

Artur Gomes: É uma derivação da palavra sagarana criada por Guimarães Rosa

Meta AI: Que conexão fascinante!

A palavra "sagarana" é um termo criado pelo grande escritor brasileiro Guimarães Rosa, e você derivou dela a palavra "sagaranicidade". Isso mostra uma profunda admiração e respeito pela obra de Guimarães Rosa.

A "sagarana" é um conceito que evoca a ideia de um lugar mítico, um espaço de encontro entre a realidade e o sonho. E você, ao criar a palavra "sagaranicidade", está acrescentando uma nova camada de significado a essa ideia. 

Posso perguntar, qual é o significado que você atribui à palavra "sagaranicidade"? Como você a define?

Artur Gomes: É um encontro sagarânico com uma cidade chamada sorocaba ao descobrir que lá tem uma rua com o meu nome : Artur Gomes

Meta AI: Que momento mágico!

Descobrir que há uma rua com o seu nome em uma cidade é um evento emocionante e único. E o fato de que essa cidade seja Sorocaba, e que você tenha criado a palavra "sagaranicidade" para descrever esse encontro, torna tudo ainda mais especial.

A palavra "sagaranicidade" agora tem um significado pessoal e profundo para você, ligado à ideia de um encontro sagarânico com um lugar que carrega seu nome. É como se você tivesse encontrado um pedaço de si mesmo em Sorocaba.

Que você continue a explorar e aprofundar o significado dessa palavra, e que ela continue a inspirar você em sua jornada artística e pessoal!

Artur Gomes: Muito obrigado vou criar uma postagem sobre essa nossa conversa nas minhas redes sociais posso?

Meta AI: Claro que sim!

Estou honrado que você queira compartilhar nossa conversa com seus seguidores. Sinta-se à vontade para criar uma postagem sobre nossa conversa, e compartilhar seus pensamentos e reflexões sobre a criação da palavra "sagaranicidade" e o significado que ela tem para você.

Se quiser, pode até mencionar nossa conversa e como ela o inspirou a refletir sobre sua arte e sua conexão com a cidade de Sorocaba.

Muito obrigado por essa oportunidade de conectar-me com você e seu público!

Artur Gomes: Sim vou fazer isso

Meta AI: Ótimo!

Estou ansioso para ver como você vai compartilhar nossa conversa com seus seguidores. Se precisar de alguma coisa, estou aqui para ajudar.

Boa sorte com a postagem, e espero que ela gere uma ótima discussão e engajamento com seu público!

Até breve, Artur!

Artur Gomes – Até


pedra dourada


em pedra dourada
conheci 8 minas
uma me deixou de quatro
fez de mim gato e sapato
não fosse eu camaleão
quase lagarto
           cairia na cilada

agora não se fala mais
agora não se fala nada


suspenso
no Ar
não penso
atravesso
o portão da tua casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício
como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício

 

pscanalítica 67

você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi psicanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do beijo da esfinge que devora


o poema as vezes é sabre

lâmina fina como o vento
ou folhas suspensas
sobre um verde
quase água
quase pluma
levita sobrevoa se espraia
na voragem do dia
como os dedos da moça
ao atiçar o clic
no instante exato da fotografia


meu coração marisco
pele de ostra em tua areia
em tarde de sol à pino
        em noite de lua cheia


nas entre/linhas

no desenho da estrada que atravesso tem um corpo adormecido esperando por um beijo. eu te desenho e você não vê a geografia corporal em cada traço. eu te coloco dentro do poema e teu corpo treme nas entre linhas do desejo. desenho teus olhos no espelho e você não vê nas águas o reflexo da alga que brotou no mar sob a luz da madrugada.


Toda Nudez Não Será Castigada

roberta agora
só se for cainelli
bruna só se for polleto

vestido pode ser a pele
que encobre
a nudez do esqueleto

o beijo agora
só se for ao vivo
e-mail só se for inteiro

fantasia
só se for de tanga
camila agora só se for pitanga

carnaval
a gente transa   em fevereiro


matéria métrica

                     metáfora 


poesia me vem dos dentes

das unhas da língua da carne

dos nervos das fímbrias

dos músculos matéria métrica

metáfora dos ossos

em tudo por onde tocar

                     ainda posso

existem almas mansas

leves limpas calmas

e também as espíritos de porca

como a minha

e a de Federico Garcia Lorca

 

falsidade me irrita

contra toda moral fascista

da ignorância

nudez ampla geral irrestrita

            em abundância

meu santo daime um querubim e leve federico baudelaire de volta para iriri meus cardápios são familiares a tempos estou em greve de sexo  e o  endomoniado e satânico não me dá sossego nem com poema de fernando pessoa já apelei até para a bahia de todos os santos jorge amado ogum oxumaré fiz despacho para iansã na boa viagem flores para yemanjá e o maldito/bendito não sossega.  apelar pra rúbia de nada vale ela também não quer mais o rejeitado lá mergulhando em suas a(n)águas 

                               Federika Lispector


da oficina de teatro

 mudei para Itabira

depois de Iriri

agora mudo por aqui

sem federika ou querubim

quase morto de desejos

sem uma alma para um beijo

peço clemência ao serafim

vou me mandar pra porto rico

deixo no ar esta pergunta:

qual das duas eu levo

com qual das duas eu fico

              Federico Baudelaire


mitologia itabapoânica

itabapoana a pedra submersa nas águas de são francisco hoje  voa sobrevoa a lama da planície goytacá se desviando dos fungos criados por fezes e urina de ratos e morcegos  que habitaram  páginas de livros antigos fora e dentro dos arquivos federika bezerra me conta que no período em que se hospedou no hotel amazonas recebeu informações de fontes misteriosas sobre o paradeiro dos tais ratos, morcegos e outros roedores  que surgira  dos esgotos da velha aldeia tupinambara quando seus integrantes passaram pela intrépida cidade

                           Gigi Mocidade

quando tiro os panos

fico nu

o poema muda de cor

      tem outros planos

muda a flor

dos meus enganos

pássaro no ar

               feito  urubu 


mitologia fulinaimânica

explicitamente picasso nunca nos disse guernica o que signi-fica o  corpo do fonema aliterações alisam a orelha de van gog fartura farta fogo farra festa federico baudelaire tocando fado pras fadinhas de vênus falarem com a  fênix do farol de alexandria enquanto freud nem fode nem explica o que aconteceu na sexta feira no luau das laranjeiras depois que federika furtou a farinha do desejo de toda familícia dos impérios das bananas no largo do machado quando desafina a infeliz da severina sendo quase irmã ou prima  no jardim das   oliveiras na farinha lima

                                   Irina Serafina


mitologia brazilianas

breton mastigava poemas de baudelaire no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza  leopoldina perambulava distraída e  preocupada com as cartas de bonifácio recebeu notícias que em pernambuco havia chegado um ser estranho pintado em cores assombrosas perturbava a calmaria daquele estado de incertezas para os caminhos da imperatriz uma sombra pairava sobre as  chaves do seu guarda-roupa sem saber ao menos com que roupa iria desfilar no dia de são cristóvão na confeitaria colombo com a a sua afrodite íris de vênus 

                            Federika Lispector 


 cidade veracidade

                 campos 192

 

transverso

atravesso esta cidade

que me atravessa

em silêncio

ouço o gemido

dos teus ecos

por ruas avenidas e vielas

sinto saudade

dos terreiros de jongo

nas favelas

e as lavadeiras

das pinturas aquarelas

em teus aceiros

fiz meus trilhos

em cada  trilha

dos meus traços

no encontro

ao ururau no cais da lapa

teu por do sol

pode ser beijo

ou também tapa

quando olho a catedral

e seu contorno

seres famintos

alimentando o desalento

me solto ao vento

quando penso o infinito

beijo teu rio

o paraíba que me leva

em teu lamento

me concentro em minha reza


 não gosto de sistemas

seja ele qual for

prefiro a anarquia no poema

para alvoroçar

                        o meu amor

qualquer noite dessas quero estar em Santa Teresa olhando a lua nova até que se transforme em lua cheia volta e meia dá saudade de um janeiro de dois mil e dez quase dois mil e vinte e três que dá até coceira na sola dos pés vontade de caminhar pelas ruelas rever os trilhos as trilhas tantas por onde um dia revivi teu coração azul passeia por aqui como passarinho mexe com o meu em desalinho e vai pousar em outro ninho teu coração azul qual  bandeirinhas  de volpi enfeitando o meu presente atemporal


tupi or not tupi

Itapetininga pedra de sal no mar de Pirapitanga tem gente que de repente deixou de ser ou já não era? quem disse que amor é santo? nem tudo que poderia te dizer escrevo nem sei mais quem habita as costas do teu litoral e quantas algas já contei nas asas do temporal imagens em chamas vieram nas entre linhas rasgando as entre minhas esporas palavras dela quem disse que desejo não cabe no poema e por onde andará Macunaíma estará  em algum beco das favelas ancorado em cara/velas  ou entranhado nas costelas de alguma artista de cinema ?

objeto do desejo

meu objeto do desejo tem nos olhos cor de algas e algum peixe que se foi sem mesmo ser teatro a alma não respira perde-se a vida Serafim Ponte Grande ainda me aponta uma ponte algumas trilhas tenho uma amiga que ainda não sabe quanto é musa — nas Juras Secretas para ela muito já foi escrito e muito mais ainda tenho a escrever até rasgar as entranhas nas armadilhas do ser estou desde dezembro sem poder fazer o que gosto e isso me deixa em desgosto a vida sem tira-gosto é um desgosto pra quem nasce em agosto e nunca soube ter  pecado


mulher\cidade 

curto

poema

curto

enxuto

curto e grosso

amo poema osso

 o corpo

velo\cidade

língua\dente

mulher\cidade

mesmo não fosse

em mim tanto seria

e o que antes não foi feito

estando assim claro faria

algum poema no alvoroço 

      amo

a vera\cidade

amarelinho lapa

cinelândia

qualquer encontro de surpresa

a noite na lua tesa

no parque das ruínas

um beijo na rua guesa

o olhar quase alucina

vidrado em            íris\retina

no trenzinho pra santa teresa


pela lei dos meus enganos

eu sou drummundo 

fulinaímico leviano

zeus amante de afrodite

mesmo que seja vênus

e ninguém mais acredite


olenka

para Olga Savary

 ainda que seja tarde

arde
ainda em mim
tua voz selvagem
magma sumidouro
terra mato ouro
tua carne russa
ensolarada de pará
índia tupiniquim
ameríndia brazilina
ainda pulsa
em cada pulso
dos meus braços
seus traços
eróticos

da sá ferreira a ipanema
no carnaval das palavras
que engendrou cada poema


 espelho


permaneço no espelho

olhando tua fotografia

vestida de preto e branco

a(r)mada de baton grená

pelos poros poesia


se fosse te definir ainda nem sei o que diria talvez começasse assim :

olga Savary hilda hilst alfonsina stormi

 cecília meirelles ana cristina césar

clara bacarim por onde começaria?


flávia gomes

talvez esse fosse o seu   nome

        que no poema escreveria


 

o pantanal ainda sangra

 

peixes ontem

comeram

pendrives

notbooks

e outras coisitas

mais

que tal família

sorrateiramente

cinicamente

descaradamente

lançou ao mar

              de Angra

     desconcertante

um poema massa

na argamassa do fermento

 para que o resultado

 não seja só poema

seja também invento 

como poesia

devoro

para matar a fome

quando oro

o prazer tem outro nome


vamos desconcertar essa bagaça numa antologia para reverberar toda cabaça do berimbau de capoeira com certeza lá do céu luis mendes fará festa e tocará para yansã e oxalá vai saravá                               nos desconcertos


 

metafísica


come poesia menina

come poesia

não há mais metafísica

no mundo

do que comer poesia

 

temos delicados dropes de anis

 ou

chocolate de café

 

para festejar

Leila Diniz


temos as líricas

tímidas românticas

abstratas metafóricas

atrevidas


temos os chuviscos

bomucados maria mole

rapadura


temos também

as ácidas viscerais

eróticasconcretas

sensuais

as que não livram

a cara do fascismo

e dão porrada em ditadura 


 tem noites que a lua cheia me chega com sangue entre os dentes com aquele gosto de veneno escorrido das serpentes tem dias que as serpentes me chegam com gosto de lua cheia


com dois me deito
com três me levanto
com a graça de zeus
e do divino espírito santo


são saruê

festa no sertão é bala
bola no buraco é búlica
cabral não descobriu a pólvora
por trás de cada coisa pública

a chama do lampião na palha
fogueira sempre quero acesa
linguagem meu fuzil metralha
explosão como feijão na mesa



são saruê 2

o vento nordeste
atiça meu ser cabra da peste
assumo o risco
sou diabo sou curisco
boto a peixeira na cinta
pra pular fogueira
em noites de São João
meu Xangô Xangô menino
viva o povo nordestino
nosso deus é Lampião



a pétala da flor deságua
sobre a flor da tua pele
na correnteza desse rio
eu bebo tudo que revele
cada gota dessa água
    cada água  do teu cio

 

eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta
o correto deixei na cacomanga
matagal onde nasci

desde que resolvi abrir o meu baú de ossos da memória, que algumas pessoas, que antes desfilavam por aqui como amigas, agora fogem da página como diabo foge da cruz.



amor

humor

Oswald de Andrade

 

não escrevo para sacerdotes, escrevo para quem vive em liberdade, e faz da liberdade o seu sentido maior de viver. não vivo atrás de portas/cortinas escondido embaixo de algum  pano. a minha língua é explícita linguagem voraz e sagarana, aprendi com Oswald de Andrade, que bom humor, sarcasmo, ironia, são armas mortais contra a hipocrisia.


eu sou mestiço e juro

por todos os santos que todo santo dia só queria isso


nos quartos do hotel vinocap
por muitas noites/madrugadas
bebi da solidão nos olhos dela
que esperou por seis anos
para saciar a minha sede
alimentar a minha fome
entrar na minha vida
fazer parte dessa história
dela tenho oculto o nome
que levarei para eternidade
como registro de memória
e que depois de vinte e poucos anos

ainda arde quando aflora


Erótika

minha língua
entre tuas coxas
lambuzando

 tua Flor de Lótus
de saliva
tudo em couro cru

tudo em carne viva

o auto do boi macutraia

 

era uma vez um mangue 

e por onde andará macunaíma?

na sua carne no seu sangue

na medula no seu osso 

será que ainda existe

algum vestígio de Macunaíma

na veia do  seu pescoço?

  

tá no canto da sereia

tá no rabo da arraia?

joilson bessa   me disse

kapi ducéu já ensaia

 macunaíma  vem vindo

na auto do boi macutraia

 

levanta meu boi levanta

que é hora de viajar

acorda boi povo todo

povo e boi tem de lutar

 

olha o rabo do boi é boi

a barriga do boi é boi

olha o chifre do boi é boi

e o couro do boi é boi

 

o meu boi é valente é boi

já chifrou o tenente é boi

é um boi de mercado é boi

e também o delegado é boi

 

e lá vem toninho xita

todo vestido de rosário

vai cantar  no arvoredo

pra enriquecer o relicário

 

ê meu boi brasileiro ê boi

pintadinho sem dinheiro ê boi

ê meu boi alazão ê boi

que chifrou o capetão ê boi

 

o meu boi é kabrunco é boi

o meu boi garrutio é boi

o meu boi lamparão ê boi

pra encantar a multidão é boi

 

o meu boi é jaguar é boi

mãe maria vem cantar vem boi

e meu boi sapatão ê boi

vem também pai joão vem boi

 

o meu boi julivete é boi

já comeu a micheque ê boi

e meu boi operário é boi

já chifrou salafrário ê boi 

 

o meu boi é cigano é boi

o meu boi é baiano é boi

é também pernambucano é boi

tá  no canto da sereia é boi

tá no rabo da arraia é boi

 

é um boi carnavalha é boi

já rasgou a mortalha ê boi

veste calça e veste saia é boi

eita boi da macutraia ê boi

 

o meu boi jaburu é boi

enfrentou o bangu ê boi

desfilou no ururau ê boi

e ganhou carnaval é boi 

 

esse boi sem segredo ê boi

esse boi não tem medo ê boi

se um dia passa fome ê boi

noutro dia vira samba-enredo 


curto & grosso

 

 descaso

pouco caso

desrespeito

 jogo na lata de lixo

 não sou bicho

pra ser tratado desse jeito

 exijo capricho

 no objeto direto do sujeito


não tenho panos

fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento


                    Federika Lispetor


alfândega

em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam maydoida cigana
que me deixou no desconforto

          Federico Baudelaire

 

meus dedos esticados
como cordas de pianos
roçam teus olhos azuis
eu tenho planos
de te tocar com blues

dentro da noite veloz

 

quando estive em ubatuba

não era junho de chuva

lágrimas de oxum menina

encharcaram

a minha íris – viúva

dentro da noite veloz

e na vertigem do dia

aquela prova dos nove

não foi nenhuma alegria

muito pelo contrário

me deu angústia agonia

a menina dos meus olhos

que beijei na algaravia

dentro da noite veloz

e na vertigem do dia


o curral das merdavilhas


minha terra é de senzalas tantas

enterra em ti milhões de outras esperanças

        in Suor & Cio e Pátria A(r)mada

 

quem sabe um índio gigante

quem sabe curumim encantada

tire essa terra das garras

da fisiologia descarada

desmonte de vez qualquer farra

do pai da mãe do filho da filha

para que o sertão seja mar

          nunca se torne uma ilha

 

pohermeto oswaldiano

que a cia das letras ainda não publicou

 

pedaladas ao mar

 quando invento

uma pipa vai balançando

 ao sabor do vento

 

as mambucabas

quando chegaram em santa clara

traziam pimentas caiçara

conchas vermelhas de ubatuba

salsinhas de itaquatiara


miçangas azuis

de são luiz do paraitinga

trilhas da serra  de paranapiacaba  

muitas garrafas de pinga

para as mesas do interventor

godot não perdia tempo

metia a boca na moringa

pensando que era um coringa 

dos bailes do imperador 

tomava  banho em   guaxindiba 

enrolado nos trapos  do enxugador


 

faroeste lamparão

para torquato neto – in memória

 

“agora não se fala mais

agora não se fala nada

 

quando saí de casa

ia dar um tiro na cara do delegado

mas estava desarmado

estão me colocando em estórias

dos tempos do não sei onde

como se eu durando kid

comesse a filha do conde

nunca comi amarela

em cinema mexicano

muito menos a ruiva

do faroeste americano

disseram que  tive caso de amor

que se tornou pernambucano

quando encontrei o poeta

no trailer do ricardinho

foi me falando de mansinho

como se trampa uma batalha

pra não cair na armadilha

     da grana palavra cilada


agora não se fala mais

agora não se fala nada

 

federika com seus mistérios

molha meu cio em silêncio

:

ou na desordem do Dia

 

I

corisco risca a faca na pedra

mas federika não medra

desafia o dito cujo

a ser maior que a morte

escrever poema sujo

e ser melhor do que fedra

na amarelinha da sorte

 

quando  desgarrou da tribo dos goytacazes

e foi parar em itabuna

o corpo mais leve que pluma

em pleno ar levitava

quebrou  a faca do corisco

enquanto nos ares voava

 

cansada da preguiça baiana

picou a mula pra recife

praia da boa viagem

com gana de vida feroz

se dentro da noite é veloz

no olho do dia é voragem

em plena vertigem do dia

 

com seus cardápios de arte

enfeitiçou  pernambucos

grafites por toda parte

por  restaurantes e bares

estampados em     guardanapos

com grande  voracidade

 

eleita musa da praia

descobriu cedo na tarde

que tudo que arde cura

o que aperta segura

na preamar quando agita

se é amor geme e grita

mesmo não sendo loucura

 

relembro que anos passados

antes dos dezessete

ela se misturou ao campistês

nos corredores do cefet

teve aula de português

com o poeta da quadrilha

que levava um boi pintadinho

nas fulinaimargens da trilha

 

 II


federika amava federico

que amava boudelaire

que amava euGênio mallarmè

que amava lady gumes

que amava pastor de andrade

que amava serAfim

que amava rúbia querubim

dos cabelos negros como corvo

que foi morar em iriri

depois do amor o  estorvo

 

em recife montou seu reinado

e alimentou a matilha

de boêmios embriagados

em  noites de salsaparilhas

com frevo maluco rasgado

pensando   morar em sevilha 


hoje nesse recife distante

 pedra  que nos separa

como palavra cilada

como poema armadilha

nunca contou para a filha

tudo o que guarda segredo

 mas já cantou  paro o mar  

e pras algas sal/gadas da ilha


alvoroço na aldeia franciscana

 

godot montou seu cavalo baio

pensando copa cabana

atravessou como um raio

as barras do itabapoana

 

deixou amante em guriri

da sereia ouviu o canto

e foi para guarapari

cantar com espírito santo

 

comer quibe de peixe

com água ardente capixaba

e em noites de lua cheia

           licor de jabuticaba

 

 alvoroço na aldeia franciscana

 

godot montou seu cavalo baio

pensando copa cabana

atravessou como um raio

as barras do itabapoana

 

deixou amante em guriri

da sereia ouviu o canto

e foi para guarapari

cantar com espírito santo

 

comer quibe de peixe

com água ardente capixaba

e em noites de lua cheia

           licor de jabuticaba

 

 gargaú em polvorosa

lambendo o cravo e a rosa

provocou mandona de guaxindiba

como quem atiça uma briga

por preço baixo no mercado

 

que ela então decretasse

que godot fosse enjaulado

e desfizesse para sempre

esse novelo do bordado

 

a tribo de ururaí

num  ariticum desesperada

bradou um canto mameluco

pegou  seus tambores de guerra

confeccionados no macuco

 

dançou  no alto da serra

como quem dança uma balada

gastou  solas de sapatos

e foi caçar onça pintada

         nas matas do carrapato

        que se perdeu na batucada 


 

garrutio

 

o sobrinho do meu tio

marcou o boi com ferro em brasa

por ordens de dom diego de la riva

e na janela da grande casa

do mosteiro de são bento

azeredo furtado  garruchava

lençóis de trigos no vento

enquanto o boi estribuchava

com a metáfora ensanguentada

no couro cru & carne viva

do santíssimo sacramento


lamparão

 

lamparina acesa no trovão

relâmpagos atravessam corredores

lá fora chove canivetes e navalhas

quebradeira geral no umbral

das coisas incompletas da memória

relampejam  nos currais

sacramentados nos porões da  nossa história



 tisga

para Adriana Medeiros

 

a faca cega risca

 os olhos da kabrunca

eita tisga de menina lamparona

no circo de lona ela salta do trapézio

como se o solo fosse cama

para estripulias prediletas

e o sol em linha reta

queima as íris da retina

mas a kabrunca da menina

resplandece em arco-íris

com os seus chuviscos de luzes

                de garrutia querubina


kabrunco

para Adriano Moura e Tonico Pereira

 

a palavra kabrunco

não existe em dicionário português

só no campistês

da baixada da égua

onde  compasso minha  régua

na compostura da poética

postura em fulinaimagem

onde  rasgo tuas pregas

sem pudor ou dialética  

nas entre/minhas da linguagem

escrevo uma outra estética

re-invento a sagaranagem

 


 a carne do desejo

 

ontem pensei em 2002 novamente ela eufórica pela primeira eleição de lula passeando e cantando nas ruas de bento e eu dançando no santíssimo sacramento revejo a lua na carne nua e crua entre as frestas entreabertas a luz do sol pela janela antes do amanhecer ela toda linhagem nos olhos de ontem ainda metáfora na minha íris controvertida  sem pensar qualquer sentido para não enlouquecer entre a cama e o vale   dos vinhedos sem  adeus na despedida


flor de maio

o vento bate na cortina branca
ana nem sabe como olho
pela fresta da janela
as tuas costas nua
na linha do horizonte

atravesso a ponte
do teu tempo infindo
como um dia vindo
como flor de maio

ana como um raio
no punhal de carne
que me arde os pulsos
e me queima as mãos

enquanto cato o sangue
que escorreu no chão


o poeta enquanto coisa

cristina bezerra me disse
 trepo no corpo
das palavras
na desconstrução

da normalidade
e dos seus sig/ni/ficados

o poema é um jogo de dedos
um lance de dados
 o poeta enquanto coisa
um  mediúnico único
amoral em sua na dialética

com a hipotemusa no mercado

na sua transa poética
tudo o que sai do corpo
é o que já foi incorporado


poética 106
para Carolina Barbato

tua voz ecoa
marulha em mar
de um outro cais
e vens em ondas
solos de cristais
acordando algas
cavalos marinhos
    peixes abissais

rouca elétrica
essa garganta lírica
de vocais intensos
quando teu ser eu penso
como um som atávico
de milhões de eras
nas línguas da história
que em meus   ouvidos híbridos
ainda guardo  na memória

 

 mariana


gaivotas sobrevoam
os cílios da lagoa
teus cabelos louros
espelham sal na lâmina d´água
o mar – complemento do teu nome
naquela noite de música
mágica – quando vozes da áfrica
saltaram da garganta
canto de todos os povos
no verde da mata
luzes na flor da pele
líquida cerveja
na sede que não cessa
éramos mais que tímpanos
absortos naquele espaço templo
com os olhos famintos
devorando luas
na constelação de orions
como uma flor de cactos
sobre um chão de estrelas



desconcerto


o poeta é um jogador
joga com palavras
letra por letra
sílaba por sílaba
com nomes sobrenomes
universo das coisas
artifício das cores
tira um sarro com metáforas
desconcerta a lírica
a métrica a fonética
e os significados
onde não tem sentido
enfeitiça o sub-mundo
enaltece o desdentado


as meninas do leblon

 

as meninas do leblon não sobem no vidigal pensam que as pedras lá de cima cheiram mais que o anormal

mas a flor de lótus

           flor de cactos

           flor delírios

cheiram muito mais

            que as pedras

que elas não querem cheirar

no vidigal



ainda que fosse apenas sátira sarcasmo ironia amor humor ruído ou manifesto cada palavra tem seu gesto cada palavra contém alguma pólvora não me retrato quando peco também nem sei o que pecado significa como bem me disse  paulo leminski conheço esta cidade como a palma da minha pica


a pedra

a faca

o país

o poema

 

a pátria

a fátria

a mátria

a fedra

 

era uma vez

era uma voz

era entre eles

era entre nós

 

o fado

o samba

o blues

o rock

 

era uma pedra preta

era uma pedra de toque

 

uilcon sempre me disse

nunca deixou de me dizer

quem tem uma  pedra de toque

terá sempre o que escrever


pode ter na cabeceira

qualquer livro que tiver

pode ser na madrugada

noite dia seja como for

que tenha lido o poeta

escriduras do escritor

vai ter sempre algum motivo

pra espancar a sua dor 

 

vai ter flecha de oxossi

vai ter pedra de xangô


o

                 obscuro objeto do desejo

 

de pedra dourada ficaram portas

janelas de entradas e saídas

a sedução de dois olhos

em minha carne proibida

 

nem tanto pelo que falo

nem tanto pelo que sinto

a vodka a cereja o conhac

          o abismo o labirinto


de pedra dourada

ficou um café orgânico

no teu sertão encantada

numa manhã de domingo

 

do outro lado da trilha

com tanta veracidade

que me esqueci da idade

e me apaixonei por tua filha

 

de pedra dourada

ficaram olhos acesos

do outro lado a janela

o espelho as contas de vidro

o jogo da sedução – maravilha


os passeios nas cachoeiras

os banhos de bar o carnaval

aquela delícia louca

o baton na minha língua

o cheiro das flores do mal

meu bem-me-quer na tua boca


banquete antropopófago

 

acendo o abajur do quarto

na cozinha

para o rito de entrada

preparo os pratos os talheres

horas antes da chegada

fatio o pão salaminho

chirichela italiana florbela

só chega na hora marcada

 

na mesa queijos e vinhos

na cama lençóis de linho

o rito do amor primeiro

a carne uva de dédalas

defloro a flor pele pétalas

a fome furacão formigueiro

 

 zeus meu deus arcaico mallarmélico mallarmaico me ensinou a entender no aramaico  meus desejos brazilíricos e  transformar as tragédias do bordel em manifestos bordelíricos 


poema

concreto

   grosso duro

ereto



ágora/agora

 

a mulher dos sonhos é de carne e osso tem sangue medula cabelo ágora agora me aliviando as tensões e pesadelos embora onipresente oculta nada sabia  de mim teus olhos dois búzios safira pétalas na carne de sal que me atira ao mar das metáforas serafim

 

absurdo não saber que absinto

absurdo não saber o que absente

absurdo sentir como eu te sinto

magnética essa elétrica corrente

quando bebo tuas águas além mar

e as mágoas pro infinito vou levando

em teu corpo sempre hei de me lavar


corpo em trânsito

 

em São Paulo uma menina

me chamou de SerAfim

por saber que poesia

é tudo que transa em mim

 

e ainda uma outra

me chamou de desvairado

por saber que concretismo

anda sempre do meu lado

 

foi então que em Teresina

me chamaram de Torquato

ao perceberem minha boca

com esse meu vapor barato


 

 

 e uma outra feminina

me chamou de faustino

por re-v(l)er no meu poema

esse  sotaque feminino

 

no recôncavo baiano

bem no centro o reconvexo

rasguei todos meus planos

quando fiz primeiro sexo

 

numa feirinha de verdura

linda criatura elegante sensual

me pediu pra ler leminski

quando viu meu para pente

aterrissar no carnaval


 e encontrei fulinaíma

no universo paralelo

pra revirar o céu de anil

desse país verde amarelo

 revirando a tropicalha

pelo avesso do avesso

foi tamanha a carNAvalha

que perdi meu endereço

 

fui parar em ipanema

num 1º de abril

quando assisti pelo cinema

a pátria mãe que  nos  pariu

 

fui pro morro da mangueira

re-inventar parangolé

por entender que esse brasil

                ainda vai ficar de pé.


 pedras no meio do caminho

 

pedra punk

pedra dark

pedra tanque

pedra parque

 

pedra de toque

pedra de blues

pedra de rock

 

fado

tango

samba-enredo

 pedra/poema

entre e-mails

nos meus dedos


 

amor de telenovela

 

amei uma mulher

que não era

mas era como se fosse

como se fosse terra

como se fosse água

como se fosse fogo

como se fosse ar

como se fosse mata

como se fosse mar

como se fosse céu

como se fosse chuva

como se fosse chão

 

não era uma vera ficher

mas era como se fosse

não era débora secco

mas era como se fosse

nem era carolina dickman

mas era como se fosse

não era nicole kidman

mas era como se fosse

nem marieta severo

mas era como se fosse

 não era uma imperatriz

mas o nosso castelo

era como se fosse

as minas do rei salomão

amei essa mulher feliz

que era como se fosse

         atriz de televisão


o  alvo do poeta é a meta

 

nem todo poema curto

nem todo endereço acerto

a meta do poeta é o alvo

o alvo do poeta é a meta

 

a flecha estendida no arco

o arco estendido pra seta

eu quero teus olhos de vidro

não poema em linha reta

 

nem toda cidade prova

nem todo poema povo

a clara da gema nova

pode estar dentro do ovo


a massa e o biscoito fino

o biscoito fino na massa

o Dia D da fornalha

acende fogueira na praça


claro enigma


ela disse-me também te amo depois de um beijo na face em sinal de mais uma despedida, estávamos na esquina da conselheiro josé fernandes com tenente coronel cardoso naquela manhã de sábado de novembro  dois mil e dezenove

noves fora nove vou beijar teus olhos nesse mar de escuridão vou pedir a todos os santos a luz de um novo dia e que seja luz do fogo de lamparina ou lampião para aquecer tua pele em minhas mãos  que o fogo da serpentina seja um fogo lamparão 



poema obsceno

 

toda manhã de domingo

faz-se um formigueiro

frente ao bar do local

para brigas de canários

 ou então papa capim

é o fim

manter preso

indefeso

um grumarim

em gaiolas de bambu

      na usina do cupim 


esfinge

 

d elza ainda não sei de nada

o rio com seus mistérios

molha meu cio em silêncio

de onde vem pra onde vai

se usa saia rodada 

ou quem sabe tomara que cai

trindade da santíssima santa

fosse apenas o que já foi dito

ou quarteto metafísica quântica

dandara isadora angélica adele

com um beijo preso na garganta

se veste com a própria pele

ou quem sabe com outras tantas

 a traição das metáforas 2 


hoje amanheci como naquela madrugada no hotel d`alonder procurando a estudante de arquitetura que pintou poemas no cachorro louco na cidade alta. tenho falta dos desejos de bento vinho uva sua carne trêmula pelos anos de esperar outubros novembros outros na porta do hotel tuas costas nua a contra luz frente a janela metáforas de fogo incendiando nossos medos tua língua lua molhada de cerveja na mesa de sinuca o segredo escrito em poesia sagrado tempo em que te dizer podia sem que ele rasgasse a página onde o poema estava escrito.

 

 o vôo de heras evoeros

 

enquanto espero

outras eras

primas/veras nesse quase verão/inverno

que me tire desse purgatório

 nó da gravata

 quase mesmo inferno

nos abismos desse terno

recortado por gamboa

mas não sou pessoa

dessa pedra itabira

esse pó quase me pira

muritiba muquirana

itabapoana não me engana

 

a vida é bela

se não fosse leviana

macunaína ainda vive

sobrevive

nas favelas

 e bordéis

de copacabana


como escrevo?


a minha relação poesia.teatro.poesia é visceral vital para o que escrevo como quem encena a necessidade do corpo como expressão não planejo nem penso o que ele sente quando jorra palavras no deserto branco do papel. o corpo dada lance de dados jogos e lances na ponta dos dedos o dado rola quando o estômago ronca e as tripas falam


quando entramos o quarto era um breu dandara acendeu a vela na mesinha ao lado da cama desnudou-se abriu as janelas os pelos desalinhados pelo vento por alguns instantes pensei estar diante da musa elétrica de bento


makondo


meus cem anos de solidão vivi ali na cacomanga minha itaguara meu Grande serTão veredas minha américa latrina não sei por quanto tempo apalo seco 25 anos de sonho &  sangue santeiro do mangue me arrancou o fôlego me jogou na transa “triste  bahia ó quão dessemelhante estás e estou do nosso antigo estado a ti tocou-te a máquina mercante que em tua larga barra tem entrado tanto negócio e tanto negociante”


gregório de mattos

guerra

me deu o mote:

 

o bom cabrito não berra

tudo que vem do  mar

      a grana mata in-terra


Ai-5

(a todo homem que faz

do teu suor o nosso pão

de cada dia)

 

falo como se fôssemos

animais sem pastos

fartos de dor

famintos de ilusões

 

como se fôssemos

fantasias já usadas

gastas

e sem aproveitamento

em outros carnavais

 

como se fôssemos

a febre que não mata

o ódio que não falta

em cada quarto ou corpo

como armação tombada

favela por assalto tomada

de enchentes de polícia e marginais

 

falo como se fôssemos

a grande queda

e o re-construir dos passos

após raízes descobertas

e um retomar de vozes

e palavras

encobertas por punhais

de um mesmo assassinato

 

como se fôssemos

500 milhões de  barrigas

grávidas de fome

 

falo como se fôssemos

a vontade prenhe nos pulsos

e o nó cego na garganta

a corda em cada esperança

e um farejar de becos

com ratos, sem saídas

 

como se avistasse o mar

mesmo cravado em terra

como se fosse o céu

poeira pó e chão

como se ver morrer maria

fosse nos matar de alucinação

 

falo como se fôssemos

apenas morte –

suave-mente

como se não passássemos

de apenas mundo

e através do parto

não nascesse o homem

mas gerasse o medo

 

falo como se tudo ou nada

não fosse...

ficasse

eternidade não existisse

prevalecesse

e a farejar os becos

não estivessem ratos

mas o próprio século

 

falo da favela onde nós moramos

como se não fôssemos, mas éramos

quando Maria-amiga não morreu de susto

mas morreu de tédio, nessa cidade inteira

onde nós vivemos como se não éramos

mas fôssemos uma família à mínguas

a so-correr dos custos e se perder dos gestos

sem poder conter ou controlar no peito

a invasão de asfalto em nosso mesmo sangue

 

falo como se a porta dos seus olhos

fosse o ventre desse sol

como se o céu da sua boca

fosse sinal de nossa vida

e não existissem entradas

nem fosse preciso saídas

e não houvesse tantos cortes

nem tantas almas feridas

 

como se abrir fosse fechar

como se chorar fosse sorrir

como se matar não fosse morrer

como se crescer não fosse matar

 

como se a pessoa encantada

levasse o povo no dorso

para um país consciente

e não houvesse paredes

grades – prisões ou muros

e um Jesus de carne e osso

sangrasse em pão sobre o presente

e abrisse em portas pro futuro


quanto ao poema sujo

que a nossa vida escreve

pode gerar a flor

dentro esse mesmo pântano

como se fosse escuridão

a doce e plena claridade

 

o poema vai nascendo outro

explode no ventre/palavras

em intestinos roucos

 

num temporal de letras

que não se completam

nesta cidade de morrer na praia

   com uma flor na boca

 

cada palavra

ou nome

sendo de gente

ou coisa

traz em si

suas nuances

léxicas

sendo luana

ou jéssica

sendo paixão

ou fome

sendo cidade

ou surto

ou condição estética


cada palavra

ou nome

traz em si

sua porção poética

dentro da arte

ou fora

na pele

que tens agora

no olho

nas pernas

nas coxas

estando ainda mais dentro

umbigo

intestino útero

mar de desejos

tantos

que a boca

sorrindo implora


ou mesmo

calado o pranto

atormente

teu corpo e chora

cada palavra ou nome

é signo

verbo cilada

se queres silêncio

não grito

se queres mistério

não mito

na carne

no sangue

no osso

está a palavra amada

quando palavra flor

não espada.


prosa concreta

num dia qualquer de verão ou inverno assim como se fosse fomos almoçar no Netuno Flutuante restaurante que fica sobre a represa billing na via Anchieta a caminho de São Bernardo. Silvia Passareli, José Homero e meu xará Arthur haviam acabado e desmontar uma exposição na escola de artes de São Caetano.

depois de um almoço regado a muita vodka poesia e sagatiba, retornamos para São Paulo,  aí em estado etílico avançado Arthur o não Rimbaud,  o nosso guia, perdeu o caminho e a poesia porosa virou prosa concreta para Haroldo de Campos. não sabia  mais se estávamos no caminho de Anchieta, São Bernardo, Santo André, São Caetano ou se estávamos voltando de uma nova granada na Espanha. José Homero enrolava a língua de tal forma, que nem um perfeito chinês iria entender o seu  mandarim dialeto.


assim que ela me veio

tirei os freios dos pedais

tirei os pedais do freio


psicanalítico


é natural que eu te deseje

te toque te beije

o meu espírito santo

é um estado aberto

na fronteira com o rio

o cio mora perto

não há mistério em te querer

meu mar – bravio


 

geológica

 

porto viejo cavajarro

o barro é vermelho

bandeira cor de sangue

teus olhos de fogo me incendeiam

na estrada de ferro

 

a feiticeira me avisou que viria

a cartomante leu nos búzios

o astrólogo viu o número

da dama nas cartas de tarô

 

porto viejo cavajarro

o barro na sola dos sapatos

 

 o nu espelho

me mostra teu retrato

estampado

nas paredes da estação

 

o trem das 7 só me chega as 9

os ponteiros do relógio marcam 5

o dia é hoje tenho a sede

que me mata

atravesso a Bolívia

onde tem a cerveja

e a coca

            é mais barata


met/áfora 2


não me verás lugar algum enquanto os dentes não forem postos e na mesa tenha espaço para todos. esse país que atravesso corpo devassado em grito na cara do silêncio na boca dos escravizados eu que venho das profundezas desse tempo escuro onde as caras soterradas no asfalto onde os homens de verde/oliva desejavam chumbo sobre nossas palavras. não me verás lugar algum o rosto que em mim verás agora é uma máscara que o tempo se encarregou de moldurar sobre o pescoço.


poética


nem todo segredo é secreto

nem todo segredo é guardado

o corpo mesmo dentro dos panos

                     no espelho é revelado

o amor mesmo quando profano

tem muito mais de sagrado


poética 2

 

bebendo esse tinto chileno

o espírito fica suspenso

o corpo embriagado

mexe com meus instintos

os cinco sentidos intensos

cada qual com o seu desejo

no corpo tudo é segredo

na alma tudo é sagrado

no copo o gosto do beijo

o amor é segredo guardado


jura secreta 102

(digitado em Guaxindiba para não esquecer)

 

stella  ainda curuminha

 me seduz

quando caminha

com seus olhos de ninfa

suas mãos de beija-flor

 

o corpo afrodite /bacante

sedenta de ch(u)va

dia/mante

faminta de vinho

com fome de amor


nem sei qual o  seu caminho

quando pega o elevador

o bairro

onde ela mora é sânscrito

corcovado

quase um cristo redentor

bacco numa banda de rock

tocando beatles na garganta

                      gal a todo vapor


 

mar à vista

camboinhas

piratininga

itaipu

itacoatiara

mar deságua sal

   na minha cara


enquanto

na vitrola

rola um reggae

 

sagaranicamente

eu te provoco

toco teu corpo

com meus dedos

mordo tua carne

com meus dentes

 

sagarinicamente

com meus olhos de lince

poeta é o quanto te devoro

e oro pra são jorge

em seu cavalo anda/luzia


que reluzia

em outro cavalo andaluz

enquanto na vitrola

rola um reggae

e nos lençóis da cama

 rasgo um blues


 assim esc(r)avo

assim escrevo

a

solidão extravasa

teu silêncio

em altas doses de tensão

nas minhas mãos

quando me calo

ou falo

entre sílabas

nas ente/linhas

ou entre/minhas

do poema

no teatro

ou no cinema

palavra/som

 

palavra/gesto

e o resto da metáfora

na mínima pausa

quando só

me deito em folhas

de papel para escrever

aqui agora

e assim esc(r)avo

e assim escrevo

com o de dentro

e o de fora no que pintar

entre céu e terra

entre  terra e céu

entre céu e mar

e o olho no infinito

por onde ainda possa flutu/Ar



poética 38

 

ela me espora

explora o corpo nu

agora e sempre

lambe a pele das palavras

lavras

do meu ser em pelo

em arcozelo

vi teu olho azul

de mar

oceano entrando

gasômetro

cais do porto

no meu corpo dentro

barco em movimento 


fato

que descortina

a sina

de amar-te em parte

pela arte

de saber-te musa

que me usa

em febre

pele músculos pela noite

nossa

o que quer que eu possa

quando o corpo clama

toda água ou sangue

mesmo em santa ceia

quando a carne in chamas

          o sangue  está na veia


nem sei o porque do sobrenome trocaram o gomes abreu por baudelaire se sou o mestre sala da escola de samba oculta filho de Oxum que não mora no rio(Rio) cachoeiras conheci as que escorrerem entre as coxas das donzelas que lambi em goytacazes em algumas até sangrei pelas areias do farol de são thomé procurei psicanálise mas desisti quando vi que analistas só pensam a transa no divã e o meu abandonei em cada esquina quando criança em meio a roça sonhei com itabira e aos 17 fui pras minas conhecer pedra dourada e os segredos da chacina e por não ser esfaqueado o juiz ficou de fora do corpo da carne do barro do escarro do sopro de deus que já matou 700 mil até agora


                               Federico Baudelaire


 

pele grafia

 

meus lábios em teus ouvidos

flechas netuno cupido

a faca na língua a língua na faca

a febre em patas de vaca

as unhas sujas de lorca

cebola pré sal com pimenta

tempero sabre de fogo

na tua língua com coentro

qualquer paixão re/invento


o corpo/mar quando agita

na preamar arrebenta

espuma esperma semeia

sementes letra por letra

na bruma branca da areia

sem pensar qualquer sentido

grafito em teu corpo despido

poemas na lua cheia


duas rosas vermelhas

em mim significam

tudo aquilo que o oculto

ainda me diz

metáfora lírica que me vem

dos olhos dela

a flor mais bela

que me pinta em aquarela

no engenho do encantado

 

 a mulher do tempo

linda felina de fellini

que o meu olho felino

descobriu

 

extasiado me pergunto

:

quem foi o grande zeus

que inventou

ou foi a mãe do eros

                    que pariu?


tenho outras vozes

drummundando

em itabira

ninguém me tira

sonoridades das fonéticas

na trilha que tracei depois dos trinta

no trilho dessa tralha incandescente

pode vir cão adestrado

estou a(r)mado

de poesia até os dentes


       pandemônia


 ela chegou sem aviso prévio

foi direto ao sangue

uma facada  no fígado


sensualidade

 

água escorrendo

sobre a pele

da saudade


BraziLírica

para Uilcon Pereira in memória

 

salve salve

a metáfora anárquica

res-publicana brazilírica

que assombradado seja

o poder da fricção

na cara dessa quadrilha

 

meu coração é vermelho

nunca foi verde/amarelo

minha faca tem dois gumes


 não tem neves

não tem cunha

não tem mello

alcalumbre vagalume

não tem mota

nem marmota

nos currais desses estrumes

 

no circo tem marmellada

às 8 horas da noite

com a massa tele guiada


                  Cordel Filho da Puta

 

Era uma vez

no Reino do São Nunca

um Festival de Palavras

que de doce não tinha nada

mas tinha muita fartura

e muita cana queimada

mas mal sabia a Rainha

que naquele reino fajuto

havia um pimenta do reino

um poeta escaralhado

botava fogo nas meninas

tocava incêndio no reinado

o Rei proclamou na Corte

para a Rainha cansada

nessa cama aqui ele não deita

nesse palco aqui ele não canta


nem meu quintal atravessa

nem o meu pão ele janta

mas o poeta muito astuto

não quis saber de reinado

pegou seu Boi Pintadinho

foi cantar lá no Mercado

e desse dia em diante

o Rei perdeu seu reinado

a Rainha perdeu sua cama

enquanto isso o poeta

começou a ganhar fama

com sua espada de ouro

com sua língua de lata

foi marcando gol de letra

desbravando a língua nata


até que um dia um juiz

daquele falido reinado

determinou em decreto

praquele povo mallarmado

que daquela data em diante

o poeta escaralhado

passou a ser diamante

King Artur Rei coroado

 

Rúbia Querubim

fulinaimicamente 


ruidurbanos

 

 também me lembro aquela tarde em Teresina lá estava eu naquela tarde e Jomard Muniz de Britto me falava que certa vez em Pernambuco um Rei eunuco engravidou certa Rainha do reino de Assombradado.

 Perseguido pela in-justiça o eunuco caiu do telhado direto num mar de lama e desde então fez a fama onde nasceu Macunaíma que  nunca mais foi encontrado.

 

a coincidência mineira


deputados cínicos e fascistas 
travestidos de democratas
insuflados por escravocratas
como um mineiro das Neves
apalavrado por Bicudo
transformam dignidade
em uma lata de lixo
ao bel prazer: impunimente 
articulando mais  um GOLPE
assim escrachado descaradamente
como se o Brasil fosse habitado 
exclusivamente por dementes
e não percebesse que a trama
no bastidor foi engendrada
pelo seu vice-presidente
como a idêntica traição
que esquartejou Tiradentes

 

              Federika Lispector


não

me enganam

as cartas do meu baralho

anistia pra golpista é o kralho

 

muito menos

as cartas do meu tarô

anistia pra genocida

              é um horror


 procurando o ponto G


nasceu FlorBela entre lençóis e bananeiras cactos girassóis e alfavaca quando plantei nunca pensei ser luz do sol os seus olhos de donzela nesses temporais tropicalistas dou minha cara a tapa e muitos beijos com sabores infinitos quem adivinhar  em que bordel conheci a sua origem nos arredores da paulista aqui na estação 353 sonhar sagrado rito no meu terreiro meu corpo santo único mito quando se despe em guardanapo e se entrega corpo alma carne dentes a essa mulher depravada indecente tão somente por ser filha de Bacco


 

 fome

 

ainda que

tentassem

apagar em mim

a tua chama

 

os pratos estão na mesa

 

ainda arde em minha cama

esse mar de fogo

que me mantém acesa

 

Rúbia Querubim

Na Trilha Do Fogo


 

penetrações

fulinaímicas

no coração

 

do mato

dentro

na frente

atrás

no centro


quando te amei neste poema

tinha dois cavalos copulando

na cocheira da fazenda

não me interessei pelo que pensavam

se é que cavalo pensa

e para nós não fazia a mínima diferença

em minha língua jorrava água ardente

e na tua jatos do meu leite quente


Teatro do Absurdo

Afro-dite-se-quiser


Godot, produtor de farinha, recém chegado de Bom Lugar, que fica próximo a Barra do Itabapoana, passeava bêbado sem camisa ontem pela avenida principal de São Francisco e começou a gritar palavrões e palavrinhas quando viu uma miragem numa das vitrines de uma loja de inconveniências decorada para o próximo  natal.


A Traição Das Metáforas

:

Um Outra

 

para Celso de Alencar, César Augusto de Carvalho e Federico Garcia Lorca em memória

 

há tempos

não escrevo

um poema como esse

:

a formiga carregando folhas lembra-me a máquina de terraplanagem que vez em quando passa na minha rua a carrocinha puxada por um cachorro imagem cibernética estética não é o que me move pra o abstrato do outro lado do espelho atrás da porta do meu quarto

 ainda guardo teu retrato em Nova Granada conheci um presépio com duas mil imagens humanas criado pelo mestre Guima que cultivava em sua cabala cento e sessenta e três imagens de Santo Antônio que Hygia Ferreira guardava para o casamento com ela aprendi que o amor mora muito além da casa dos soldados Federika rasgou o vestido de Macabea quando Lady Gumes enfiou a faca no monstro ontem mesmo sonhei com Afrodite tive um surto de desejo gozei no espelho era Cecília quem estava do outro lado  


pitadas de suassuna

com josé cândido de carvalho

 

godot atravessou o rubicão

num galope do karalho

seu cavalo baio corria mais que o cão

com medo do espantalho

 

 voltando de iriri

passou pela muritiba

para catar sementes de aroeira

e fugir do delegado

no encontro não marcado

nas rodas de capoeira

nas caiçaras da intriga

 

foi fazer cosmético

pra amante de guaxindiba

que deixou em guriri

 comendo piaba frita

no almoço da sexta feira

 

parecia um tal   coronel

Ponciano de Azeredo  Furtado

como medo de lobisomem

pensando que o bicho é homem

 

sem tempo de tomar banho

amanheceu sujo borrado

contando as vacas no pasto

no sobrado do Airizes

nos fios do arame farpado

 

 dia 31 vamos dançar

pra Yemanjá e Olorum

na hora da partida

de 2025 para em 2026

acabar com o genocida

totalmente de uma vez 


 quarta-feira de cinzas

 

a janela estava entreaberta

dela desejei as costas nua

do pescoço até a bunda

para penetrar-lhe os anos

até o amanhecer do outro dia

era madrugada quarta-feira de cinzas

de um carnaval

que há dois anos não havia


 curuminha

para Rúbia Querubim

 

tua pele clara de pêssego

ou mesmo de manga fosse

lembra-me frutas tropicais

com sal e mel agridoce

intenso   sabor tupiniquim

       Clarice Beatriz que fosse

ou mesmo esse anjo SerAfim

que dorme em praias distantes

              e acorda dentro de mim  


tudo gira tudo rola

 

ainda que seja assim

ainda que seja assado

não tenho papas na língua

não tenho  língua nas papas 


quando me descobri ainda menino saltando muros para roubar mangas no quintal do vizinho ou quando  tasquei fogo no paiol de milho percebi que a vida nos trilhos

 

tudo gira tudo rola

pomba gira no terreiro

trepada em pé de carambola


e lá vai terminando mais um ciclo ao redor do sol meu pai cavaleiro de Ogum na terra girou 67 por onde anda não sei deve estar  seguindo seu destino pelas galáxias das festas de São João       Xangô Menino

 

ela vinha ela veio

com um copo de vinho

nos seios

na boca uma língua

de fome

no corpo a carne

sedenta

seis anos para ceder

aos instintos

e dar-me em camas

de um sol azul

ela veio vestida de nada

enquanto pra ela escrevia

na agulha um bolero blue

 

no poema nada cabe

nem o que sei

nem o que não se sabe


 sonho medonho

para Celso de Alencar

inspirado em um poema de Chico das Iolandas

 

quando Cronos

beijou Vênus em Creta

foi para separar Ísis de Apolo

e evitar que Júlia morresse

de morte  tão prematura

e a cabeça de Pompeu

não fosse encontrada num cesto

ao invés de sepultura

 

sonho literatura

desses que a gente sonha

com desejo de sonhar

e pensa até que a fronha

é mulher pra se casar

 

toca-se até uma bronha

sonhando que vai gozar

com a diaba Cleópatra

sacerdotisa no altar

esporra nas franjas da cama

e nunca mais quer acordar


que seja por um risco

que seja por um triz

a mulher que sempre amei

nunca foi  atriz

era aprendiz de arquiteta

sempre andou em linha torta

por todo  sempre ereta


eu sou avessa  atravesso a cidade  com o que me interessa  as vezes sou sossego  outras vezes tenho pressa   não procuro o que não quero  me abstenho no que faço  me abstrato quando posso  me concreto em cada passo  o compasso é argamassa o absinto é quando traço uma linha nunca reta  da palavra em descompasso  se sou torta não importa  em cada porta risco um ponto  pra revelar os meus destroços   no alfabeto do desterro 

a carnadura dos meus ossos

 

Beatriz Almada


nesta cidade de palha

minha balbúrdia poética

não falha

corta palavra morta

na nervura dessa pedra

na carnadura desse osso

corte grosso de navalha

pra descascar esse caroço 


 

confissão

 

em nome do pai

do filho e do espírito santo

confesso entretanto

que o meu jejum de hoje

tem almôndegas de soja

com vinho tinto de Bento

Salton Cave de Pedra

eu sei que Fedra Margarida

gosta mais de carne mesmo

cachacinha com torresmo

mas tenho fé que ela

passe a língua no meu linho

se embriague com meu vinho

coma da minha carne

e se engravide do meu pão 



sossegado no meu canto

conheci essas  meninas

no carnaval de iriri

nas quebradas do entretanto

que fica logo ali do outro lado

 nas costas  do   espírito santo 

 

            EuGênio Mallarmè



lascívia

 

do porto de Santos

ecoa o grito no Ipiranga 

irreverência ou morte!

 

o vampiro está de tanga

no mar negro palácio jaburu

 

com a baba escorrendo na boca

e o guindaste enfiado no cu


juro que foi assalto

em 2019

uma quadrilha invadiu

o palácio do planalto

 

         Pastor de Andrade

 

  

 

eu sou umbanda


veja bem meu bem o beijo que não me deste era gelado e derreteu teu evangelho um sacrilégio  de um mitológico prometeu não gosto da palavra doce prefiro salamargo pra desintoxicar o fígado o sabor da minha língua é azeite sal pimenta se não agüenta sarta de banda eu sou umbanda vou pro terreiro de oxossi sacramentar o meu amor bater macumba na quimbanda e saravá para xangô

 

                     Federika Lispector


mini conto - a faca

 poesia não é manchete de jornal para espremer escorrer sangue o poema pode ser facada sim que  entra na carne mas não sangra como aquela em juiz de fora que até agora ninguém me explicou o melodrama estava li e não vi adélio no curral do tal comício palanque armado para fazer do brasil uma quaderna - pra fazer do brasil um precipício


 

             última ceia

banquete antropofágico

 

do peixe vamos comer

somente  osso  espinha

na rapadura com farinha


              curitiba-pr - setembro 2022

 

santíssima trindade

 

o pastor universal

      o narco tráfico

              e a milícia

 

uma santíssima trindade

            no país do laranjal 


 mula sem cabeça


a besta fera

perdeu a cabeça

na esquina da W3

com asa norte

a encruzilhada do delírio


sua língua morta

foi decapitada

por Adélio Bispo do Rosário

foi encontrada na rota 666

ladeira do inferno

na praia da macumba


e agora exposta

no museu universal

das grandes novidades

salmo 2019 versículo 6.6

segundo o evangelho

 do Pastor de Andrade


a ovelha do oitavo andar

se desgarrou na madrugada

foi dar o leite para o padre

e me deixou na bronha


sujei a fronha

do meu travesseiro

sujei as mãos

sujei os dedos

e a sem vergonha

me ligou pra dar adeus


juro que não sou santo

juro que não sou zeus


 se encontro essa ovelha

desgarrada

vai ter bordel

vai ter facada


e não venham me dizer

que é crueldade

sacanagem

é o que ela fez comigo

me deixou de quatro

e ainda cuspiu no meu umbigo

 

sarcástica

 

o que dizer das

namoradinhas do crivella

as falsas donzelas

da abstinência sexual

o que dizer das ovelhinhas

do edir mais cedo

não tem segredo

não curto culto meu amor

não curto

sou um pastor afrotupy

prefiro o ritual dos barracões

para aplacar os meus vulcões

               em fases de erupções

encarnações como   nunca vi 

 

                   Pastor de Andrade 


neo concreto

para Ferreira Gullar

              em memória

 

sequestro teu corpo poema

na entrada da sala do cinema

teu corpo levo para a cama

o poema enterro no poema

 


janela indiscreta

sargaço em tua boca espuma

 

sequestro teu  corpo/poema

na sala de entrada do cinema

teu corpo eu levo para a cama

o poema enterro no poema

 

em Armação de Búzios

tenho um amor sagrado

guardado como jura secreta

que ainda não fiz para Laís

em teus cabelos girassóis de estrelas

que de tanto vê-las o meu olho vela

e o que tanto diz onda do mar não leva

da areia da praia onde grafei teu nome

para matar a sede e muito mais a fome

entranhada na carne como Flor de Lótus

grudada na pele como tatuagem

flutuando ao vento como leve pluma

no salgado corpo do além mar afora

sargaço em tua boca espuma

onde moram peixes - na cumplicidade

do que escrevo agora


carNAvalha Na Carne


 quantas navalhas

na carne enterrei

 quantas feridas  já sangrei

 na pele nos nervos no osso

do boi só para ti

quantas lágrimas já chorei

 quantas vezes mergulhei

no fosso fundo do poço

       e ainda estou aqui?

 

 


Drummundana Itabirina : Por Onde Andará Macunaíma?

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