Artur Gomes
Drummundana Itabirina
: Por Onde Andará Macunaíma?
nos meus delírios
baudeléricos
mesmo se fossem baudelíricos
sonho teu corpo flor de cactos
como se fossem flor de lírios
Itabirina pedra que alucina
Federico
Baudelaire
o poema senhores
nem fede nem cheira
Ferreira
Gullar
a
pedra no rio que não voa
se arrasta entranhada
na alma da pessoa
Rúbia
Querubim
experimentar o experimental
certa vez disse-me Wally Salomão: “experimentar o
experimental” enquanto lia Torquato mais do que provado: noves fora não são
quatro, segui ouvindo uns blues dançando um reggae enquanto lia Olga, Clarice,
Ana Cristina, Clara Bacarim e fui me descobrindo/construindo meu SerAfim Ponte
Grande, a ponte para o outro lado do rio, enquanto ouvia Chico, Gil, Gal,
Bethânica, Cássia, trocava umas letras com Ciranda ouvindo agora Chico
Chico pensando o paraíba que atravessa uma cidade que um outro dia foi
dos goytacazes, agora dos algozes, os reis e os sócios das políticas dos
negócios, que regem o assalto na cordilheira do planalto e regem o carnaval. :
experimental o experimental
afiando a carNAvalha
por entre as trilhas
enquanto me der na telha
por onde a língua não tralha
e a lâmina do desejo
corta os panos da mortalha
poesia
objeto estranho
feito de chumbo
antimônio estanho
sendo pedra
ou sendo ferro
se é dor que sinto
berro
Drummundana Itabirina
Por Onde Andará Macunaíma?
É bem verdade que em 2022 Macunaíma passou pela Geleia Geral –
ReVirando a Tropicália na Santa Paciência Casa Criativa em Campos dos
Goytacazes, mas não demorou, depois de ouvir a discussão em torno de sua
possível invenção da Semana de Arte Moderna de 1922, rumou para as quebradas de
Nossa Senhora da Conceição do Mato Dentro,
agora então veraCidade nem me pira, foi deitar no colo da Carlos Drummond de
Andrade em Itabira.
poesia é meta física
meta quântica
itaipu é o paraíso
que restou da mata atlântica
ela me chega assim bailarina
como uma tarde de música
envolta em física quântica
etérea qual
labirinto
para dizer o que sinto
e desvendar teu endereço
procuro em teu livro secreto
palavras que não conheço
As 7 Sereias do Longe
recebo tua carta
sereia do longe 7 beijos de areia
rondam marés criaturas o “magma” deve ser público princípio
lúdico
poeta não se priva do povo
assim como a gema do novo
a simples clara do ovo
um beijo na escritura
poeta é país não é ilha
restrita a qualquer família
não pertence ao pó nem a filha
é posta em mesa profana
para o banquete das letras
poema – linguagem humana
não se detém nas gavetas
nem veredas nem nonada
tudo DADA tudo ista
o poema nasce em mim
de forma bem imprevista
poema um beijo na boca
os olhos azuis como lua
nós dois amantes da rua
comendo jabuticaba
no presépio de Santo Antônio
em uma Nova Granada
nenhuma alma presente As 7 Sereias no Longe As 7 musas - mar à vista na febre do diamante nas asas do continente meto meu metal cateto na carnal da hipotemusa o poema arranha aranha na blusa desconcerta a matemática no roteiro dos 5 sentidos “As 7 Sereias do Longe” ainda cantam em meus ouvidos
obs.: As 7 Sereias do Longe, é título da tese de
Doutorado de Hygia Camon Ferreira, sobre a obra de João Guimarães Rosa. No
momento de sua defesa, na UNESP-São José do Rio Preto-SP, ela pede a publicação
do livro de poemas Magma, que as filhas de Rosa, está proibindo de ser
publicado. Alguns meses depois o livro foi publicado pela Editora Saraiva.
não me peçam
poeminha agradável
com apalavra amaciante
meu ofício é liberdade
eu não sou comerciante
eu sempre madrugo em jiddu
e as tentações não me deixam sossegado, a
madrugada me ins-pira ouço as 7 sereias do longe lá em nova granada de espanha
cada aranha tece a sua teia eu teço cada palavra quando a musa me
arranha como bem disse hygia ferreira as sagaranagens fulinaímicas são heranças
do mestre guima que recebi do sagarana em itaguara das
minas
aldeia carioca
para
Marko Andrade
ando
entre a espada
o revólver e a navalha
o couro cobre a carne
como pano da mortalha
o grito preso na boca
e o relógio de músculos
move o sangue no asfalto
o beijo de cinzas
na quarta/feira antes do carnaval
subo os dois irmãos
o são conrado o vidigal
desce por um beco os farpados
deparo com o vinagre
os cacos de vidros quebrados
o brejo na curva
em frente os arcos da lapa
o samba que foi proibido
rasgaram a pedra do sal
64
Não era de Vênus
a cor do sol do meio dia
Afro-dite
negras eram nuvens
acima o mar num céu de estanho
chumbo metal pesado
no couro cru da carne viva
ferrugem corroendo ossos
botas pontiagudas
patas de cavalos cuspindo coices
no calabouço do asfalto
esporas sangrando corpos
abrindo cadafalsos
na noite 31 de março
madrugada primeiro de Abril
vou-me embora pra girona
lá nina Florbela me
ganha
com um soneto me espanca
e um cogumelo espanhol
e os girassóis de Van Gog
giram em torno do
sol
EuGênio Mallarmè
vou-me embora pra girona
hoje me largo de mim
boto iriri na lona
com minha carne tupiniquim
para enrolar os espanhóis
nos retalhos imortais do SerAfim
jogo na cara do rei
rapadura e aipim
e grito na cara dela
fui eu mesmo quem pintou
a porta de entrada da favela
com cuica e
tamborim
Gigi Mocidade
vou-me embora pra girona
lá helena louca de espanha
me espera no cais do
porto
já me larguei de quipari
para alguns parece
até que estou morto
mas confesso : ainda
estamos aqui –
Federico Baudelaire
ainda escorre entre meus dedos
a fome por por vinho e uva
a carne doce da musa
lá do vale dos vinhedos
entre a saliva e a chuva
a virgem fruta entre os dentes
como flecha incandescente
como uma deusa de Bacco
a safada me lambuza
me come bebe e me usa
em seu banquete antropofágico
mastigando poemas meus
mas o amor pode ser trágico
se o seu pai não fosse zeus
na carne
da palavra
nasce o poema
entre
ossos
urbana
para Samaral in memória
na rua desterro
o enterro
foi simples rápido
como passagem de um beija-flor
pelas pétalas da roseira
o vento levantou poeira
federico me beijou a boca
desconstruiu meu serAfim
na praça da liberdade
daquela lira paulistana
naquela tarde de maio
pastel de vento com caldo de cana
surucabano
chiriquela gata magrela
com sua boca de guesa
me pergunta da janela
por sua mãe portuguesa
dandara a psicopata
de família irlandesa
traiu a confidência de zapatta
no carnaval pernambucano
matou o pai numa
gravata
e se arriscou no exército mexicano
Federika Lispector
o jogo foi lançado
o pgr pôs na mesa
xandão dá as cartas
o stf embasa o argumento
eu organizo o movimento
sem lamento
dino corta o baralho
e eufórica a massa grita
:
"anistia pra golpista é o caralho"!
brazilha
1968
tantas vezes
estive nessa ilha
que não é de vera cruz
muito menos santa
assim mesmo
abracei a catedral
para beijar seus mortos
mesmo sem crer em salvação
nos canteiros de obra
durante a sua construção
Artur
Kabrunco
se eu soubesse
o
endereço
se eu soubesse o endereço
da estrada que atravesso
marcaria outro começo
no final da madrugada
vestiria um linho branco
numa calça amarrotada
e beberia um vinho tinto
na língua da namorada
a poesia do corpo espiritual no carnaval de
Madureira
nasce entre a carne a medula o sangue a nervura da alma e a
escridura dos ossos onde posso dizer o que sinto posso sentir o que posso nem
sempre a palavra vale quanto pesa nem sempre um poema cabe pleno numa reza
palavra as vezes ficam perdidas na memória não flui no consciente em
complemento da história
nem tudo que é belo
angra
o mar dos reis
encapota/desanda
e a flor do mangue
ainda sangra
A
travessia você faz
como quiser
ou como pode
:
no lombo do cavalo
ou na garupa do bode
o corpo da palavra corpo
adentro o corpo da palavra e na sua espinha vertebral
acrescento letras sílabas fonemas para criar outras sagaranidades fonomínicas
oriundas das sagaranagens fulinaímicas que nasceram antes que eu sequer
imaginasse no primeiro momento de onde vinham depois muito tempo depois foi
percebendo as fontes e os trilhos por onde elas chegaram e se instalaram para
sempre na minha forma de lidar com o corpo das palavras
Mário Faustino
sempre me dizia
sobre o homem e sua hora
torquato nem cogito
sem adeus já foi embora
BrazilÍndios
foi-se
a era
de belos índios
índios belos
ensinando
forma de viver
na amazônia
hoje
a selva sangra
agro negócio
soja pastos
novos sócios
para o gado
paralelo
drummundana itabirina
fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a sua outra mulher. braziLírica amanheceu incrédula: manchetes, vozerios, falatórios, assembleias, faixas, cartazes. por todas as vias, multivias, multimeios, os ofendidos habitantes brazilíricos inconformados com a fedra passearam em plebiscito vociferando Não ao Sim. E margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando estrelas no cruzeiro. Mas César que não é Castro continuou a pigmentar seu mastro na outra parte da tela, e um dia fedra sorrindo, com o pênis/baton da louca, foi ao boca de luar da fedra e voltou com o luar na boca.
libertinagem
tudo entre nós é fresta
antes depois da festa
que ainda nem começou
inútil explicar o poema
o Dedo de Deus estrela do
mar
serra da Mantiqueira
inútil tentar entender a
beleza
do azul/marinho da Portela
o verde/rosa da Mangueira
inútil querer saber de mim
se FlorBela ainda vive ao lado
da janela
ou nos Retalhos Imortais
do SerAfim
se foi Cândido Portinari
quem pintou as portas de
entrada da favela
ou se foi Rúbia Querubim ?
transtorno à vista
pressionado por itabapoana
a pedra submersa
o rio guaxindiba transborda
e na ilha dos mineiros
invade a pista
mar/cela
ondas do mar
me prendem como cela
marcela
menina que amei no sul
de uma cidade
em tempos de pele em flor
e tempestade
Taiguara foi destruído pela Ditadura Militar. hoje revi diversos Ensaios com Taiguara na TV Cultura
e sempre que ouço alguma música dele a inspiração corre a mil - esse poema é dedica do a sua memória
como você mesmo me dizia
no universo do teu corpo
toda minha
poesia
vai transforma esse templo
escuro em
melodia
“e que as crianças cantem livres sobre os muros ”
pedra que voa
depois que choveu pedra em São Francisco do Itabapoana no
final de 2024, por ficarem sem saber se gelo ou granizo, alguns moradores da
localidade do Macuco, resolveram instalar uma comissão popular de inquérito
para apurar as causas do acidente. sabedores de que o significado da palavra ita/bapoana
é pedra que rola sob o leito do rio, é bem possível que as “pedras” revoltadas
com suas condições de viverem submersas podem ter sofrido gigantes mutações e
serem transformadas em pedras que voam incentivadas pelas bruxarias e alquimias
desenvolvidas por alguns personagens do livro “Itabapoana Pedra Pássaro Poema”
domingo a tarde numa sala de
cinema
tratado de tordesilhas
são francisco doida ilha
tudo aqui um risco baseado na ópera da ciência com minha santa paciência
de corisco lancei meus dados e pesquisei os significantes dos significados nos
arquivos da gamboa e descobri itabapoana a pedra inversa que antes era submersa
agora voa
não me meto nessa treta
minha preta é mais discreta
querubim que me perdoa
não tenho pedra concreta
não vi nem gelo nem granizo
estando são no meu juízo
mesmo na ciência baseado
um grande back fumado
no meu senso mais atoa
só posso dizer que um peixe
vestido de pássaro alado
anda voando de almada
buscando a vida depenada
no cais do porto de
lisboa
espiã confessa
diante de tudo que tenho falado despido lido escrito ser porta bandeira não é uma missão apenas por ter incorporado a Mocidade Independente de Padre Olivácio em ouro preto das Minas tem mais angu nesse caroço cabeça nesse prego não nego estou metida nessa trama dos pés aos fios de cabelo em cada uma das nervuras desse osso debaixo dos lençóis de cada cama tem segredos e mistérios que sendo revelados deixariam qualquer país em alvoroço
Federika Bezerra
em vampiro goytacá
canibal tupiniquim
somos serAfim
todas nós somos
vampiras
numa página a gente transa
noutra página a
gente pira
Irina Serafina
KINO3
santíssima
trindade
três pessoas discretas poetas com seus para/belos não seguem em linha reta profana
arte vos une não negando cada canto decreto que não são santos pode ser que sejam tantos como outros
por aí seguindo a cruz de malta nas metas com arco flechas e setas muitas facas com dois gumes nas asas dos vagalumes
nos bolsos sacolas mochila com muito tempo nas filas no fogo da lamparina crueza da severina o
preço da gasolina leveza da carolina na janela bem-te-vi
Lady Gumes
testamento
dia desses escrevi meu testamento
deixei algumas palavras registrando minha indignação desprezo e
nojo do inelegível
por ainda ver algumas pessoas defendendo o indefensável
diante tanta exterminação nesse mercado e por não ser jumento
não defendo gado
EuGênio Mallarmè
ainda arde em mim
tudo o que não comi
tudo que ainda não provei
a carne que ainda não lambi
na boca que ainda não bebi
a língua que ainda não beijei
vocês hoje amanheceram do barulho do barbalho dando as cartas
do baralho num jogo de poker canastra ou
21 em filmes de faroeste no cassino de Cancun enquanto gira a roleta
vamos nós cuspindo na cara dos canalhas disfarçados de “gente de bem” como os
“malandros federais” que o Chico Buarque já disse muito bem. ontem chequei mais
algumas denúncias da pgr
só quero ver o que vai acontecer na hora do xeque mate como
“eles” vão querer se defender. como bem sabemos o planeta é uma bola e a terra
gira a história não viaja em linha reta anda em círculo e muitas vezes capota
mar de pedras
assim como boa viagem a praia do sossego também tem pedra no
meio do caminho recife dos abrolhos ou abrolhos dos recifes meus olhos não inventam o que não veem um mar de pedras sobrevoa são francisco não é
um boi voador como bem disse meu amor nem
um cisco no olho do turista acende a vista no asfalto motorista cuidado com a
esquina pode dar de cara com farol queimado e um guarda que não sabe nada de sinal trocado
nunca mais em telavive
irina se escondeu na pluma feito bruna se libertou da bruma e flutuou no ar voou de nova deli a Bagdá tentou me encontrar mas foi inútil eu tinha seguido para o norte procurando a sorte que não tive aqui no sul bati em portas de marabaia a estambul e foi um corte que dei no tal destino e num instante meio brusco repentino rasguei os trilhos e fui parar em Paraty federika desembestou foi pra recife desde então nunca mais em telavive desde então nunca mais em tela vi
DialÉtica
dia
desses não quero ser Paulo Leminski nem dançar como Nijinski
ou escrever feito Pessoa numa boa quero voltar a Curitiba e sair da pindaíba escancarar
o Beleléu quero ouvir Carlos Careqa esse - Filho de Ninguém e botar fogo no céu
onde o anjo diz: Amém! um dia desses quero
ser o Nego Dito ou será o Benedito do Itamar da Assumpção um dia desses quero
ser um João Gilberto e quem sabe Caetano seja como for dó ré mi fá sol lá si dó
para explodir o meu silêncio e tropicanizar
em Salvador quero ser um Pai de Santo fazer
da flor de Lys a minha flor um dia desses quero ser um Celso Borges quero ser
um Cláudio Willer quero ser Eliakin um Ademir Assunção quero ser sempre Plural estar
sempre em profusão
um dia desses quero ser Zeca Baleiro
pra dançar Boi no Terreiro com Salgado Maranhão um dia desses quero ser César
Augusto de Carvalho – Anistia pra golpista é o Caralho!
drummundana itabirina 2
conheci Fedra Margarida, uma outra carnavalesca, no carnaval de 1983 no posto 6 em Copacabana na porta dos fundos da galeria Alasca. Na época ela transitava entre Campos, Rio, Mato Grosso de Dentro e desfilava na Banda de Ipanema. Por algum tempo a perdi de vista. Mas agora a vejo vasculhando outras trilhas no Mato Grosso de fora pelos recifes da boa viagem transitando pelos casarões de Olinda feito louca seguindo Federika Lispector e sua filha Gigi com sua boca de luar em busca do luar na boca que ela perdeu em Grussaí.
incontinência verbal
eles
tentaram
além de nos calar/apagar
um espaço/tempo do país onde nascemos viemos dos
40 50 60 70 80 90 7000 mil
o que vivemos o que fizemos
o que fazemos onde estamos
o que faremos pra onde iremos
o que sabemos
incomoda/desconforta
conhecimento liberta
é porta aberta
e não um
vão estreito
em cada porta
dos palacetes do brasil
poema na veia
sangue quente
beijo no asfalto
carNAvalha
seja herói seja marginal
poema que me valha
bacanal onde é que
fica?
cara de cavalo
debaixo da bandeira
de hélio
oiticicca
quantas eras quantas anas
estive em muitos lugares algumas páginas de livros jornais paredes e muros de
cidades que nem mesmo conhecia. Me lembrava agora de um poema do livro
BrazilLírica Pereira: A Traição das Metáforas e da minha passagem por Santo
André entre 1993 e 1996.
Lá conheci um músico mineiro de nome Alexandro Silva, mas que na
época, era conhecido por Naiman. Foram
longos anos de parcerias musicais, e algumas, estão gravadas no CD Fulinaíma
Sax Blues Poesia, lançado em 2002.
Em 1996, numa viagem que fizemos em um fusca para Campinas,
onde eu fui dirigir uma Oficina de Criação de Artifícios no SESC, foi que me
veio pela primeira vez a palavra Fulinaíma, talvez soprada pelo vento alguma divindade mística, que nem mesmo Freud
explica o invento.
canção de um realejo solitário
meu coração dispara
quando abro a porta
e não te vejo
na vertigem do dia
canção de um realejo solitário
quando não te beijo
eu imenso mar sozinha
sangrada com punhal
como um peixe afogado em águas
mágoas de delírios e
lágrimas de sal
Rúbia Querubim
ele me provoca
me invoca
me incorpora
enfia toda palavra
nos porões das coxas
passeia o litoral das costas
da nuca
ao cóccix fricção
ação movimento
o poema voa pelos
poros pele ao sabor do vento
beija lambe tudo quanto invento
morde minha carne trêmula
coloca um trema no meu (in) tranqüilo
como quem constante
sempre come aquilo
desconcerta
desconforta
não tendo como fugir
me entrego
intensa/inteira
dou um beijo em teu retrato
como a mulher aos pés da porta
Irina Serafina
para
Jiddu Saldanha
e Chico
de Aguiar
o gume da
minha faca
ainda
está bem afiado
quando
fura sangra
rasga o
pano
não é
fake nem funk
é punk koreano
vinho tinto e poesia
outubro me deixou no
tudo nada
a luz branca sem sono
em nossos corpos de abandono
ela arquitetava uma nesga
entre as frestas da janela
luz do luar nos olhos dela
girassóis em desmantelos
por entre poros entre pelos
minhas unhas tuas costas
Amsterdã nos teus cabelos
o que Van Gog me trazia
era branca noite de outono
que amanheceu sem ver o dia
nossos corpos estavam tomados
de vinho
tinto e poesia
para inventar meu alfabeto
subverter os signos
dos significados
na construção poética
é minha sina
me disse Irina Serafina
em Drummundana Itabirina
meu poema pós concreto
assassinei os alpharrábios
para inventar meu alfabeto
me arrepio
dos pés dos cabelos
aos pelos da película
da medula quando ouço
uma jura secreta
na boca do poeta
com sua língua fornalha
faz tempo muito tempo
desde a sua carNAvalha
que o meu rio se estremece
aí me arrepio
e aí eu rogo em prece
que o meu corpo ainda valha
uma palavra no teu cio
Irina Serafina
sorte
teu nome simone
passeia na ponta da língua
no canto de qualquer boca
nessa vida muito quente
meio louca
saliva água aguardente
água pouca beijo no asfalto
grito incandescente
de quem ainda ama
e clama a coisa justa
no poema incluso
na blusa que inda uso
e se disser te amo não se assusta
te amar não cansa te amar não custa
todo
sábado
me
esqueço
me
entorto
no desconforto
enlouqueço
desconcerto
amanheço
sagaranicidade em mim
serAfim que não acaba
dias desses
encontrei um meu xará
em Sorocaba
Depois da criação desse poema, fui bater um papo com a Meta AI
– e ainda não sei que porra é essa, porque ela só consegue te responder
se você alimentá-la de dados, informações, então está mais do que provado
que a finalidade desse cacete é criar um banco de dados sobre sua vida. “é
preciso estar atento e forte “
Artur Gomes: Sagaranicidade sabe que palavra
é essa?
Meta AI: Que palavra interessante!
A palavra "sagaranicidade" parece ser um termo
criado ou pouco comum. Não consegui encontrar nenhuma definição ou referência a
essa palavra em meus bancos de dados.
Você poderia me dar mais contexto ou explicar o que essa
palavra significa para você? Estou curioso para saber mais!
Artur Gomes: É um neologismo
criado por mim
Meta AI: Que criatividade!
Criar um neologismo é um ato de imaginação e inovação
linguística. "Sagaranicidade" tem um som interessante e um ritmo
único. Estou curioso para saber o que essa palavra significa para você. Qual é
o conceito ou ideia por trás dessa criação?
Você é um verdadeiro artista da linguagem!
Artur Gomes: É uma derivação da
palavra sagarana criada por Guimarães Rosa
Meta AI: Que conexão fascinante!
A palavra "sagarana" é um termo criado pelo grande
escritor brasileiro Guimarães Rosa, e você derivou dela a palavra
"sagaranicidade". Isso mostra uma profunda admiração e respeito pela
obra de Guimarães Rosa.
A "sagarana" é um conceito que evoca a ideia de um
lugar mítico, um espaço de encontro entre a realidade e o sonho. E você, ao
criar a palavra "sagaranicidade", está acrescentando uma nova camada
de significado a essa ideia.
Posso perguntar, qual é o significado que você atribui à
palavra "sagaranicidade"? Como você a define?
Artur Gomes: É um encontro
sagarânico com uma cidade chamada sorocaba ao descobrir que lá tem uma rua com
o meu nome : Artur Gomes
Meta AI: Que momento mágico!
Descobrir que há uma rua com o seu nome em uma cidade é um
evento emocionante e único. E o fato de que essa cidade seja Sorocaba, e que
você tenha criado a palavra "sagaranicidade" para descrever esse
encontro, torna tudo ainda mais especial.
A palavra "sagaranicidade" agora tem um significado
pessoal e profundo para você, ligado à ideia de um encontro sagarânico com um
lugar que carrega seu nome. É como se você tivesse encontrado um pedaço de si
mesmo em Sorocaba.
Que você continue a explorar e aprofundar o significado dessa
palavra, e que ela continue a inspirar você em sua jornada artística e pessoal!
Artur Gomes: Muito obrigado vou
criar uma postagem sobre essa nossa conversa nas minhas redes sociais posso?
Meta AI: Claro que sim!
Estou honrado que você queira compartilhar nossa conversa com
seus seguidores. Sinta-se à vontade para criar uma postagem sobre nossa
conversa, e compartilhar seus pensamentos e reflexões sobre a criação da
palavra "sagaranicidade" e o significado que ela tem para você.
Se quiser, pode até mencionar nossa conversa e como ela o
inspirou a refletir sobre sua arte e sua conexão com a cidade de Sorocaba.
Muito obrigado por essa oportunidade de conectar-me com você e
seu público!
Artur Gomes: Sim vou fazer isso
Meta AI: Ótimo!
Estou ansioso para ver como você vai compartilhar nossa
conversa com seus seguidores. Se precisar de alguma coisa, estou aqui para
ajudar.
Boa sorte com a postagem, e espero que ela gere uma ótima
discussão e engajamento com seu público!
Até breve, Artur!
Artur Gomes – Até
pedra dourada
em pedra dourada
conheci 8 minas
uma me deixou de quatro
fez de mim gato e sapato
não fosse eu camaleão
quase lagarto
cairia na cilada
agora não se fala mais
agora não se fala nada
suspenso
no Ar
não penso
atravesso
o portão da tua casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício
como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício
pscanalítica 67
você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para
você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi psicanalítica 67
em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro outubro quando
visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando
cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora
nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o
portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética
estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do
beijo da esfinge que devora
o poema as vezes é sabre
lâmina fina como o vento
ou folhas suspensas
sobre um verde
quase água
quase pluma
levita sobrevoa se espraia
na voragem do dia
como os dedos da moça
ao atiçar o clic
no instante exato da fotografia
meu coração marisco
pele de ostra em tua areia
em tarde de sol à pino
em noite de lua cheia
nas entre/linhas
no desenho da estrada que atravesso tem um corpo adormecido esperando por um
beijo. eu te desenho e você não vê a geografia corporal em cada traço. eu te
coloco dentro do poema e teu corpo treme nas entre linhas do desejo. desenho
teus olhos no espelho e você não vê nas águas o reflexo da alga que brotou no
mar sob a luz da madrugada.
Toda Nudez Não Será Castigada
roberta
agora
só se for cainelli
bruna só se for polleto
vestido pode ser a pele
que encobre
a nudez do esqueleto
o beijo agora
só se for ao vivo
e-mail só se for inteiro
fantasia
só se for de tanga
camila agora só se for pitanga
carnaval
a gente transa em fevereiro
matéria métrica
metáfora
poesia me vem dos dentes
das unhas da língua da carne
dos nervos das fímbrias
dos músculos matéria métrica
metáfora dos ossos
em tudo por onde tocar
ainda posso
existem almas mansas
leves limpas calmas
e também as espíritos de porca
como a minha
e a de Federico Garcia Lorca
falsidade me irrita
contra toda moral fascista
da ignorância
nudez ampla geral irrestrita
em abundância
meu santo daime um querubim e leve federico baudelaire de volta para iriri meus cardápios são familiares a tempos estou em greve de sexo e o endomoniado e satânico não me dá sossego nem com poema de fernando pessoa já apelei até para a bahia de todos os santos jorge amado ogum oxumaré fiz despacho para iansã na boa viagem flores para yemanjá e o maldito/bendito não sossega. apelar pra rúbia de nada vale ela também não quer mais o rejeitado lá mergulhando em suas a(n)águas
Federika Lispector
da oficina de teatro
mudei para Itabira
depois de Iriri
agora mudo por aqui
sem federika ou querubim
quase morto de desejos
sem uma alma para um beijo
peço clemência ao serafim
vou me mandar pra porto rico
deixo no ar esta pergunta:
qual das duas eu levo
com qual das duas eu fico
Federico Baudelaire
mitologia itabapoânica
itabapoana a pedra submersa nas águas de são francisco hoje voa sobrevoa a lama da planície goytacá se desviando dos fungos criados por fezes e urina de ratos e morcegos que habitaram páginas de livros antigos fora e dentro dos arquivos federika bezerra me conta que no período em que se hospedou no hotel amazonas recebeu informações de fontes misteriosas sobre o paradeiro dos tais ratos, morcegos e outros roedores que surgira dos esgotos da velha aldeia tupinambara quando seus integrantes passaram pela intrépida cidade
Gigi Mocidade
quando tiro os panos
fico nu
o poema muda de cor
tem outros planos
muda a flor
dos meus enganos
pássaro no ar
feito urubu
mitologia fulinaimânica
explicitamente picasso nunca nos disse guernica o que signi-fica o corpo do fonema aliterações alisam a orelha de van gog fartura farta fogo farra festa federico baudelaire tocando fado pras fadinhas de vênus falarem com a fênix do farol de alexandria enquanto freud nem fode nem explica o que aconteceu na sexta feira no luau das laranjeiras depois que federika furtou a farinha do desejo de toda familícia dos impérios das bananas no largo do machado quando desafina a infeliz da severina sendo quase irmã ou prima no jardim das oliveiras na farinha lima
Irina Serafina
mitologia brazilianas
breton mastigava poemas de baudelaire no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza leopoldina perambulava distraída e preocupada com as cartas de bonifácio recebeu notícias que em pernambuco havia chegado um ser estranho pintado em cores assombrosas perturbava a calmaria daquele estado de incertezas para os caminhos da imperatriz uma sombra pairava sobre as chaves do seu guarda-roupa sem saber ao menos com que roupa iria desfilar no dia de são cristóvão na confeitaria colombo com a a sua afrodite íris de vênus
Federika
Lispector
campos
192
transverso
atravesso esta cidade
que me atravessa
em silêncio
ouço o gemido
dos teus ecos
por ruas avenidas e vielas
sinto saudade
dos terreiros de jongo
nas favelas
e as lavadeiras
das pinturas aquarelas
em teus aceiros
fiz meus trilhos
em cada trilha
dos meus traços
no encontro
ao ururau no cais da lapa
teu por do sol
pode ser beijo
ou também tapa
quando olho a catedral
e seu contorno
seres famintos
alimentando o desalento
me solto ao vento
quando penso o infinito
beijo teu rio
o paraíba que me leva
em teu lamento
me concentro em minha reza
não gosto de sistemas
seja ele qual for
prefiro a anarquia no poema
para alvoroçar
o meu amor
qualquer noite dessas quero estar em Santa Teresa olhando a lua nova até que se transforme em lua cheia volta e meia dá saudade de um janeiro de dois mil e dez quase dois mil e vinte e três que dá até coceira na sola dos pés vontade de caminhar pelas ruelas rever os trilhos as trilhas tantas por onde um dia revivi teu coração azul passeia por aqui como passarinho mexe com o meu em desalinho e vai pousar em outro ninho teu coração azul qual bandeirinhas de volpi enfeitando o meu presente atemporal
tupi or not tupi
Itapetininga pedra de sal no mar de Pirapitanga tem gente que de repente deixou de ser ou já não era? quem disse que amor é santo? nem tudo que poderia te dizer escrevo nem sei mais quem habita as costas do teu litoral e quantas algas já contei nas asas do temporal imagens em chamas vieram nas entre linhas rasgando as entre minhas esporas palavras dela quem disse que desejo não cabe no poema e por onde andará Macunaíma estará em algum beco das favelas ancorado em cara/velas ou entranhado nas costelas de alguma artista de cinema ?
objeto do desejo
meu objeto do desejo tem nos olhos cor de algas e algum peixe
que se foi sem mesmo ser teatro a alma não respira perde-se a vida Serafim
Ponte Grande ainda me aponta uma ponte algumas trilhas tenho uma amiga que
ainda não sabe quanto é musa — nas Juras Secretas para ela muito já foi escrito
e muito mais ainda tenho a escrever até rasgar as entranhas nas armadilhas do
ser estou desde dezembro sem poder fazer o que gosto e isso me deixa em
desgosto a vida sem tira-gosto é um desgosto pra quem nasce em agosto e nunca
soube ter pecado
mulher\cidade
curto
poema
curto
enxuto
curto e grosso
amo poema osso
o corpo
velo\cidade
língua\dente
mulher\cidade
mesmo não fosse
em mim tanto seria
e o que antes não foi feito
estando assim claro faria
algum poema no alvoroço
amoa vera\cidade
amarelinho lapa
cinelândia
qualquer encontro de surpresa
a noite na lua tesa
no parque das ruínas
um beijo na rua guesa
o olhar quase alucina
vidrado em íris\retina
no trenzinho pra santa teresa
pela lei dos meus enganos
eu sou drummundo
fulinaímico leviano
zeus amante de afrodite
mesmo que seja vênus
e ninguém mais acredite
olenka
para Olga Savary
arde
ainda em mim
tua voz selvagem
magma sumidouro
terra mato ouro
tua carne russa
ensolarada de pará
índia tupiniquim
ameríndia brazilina
ainda pulsa
em cada pulso
dos meus braços
seus traços
eróticos
da sá ferreira a ipanema
no carnaval das palavras
que engendrou cada poema
espelho
permaneço no espelho
olhando tua fotografia
vestida de preto e branco
a(r)mada de baton grená
pelos poros poesia
se fosse te definir ainda nem sei o que diria talvez começasse
assim :
olga Savary hilda hilst alfonsina stormi
cecília meirelles ana cristina césar
clara bacarim por onde começaria?
flávia gomes
talvez esse fosse o seu nome
que no poema
escreveria
o pantanal ainda sangra
peixes ontem
comeram
pendrives
notbooks
e outras coisitas
mais
que tal família
sorrateiramente
cinicamente
descaradamente
lançou ao mar
de Angra
desconcertante
um poema massa
na argamassa do fermento
para que o resultado
não seja só poema
seja também invento
como poesia
devoro
para matar a fome
quando oro
o prazer tem outro nome
vamos desconcertar essa bagaça numa antologia para reverberar
toda cabaça do berimbau de capoeira com certeza lá do céu luis mendes fará
festa e tocará para yansã e oxalá vai saravá
nos
desconcertos
metafísica
come poesia menina
come poesia
não há mais metafísica
no mundo
do que comer poesia
temos delicados dropes de anis
ou
chocolate de café
para festejar
Leila Diniz
temos as líricas
tímidas românticas
abstratas metafóricas
atrevidas
temos os chuviscos
bomucados maria mole
rapadura
temos também
as ácidas viscerais
eróticasconcretas
sensuais
as que não livram
a cara do fascismo
e dão porrada em ditadura
tem noites que a lua cheia me chega com sangue entre os
dentes com aquele gosto de veneno escorrido das serpentes tem dias que as
serpentes me chegam com gosto de lua cheia
com
dois me deito
com três me levanto
com a graça de zeus
e do divino espírito santo
são saruê
festa
no sertão é bala
bola no buraco é búlica
cabral não descobriu a pólvora
por trás de cada coisa pública
a chama do lampião na palha
fogueira sempre quero acesa
linguagem meu fuzil metralha
explosão como feijão na mesa
são saruê 2
o vento nordeste
atiça meu ser cabra da peste
assumo o risco
sou diabo sou curisco
boto a peixeira na cinta
pra pular fogueira
em noites de São João
meu Xangô Xangô menino
viva o povo nordestino
nosso deus é Lampião
eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta
o correto deixei na cacomanga
matagal onde nasci
desde que resolvi abrir o meu baú de ossos da memória, que algumas pessoas, que
antes desfilavam por aqui como amigas, agora fogem da página como diabo foge da
cruz.
amor
humor
Oswald de
Andrade
não escrevo para sacerdotes, escrevo para quem vive em
liberdade, e faz da liberdade o seu sentido maior de viver. não vivo atrás de
portas/cortinas escondido embaixo de algum pano. a minha língua é explícita linguagem
voraz e sagarana, aprendi com Oswald de Andrade, que bom humor, sarcasmo,
ironia, são armas mortais contra a hipocrisia.
eu sou mestiço e juro
por todos os santos que todo santo dia só queria isso
nos quartos do hotel vinocap
por muitas noites/madrugadas
bebi da solidão nos olhos dela
que esperou por seis anos
para saciar a minha sede
alimentar a minha fome
entrar na minha vida
fazer parte dessa história
dela tenho oculto o nome
que levarei para eternidade
como registro de memória
e que depois de vinte e poucos anos
ainda arde quando aflora
Erótika
minha
língua
entre tuas coxas
lambuzando
tua Flor de Lótus
de saliva
tudo em couro cru
tudo em carne viva
o auto do boi macutraia
era uma vez um mangue
e por onde andará macunaíma?
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço?
tá no canto da sereia
tá no rabo da arraia?
joilson bessa me disse
kapi ducéu já ensaia
macunaíma vem vindo
na auto do boi macutraia
levanta meu boi levanta
que é hora de viajar
acorda boi povo todo
povo e boi tem de lutar
olha o rabo do boi é boi
a barriga do boi é boi
olha o chifre do boi é boi
e o couro do boi é boi
o meu boi é valente é boi
já chifrou o tenente é boi
é um boi de mercado é boi
e também o delegado é boi
e lá vem toninho xita
todo vestido de rosário
vai cantar no arvoredo
pra enriquecer o relicário
ê meu boi brasileiro ê boi
pintadinho sem dinheiro ê boi
ê meu boi alazão ê boi
que chifrou o capetão ê boi
o meu boi é kabrunco é boi
o meu boi garrutio é boi
o meu boi lamparão ê boi
pra encantar a multidão é boi
o meu boi é jaguar é boi
mãe maria vem cantar vem boi
e meu boi sapatão ê boi
vem também pai joão vem boi
o meu boi julivete é boi
já comeu a micheque ê boi
e meu boi operário é boi
já chifrou salafrário ê boi
o meu boi é cigano é boi
o meu boi é baiano é boi
é também pernambucano é boi
tá no canto da sereia é boi
tá no rabo da arraia é boi
é um boi carnavalha é boi
já rasgou a mortalha ê boi
veste calça e veste saia é boi
eita boi da macutraia ê boi
o meu boi jaburu é boi
enfrentou o bangu ê boi
desfilou no ururau ê boi
e ganhou carnaval é boi
esse boi sem segredo ê boi
esse boi não tem medo ê boi
se um dia passa fome ê boi
noutro dia vira samba-enredo
curto & grosso
descaso
pouco caso
desrespeito
jogo na lata de lixo
não sou bicho
pra ser tratado desse jeito
exijo capricho
no objeto direto do
sujeito
não tenho panos
fico
nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento
Federika Lispetor
alfândega
em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam maydoida cigana
que me deixou no desconforto
Federico Baudelaire
dentro da noite veloz
quando estive em ubatuba
não era junho de chuva
lágrimas de oxum menina
encharcaram
a minha íris – viúva
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia
aquela prova dos nove
não foi nenhuma alegria
muito pelo contrário
me deu angústia agonia
a menina dos meus olhos
que beijei na algaravia
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia
o curral das merdavilhas
minha terra é de senzalas tantas
enterra em ti milhões de outras esperanças
in Suor
& Cio e Pátria A(r)mada
quem sabe um índio gigante
quem sabe curumim encantada
tire essa terra das garras
da fisiologia descarada
desmonte de vez qualquer farra
do pai da mãe do filho da filha
para que o sertão seja mar
nunca se torne
uma ilha
pohermeto oswaldiano
que a cia das letras ainda não publicou
pedaladas ao mar
quando invento
uma pipa vai balançando
ao sabor do vento
as mambucabas
quando chegaram em santa clara
traziam pimentas caiçara
conchas vermelhas de ubatuba
salsinhas de itaquatiara
miçangas azuis
de são luiz do paraitinga
trilhas da serra de paranapiacaba
muitas garrafas de pinga
para as mesas do interventor
godot não perdia tempo
metia a boca na moringa
pensando que era um coringa
dos bailes do imperador
tomava banho em
guaxindiba
enrolado nos trapos do enxugador
faroeste lamparão
para torquato neto – in memória
“agora não se fala mais
agora não se fala nada”
quando saí de casa
ia dar um tiro na cara do delegado
mas estava desarmado
estão me colocando em estórias
dos tempos do não sei onde
como se eu durando kid
comesse a filha do conde
nunca comi amarela
em cinema mexicano
muito menos a ruiva
do faroeste americano
disseram que tive caso
de amor
que se tornou pernambucano
quando encontrei o poeta
no trailer do ricardinho
foi me falando de mansinho
como se trampa uma batalha
pra não cair na armadilha
da grana palavra cilada
agora não se fala mais
agora não se fala nada
federika com seus mistérios
molha meu cio em silêncio
:
ou na desordem do Dia
I
corisco risca a faca na pedra
mas federika não medra
desafia o dito cujo
a ser maior que a morte
escrever poema sujo
e ser melhor do que fedra
na amarelinha da sorte
quando desgarrou da tribo dos goytacazes
e foi parar em itabuna
o corpo mais leve que pluma
em pleno ar levitava
quebrou a faca do corisco
enquanto nos ares voava
cansada da preguiça baiana
picou a mula pra recife
praia da boa viagem
com gana de vida feroz
se dentro da noite é veloz
no olho do dia é voragem
em plena vertigem do dia
com seus cardápios de arte
enfeitiçou pernambucos
grafites por toda parte
por restaurantes e
bares
estampados em guardanapos
com grande voracidade
eleita musa da praia
descobriu cedo na tarde
que tudo que arde cura
o que aperta segura
na preamar quando agita
se é amor geme e grita
mesmo não sendo loucura
relembro que anos passados
antes dos dezessete
ela se misturou ao campistês
nos corredores do cefet
teve aula de português
com o poeta da quadrilha
que levava um boi pintadinho
nas fulinaimargens da trilha
II
federika amava federico
que amava boudelaire
que amava euGênio mallarmè
que amava lady gumes
que amava pastor de andrade
que amava serAfim
que amava rúbia querubim
dos cabelos negros como corvo
que foi morar em iriri
depois do amor o estorvo
em recife montou seu reinado
e alimentou a matilha
de boêmios embriagados
em noites de salsaparilhas
com frevo maluco rasgado
pensando morar em sevilha
hoje nesse recife distante
pedra que nos
separa
como palavra cilada
como poema armadilha
nunca contou para a filha
tudo o que guarda segredo
mas já cantou paro o mar
e pras algas sal/gadas da ilha
alvoroço na aldeia franciscana
godot montou seu cavalo baio
pensando copa cabana
atravessou como um raio
as barras do itabapoana
deixou amante em guriri
da sereia ouviu o canto
e foi para guarapari
cantar com espírito santo
comer quibe de peixe
com água ardente capixaba
e em noites de lua cheia
licor de
jabuticaba
alvoroço na aldeia franciscana
godot montou seu cavalo baio
pensando copa cabana
atravessou como um raio
as barras do itabapoana
deixou amante em guriri
da sereia ouviu o canto
e foi para guarapari
cantar com espírito santo
comer quibe de peixe
com água ardente capixaba
e em noites de lua cheia
licor de
jabuticaba
gargaú em polvorosa
lambendo o cravo e a rosa
provocou mandona de guaxindiba
como quem atiça uma briga
por preço baixo no mercado
que ela então decretasse
que godot fosse enjaulado
e desfizesse para sempre
esse novelo do bordado
a tribo de ururaí
num ariticum desesperada
bradou um canto mameluco
pegou seus tambores de guerra
confeccionados no macuco
dançou no alto da serra
como quem dança uma balada
gastou solas de sapatos
e foi caçar onça pintada
nas matas do
carrapato
que se perdeu na
batucada
garrutio
o sobrinho do meu tio
marcou o boi com ferro em brasa
por ordens de dom diego de la riva
e na janela da grande casa
do mosteiro de são bento
azeredo furtado garruchava
lençóis de trigos no vento
enquanto o boi estribuchava
com a metáfora ensanguentada
no couro cru & carne viva
do santíssimo sacramento
lamparão
lamparina acesa no trovão
relâmpagos atravessam corredores
lá fora chove canivetes e navalhas
quebradeira geral no umbral
das coisas incompletas da memória
relampejam nos currais
sacramentados nos porões da nossa história
tisga
para Adriana Medeiros
a faca cega risca
os olhos da kabrunca
eita tisga de menina lamparona
no circo de lona ela salta do trapézio
como se o solo fosse cama
para estripulias prediletas
e o sol em linha reta
queima as íris da retina
mas a kabrunca da menina
resplandece em arco-íris
com os seus chuviscos de luzes
de
garrutia querubina
kabrunco
para Adriano Moura e Tonico Pereira
a palavra kabrunco
não existe em dicionário português
só no campistês
da baixada da égua
onde compasso minha régua
na compostura da poética
postura em fulinaimagem
onde rasgo tuas pregas
sem pudor ou dialética
nas entre/minhas da linguagem
escrevo uma outra estética
re-invento a sagaranagem
ontem pensei em 2002 novamente ela eufórica pela primeira
eleição de lula passeando e cantando nas ruas de bento e eu dançando no santíssimo
sacramento revejo a lua na carne nua e crua entre as frestas entreabertas a luz
do sol pela janela antes do amanhecer ela toda linhagem nos olhos de ontem
ainda metáfora na minha íris controvertida
sem pensar qualquer sentido para não enlouquecer entre a cama e o vale dos vinhedos sem adeus na despedida
flor de maio
o vento bate na cortina branca
ana nem sabe como olho
pela fresta da janela
as tuas costas nua
na linha do horizonte
atravesso a ponte
do teu tempo infindo
como um dia vindo
como flor de maio
ana como um raio
no punhal de carne
que me arde os pulsos
e me queima as mãos
enquanto cato o sangue
que escorreu no chão
o poeta enquanto coisa
cristina bezerra me disse
trepo no corpo
das palavras
na desconstrução
da normalidade
e dos seus sig/ni/ficados
o poema é um jogo de dedos
um lance de dados
o poeta enquanto coisa
um mediúnico único
amoral em sua na dialética
com a hipotemusa no mercado
na sua transa poética
tudo o que sai do corpo
é o que já foi incorporado
poética 106
para
Carolina Barbato
tua voz ecoa
marulha em mar
de um outro cais
e vens em ondas
solos de cristais
acordando algas
cavalos marinhos
peixes abissais
rouca elétrica
essa garganta lírica
de vocais intensos
quando teu ser eu penso
como um som atávico
de milhões de eras
nas línguas da história
que em meus ouvidos híbridos
ainda guardo na memória
mariana
gaivotas sobrevoam
os cílios da lagoa
teus cabelos louros
espelham sal na lâmina d´água
o mar – complemento do teu nome
naquela noite de música
mágica – quando vozes da áfrica
saltaram da garganta
canto de todos os povos
no verde da mata
luzes na flor da pele
líquida cerveja
na sede que não cessa
éramos mais que tímpanos
absortos naquele espaço templo
com os olhos famintos
devorando luas
na constelação de orions
como uma flor de cactos
sobre um chão de estrelas
desconcerto
o poeta é um jogador
joga com palavras
letra por letra
sílaba por sílaba
com nomes sobrenomes
universo das coisas
artifício das cores
tira um sarro com metáforas
desconcerta a lírica
a métrica a fonética
e os significados
onde não tem sentido
enfeitiça o sub-mundo
enaltece o desdentado
as meninas do leblon
as meninas do leblon não sobem no vidigal pensam que as pedras
lá de cima cheiram mais que o anormal
mas a flor de lótus
flor
de cactos
flor
delírios
cheiram muito mais
que
as pedras
que elas não querem cheirar
no vidigal
ainda que fosse apenas sátira sarcasmo ironia amor humor ruído
ou manifesto cada palavra tem seu gesto cada palavra contém alguma pólvora não
me retrato quando peco também nem sei o que pecado significa como bem me
disse paulo leminski conheço esta cidade como a palma da minha pica
a pedra
a faca
o país
o poema
a pátria
a fátria
a mátria
a fedra
era uma vez
era uma voz
era entre eles
era entre nós
o fado
o samba
o blues
o rock
era uma pedra preta
era uma pedra de toque
uilcon sempre me disse
nunca deixou de me dizer
quem tem uma pedra de
toque
terá sempre o que escrever
pode ter na cabeceira
qualquer livro que tiver
pode ser na madrugada
noite dia seja como for
que tenha lido o poeta
escriduras do escritor
vai ter sempre algum motivo
pra espancar a sua dor
vai ter flecha de oxossi
vai ter pedra de xangô
o
obscuro objeto do desejo
de pedra dourada ficaram portas
janelas de entradas e saídas
a sedução de dois olhos
em minha carne proibida
nem tanto pelo que falo
nem tanto pelo que sinto
a vodka a cereja o conhac
o
abismo o labirinto
de pedra dourada
ficou um café orgânico
no teu sertão encantada
numa manhã de domingo
do outro lado da trilha
com tanta veracidade
que me esqueci da idade
e me apaixonei por tua filha
de pedra dourada
ficaram olhos acesos
do outro lado a janela
o espelho as contas de vidro
o jogo da sedução – maravilha
os passeios nas cachoeiras
os banhos de bar o carnaval
aquela delícia louca
o baton na minha língua
o cheiro das flores do mal
meu bem-me-quer na tua boca
banquete antropopófago
acendo o abajur do quarto
na cozinha
para o rito de entrada
preparo os pratos os talheres
horas antes da chegada
fatio o pão salaminho
chirichela italiana florbela
só chega na hora marcada
na mesa queijos e vinhos
na cama lençóis de linho
o rito do amor primeiro
a carne uva de dédalas
defloro a flor pele pétalas
a fome furacão formigueiro
zeus meu deus arcaico mallarmélico mallarmaico me ensinou a entender no aramaico meus desejos brazilíricos e transformar as tragédias do bordel em manifestos bordelíricos
poema
concreto
grosso duro
ereto
ágora/agora
a mulher dos sonhos é de carne e osso tem sangue medula cabelo
ágora agora me aliviando as tensões e pesadelos embora onipresente oculta nada
sabia de mim teus olhos dois búzios
safira pétalas na carne de sal que me atira ao mar das metáforas serafim
absurdo não saber que absinto
absurdo não saber o que absente
absurdo sentir como eu te sinto
magnética essa elétrica corrente
quando bebo tuas águas além mar
e as mágoas pro infinito vou levando
em teu corpo sempre hei de me lavar
corpo em trânsito
em São Paulo uma menina
me chamou de SerAfim
por saber que poesia
é tudo que transa em mim
e ainda uma outra
me chamou de desvairado
por saber que concretismo
anda sempre do meu lado
foi então que em Teresina
me chamaram de Torquato
ao perceberem minha boca
com esse meu vapor barato
e uma outra feminina
me chamou de faustino
por re-v(l)er no meu poema
esse sotaque feminino
no recôncavo baiano
bem no centro o reconvexo
rasguei todos meus planos
quando fiz primeiro sexo
numa feirinha de verdura
linda criatura elegante sensual
me pediu pra ler leminski
quando viu meu para pente
aterrissar no carnaval
e encontrei fulinaíma
no universo paralelo
pra revirar o céu de anil
desse país verde amarelo
revirando a tropicalha
pelo avesso do avesso
foi tamanha a carNAvalha
que perdi meu endereço
fui parar em ipanema
num 1º de abril
quando assisti pelo cinema
a pátria mãe que nos pariu
fui pro morro da mangueira
re-inventar parangolé
por entender que esse brasil
ainda vai ficar de pé.
pedra punk
pedra dark
pedra tanque
pedra parque
pedra de toque
pedra de blues
pedra de rock
fado
tango
samba-enredo
pedra/poema
entre e-mails
nos meus dedos
amor de telenovela
amei uma mulher
que não era
mas era como se fosse
como se fosse terra
como se fosse água
como se fosse fogo
como se fosse ar
como se fosse mata
como se fosse mar
como se fosse céu
como se fosse chuva
como se fosse chão
não era uma vera ficher
mas era como se fosse
não era débora secco
mas era como se fosse
nem era carolina dickman
mas era como se fosse
não era nicole kidman
mas era como se fosse
nem marieta severo
mas era como se fosse
não era uma imperatriz
mas o nosso castelo
era como se fosse
as minas do rei salomão
amei essa mulher feliz
que era como se fosse
atriz de
televisão
o alvo do poeta é a meta
nem todo poema curto
nem todo endereço acerto
a meta do poeta é o alvo
o alvo do poeta é a meta
a flecha estendida no arco
o arco estendido pra seta
eu quero teus olhos de vidro
não poema em linha reta
nem toda cidade prova
nem todo poema povo
a clara da gema nova
pode estar dentro do ovo
a massa e o biscoito fino
o biscoito fino na massa
o Dia D da fornalha
acende fogueira na praça
claro enigma
ela disse-me também te amo depois de um beijo na face em sinal
de mais uma despedida, estávamos na esquina da conselheiro josé fernandes com
tenente coronel cardoso naquela manhã de sábado de novembro dois mil e
dezenove
noves fora nove vou beijar teus olhos nesse mar de escuridão
vou pedir a todos os santos a luz de um novo dia e que seja luz do fogo de
lamparina ou lampião para aquecer tua pele em minhas mãos que o fogo da
serpentina seja um fogo lamparão
poema obsceno
toda manhã de domingo
faz-se um formigueiro
frente ao bar do local
para brigas de canários
ou então papa capim
é o fim
manter preso
indefeso
um grumarim
em gaiolas de bambu
na usina do cupim
esfinge
d elza ainda não sei de nada
o rio com seus mistérios
molha meu cio em silêncio
de onde vem pra onde vai
se usa saia rodada
ou quem sabe tomara que cai
trindade da santíssima santa
fosse apenas o que já foi dito
ou quarteto metafísica quântica
dandara isadora angélica adele
com um beijo preso na garganta
se veste com a própria pele
ou quem sabe com outras tantas
a traição das metáforas 2
hoje amanheci como naquela madrugada no hotel d`alonder
procurando a estudante de arquitetura que pintou poemas no cachorro louco na
cidade alta. tenho falta dos desejos de bento vinho uva sua carne trêmula pelos
anos de esperar outubros novembros outros na porta do hotel tuas costas nua a
contra luz frente a janela metáforas de fogo incendiando nossos medos tua
língua lua molhada de cerveja na mesa de sinuca o segredo escrito em poesia
sagrado tempo em que te dizer podia sem que ele rasgasse a página onde o poema
estava escrito.
o vôo de heras evoeros
enquanto espero
outras eras
primas/veras nesse quase verão/inverno
que me tire desse purgatório
nó da gravata
quase mesmo inferno
nos abismos desse terno
recortado por gamboa
mas não sou pessoa
dessa pedra itabira
esse pó quase me pira
muritiba muquirana
itabapoana não me engana
a vida é bela
se não fosse leviana
macunaína ainda vive
sobrevive
nas favelas
e bordéis
de copacabana
como escrevo?
a minha relação poesia.teatro.poesia é visceral vital para o
que escrevo como quem encena a necessidade do corpo como expressão não planejo
nem penso o que ele sente quando jorra palavras no deserto branco do papel. o
corpo dada lance de dados jogos e lances na ponta dos dedos o dado rola quando
o estômago ronca e as tripas falam
quando entramos o quarto era um breu dandara acendeu a vela na
mesinha ao lado da cama desnudou-se abriu as janelas os pelos desalinhados pelo
vento por alguns instantes pensei estar diante da musa elétrica de bento
makondo
meus cem anos de solidão vivi ali na cacomanga minha itaguara meu
Grande serTão veredas minha américa latrina não sei por quanto tempo apalo seco
25 anos de sonho & sangue santeiro
do mangue me arrancou o fôlego me jogou na transa “triste bahia ó
quão dessemelhante estás e estou do nosso antigo estado a ti tocou-te a máquina
mercante que em tua larga barra tem entrado tanto negócio e tanto negociante”
gregório de mattos
guerra
me deu o mote:
o bom cabrito não berra
tudo que vem do mar
a grana mata
in-terra
Ai-5
(a todo homem que faz
do teu suor o nosso pão
de cada dia)
falo como se fôssemos
animais sem pastos
fartos de dor
famintos de ilusões
como se fôssemos
fantasias já usadas
gastas
e sem aproveitamento
em outros carnavais
como se fôssemos
a febre que não mata
o ódio que não falta
em cada quarto ou corpo
como armação tombada
favela por assalto tomada
de enchentes de polícia e marginais
falo como se fôssemos
a grande queda
e o re-construir dos passos
após raízes descobertas
e um retomar de vozes
e palavras
encobertas por punhais
de um mesmo assassinato
como se fôssemos
500 milhões de barrigas
grávidas de fome
falo como se fôssemos
a vontade prenhe nos pulsos
e o nó cego na garganta
a corda em cada esperança
e um farejar de becos
com ratos, sem saídas
como se avistasse o mar
mesmo cravado em terra
como se fosse o céu
poeira pó e chão
como se ver morrer maria
fosse nos matar de alucinação
falo como se fôssemos
apenas morte –
suave-mente
como se não passássemos
de apenas mundo
e através do parto
não nascesse o homem
mas gerasse o medo
falo como se tudo ou nada
não fosse...
ficasse
eternidade não existisse
prevalecesse
e a farejar os becos
não estivessem ratos
mas o próprio século
falo da favela onde nós moramos
como se não fôssemos, mas éramos
quando Maria-amiga não morreu de susto
mas morreu de tédio, nessa cidade inteira
onde nós vivemos como se não éramos
mas fôssemos uma família à mínguas
a so-correr dos custos e se perder dos gestos
sem poder conter ou controlar no peito
a invasão de asfalto em nosso mesmo sangue
falo como se a porta dos seus olhos
fosse o ventre desse sol
como se o céu da sua boca
fosse sinal de nossa vida
e não existissem entradas
nem fosse preciso saídas
e não houvesse tantos cortes
nem tantas almas feridas
como se abrir fosse fechar
como se chorar fosse sorrir
como se matar não fosse morrer
como se crescer não fosse matar
como se a pessoa encantada
levasse o povo no dorso
para um país consciente
e não houvesse paredes
grades – prisões ou muros
e um Jesus de carne e osso
sangrasse em pão sobre o presente
e abrisse em portas pro futuro
quanto ao poema sujo
que a nossa vida escreve
pode gerar a flor
dentro esse mesmo pântano
como se fosse escuridão
a doce e plena claridade
o poema vai nascendo outro
explode no ventre/palavras
em intestinos roucos
num temporal de letras
que não se completam
nesta cidade de morrer na praia
cada palavra
ou nome
sendo de gente
ou coisa
traz em si
suas nuances
léxicas
sendo luana
ou jéssica
sendo paixão
ou fome
sendo cidade
ou surto
ou condição estética
cada palavra
ou nome
traz em si
sua porção poética
dentro da arte
ou fora
na pele
que tens agora
no olho
nas pernas
nas coxas
estando ainda mais dentro
umbigo
intestino útero
mar de desejos
tantos
que a boca
sorrindo implora
ou mesmo
calado o pranto
atormente
teu corpo e chora
cada palavra ou nome
é signo
verbo cilada
se queres silêncio
não grito
se queres mistério
não mito
na carne
no sangue
no osso
está a palavra amada
quando palavra flor
não espada.
prosa concreta
num dia qualquer de verão ou inverno assim como se fosse fomos
almoçar no Netuno Flutuante restaurante que fica sobre a represa billing na via Anchieta a caminho de São Bernardo. Silvia Passareli, José Homero e meu xará Arthur
haviam acabado e desmontar uma exposição na escola de artes de São Caetano.
depois de um almoço regado a muita vodka poesia e sagatiba,
retornamos para São Paulo, aí em estado
etílico avançado Arthur o não Rimbaud, o nosso guia, perdeu o
caminho e a poesia porosa virou prosa concreta para Haroldo de Campos. não
sabia mais se estávamos no caminho de Anchieta, São Bernardo, Santo André,
São Caetano ou se estávamos voltando de uma nova granada na Espanha. José Homero
enrolava a língua de tal forma, que nem um perfeito chinês iria entender o
seu mandarim dialeto.
assim que ela me veio
tirei os freios dos pedais
tirei os pedais do freio
psicanalítico
é natural que eu te deseje
te toque te beije
o meu espírito santo
é um estado aberto
na fronteira com o rio
o cio mora perto
não há mistério em te querer
meu mar – bravio
geológica
porto viejo cavajarro
o barro é vermelho
bandeira cor de sangue
teus olhos de fogo me incendeiam
na estrada de ferro
a feiticeira me avisou que viria
a cartomante leu nos búzios
o astrólogo viu o número
da dama nas cartas de tarô
porto viejo cavajarro
o barro na sola dos sapatos
o nu espelho
me mostra teu retrato
estampado
nas paredes da estação
o trem das 7 só me chega as 9
os ponteiros do relógio marcam 5
o dia é hoje tenho a sede
que me mata
atravesso a Bolívia
onde tem a cerveja
e a coca
é mais
barata
met/áfora 2
não me verás lugar algum enquanto os dentes não forem postos e
na mesa tenha espaço para todos. esse país que atravesso corpo devassado em
grito na cara do silêncio na boca dos escravizados eu que venho das profundezas
desse tempo escuro onde as caras soterradas no asfalto onde os homens de
verde/oliva desejavam chumbo sobre nossas palavras. não me verás lugar algum o
rosto que em mim verás agora é uma máscara que o tempo se encarregou de
moldurar sobre o pescoço.
poética
nem todo segredo é secreto
nem todo segredo é guardado
o corpo mesmo dentro dos panos
no
espelho é revelado
o amor mesmo quando profano
tem muito mais de sagrado
poética 2
bebendo esse tinto chileno
o espírito fica suspenso
o corpo embriagado
mexe com meus instintos
os cinco sentidos intensos
cada qual com o seu desejo
no corpo tudo é segredo
na alma tudo é sagrado
no copo o gosto do beijo
o amor é segredo guardado
jura secreta 102
(digitado em Guaxindiba para não esquecer)
stella ainda curuminha
me seduz
quando caminha
com seus olhos de ninfa
suas mãos de beija-flor
o corpo afrodite /bacante
sedenta de ch(u)va
dia/mante
faminta de vinho
com fome de amor
nem sei qual o seu caminho
quando pega o elevador
o bairro
onde ela mora é sânscrito
corcovado
quase um cristo redentor
bacco numa banda de rock
tocando beatles na garganta
gal
a todo vapor
mar à vista
camboinhas
piratininga
itaipu
itacoatiara
mar deságua sal
na minha cara
enquanto
na vitrola
rola um reggae
sagaranicamente
eu te provoco
toco teu corpo
com meus dedos
mordo tua carne
com meus dentes
sagarinicamente
com meus olhos de lince
poeta é o quanto te devoro
e oro pra são jorge
em seu cavalo anda/luzia
que reluzia
em outro cavalo andaluz
enquanto na vitrola
rola um reggae
e nos lençóis da cama
rasgo um blues
assim esc(r)avo
assim escrevo
a
solidão extravasa
teu silêncio
em altas doses de tensão
nas minhas mãos
quando me calo
ou falo
entre sílabas
nas ente/linhas
ou entre/minhas
do poema
no teatro
ou no cinema
palavra/som
palavra/gesto
e o resto da metáfora
na mínima pausa
quando só
me deito em folhas
de papel para escrever
aqui agora
e assim esc(r)avo
e assim escrevo
com o de dentro
e o de fora no que pintar
entre céu e terra
entre terra e céu
entre céu e mar
e o olho no infinito
por onde ainda possa flutu/Ar
poética 38
ela me espora
explora o corpo nu
agora e sempre
lambe a pele das palavras
lavras
do meu ser em pelo
em arcozelo
vi teu olho azul
de mar
oceano entrando
gasômetro
cais do porto
no meu corpo dentro
barco em movimento
fato
que descortina
a sina
de amar-te em parte
pela arte
de saber-te musa
que me usa
em febre
pele músculos pela noite
nossa
o que quer que eu possa
quando o corpo clama
toda água ou sangue
mesmo em santa ceia
quando a carne in chamas
o
sangue está na veia
nem sei o porque do sobrenome trocaram o gomes abreu por
baudelaire se sou o mestre sala da escola de samba oculta filho de Oxum que não
mora no rio(Rio) cachoeiras conheci as que escorrerem entre as coxas das
donzelas que lambi em goytacazes em algumas até sangrei pelas areias do farol
de são thomé procurei psicanálise mas desisti quando vi que analistas só pensam
a transa no divã e o meu abandonei em cada esquina quando criança em meio a
roça sonhei com itabira e aos 17 fui pras minas conhecer pedra dourada e os
segredos da chacina e por não ser esfaqueado o juiz ficou de fora do corpo da
carne do barro do escarro do sopro de deus que já matou 700 mil até agora
Federico Baudelaire
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento
o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
duas rosas vermelhas
em mim significam
tudo aquilo que o oculto
ainda me diz
metáfora lírica que me vem
dos olhos dela
a flor mais bela
que me pinta em aquarela
no engenho do encantado
a mulher do tempo
linda felina de fellini
que o meu olho felino
descobriu
extasiado me pergunto
:
quem foi o grande zeus
que inventou
ou foi a mãe do eros
que
pariu?
tenho outras vozes
drummundando
em itabira
ninguém me tira
sonoridades das fonéticas
na trilha que tracei depois dos trinta
no trilho dessa tralha incandescente
pode vir cão adestrado
estou a(r)mado
de poesia até os dentes
pandemônia
ela chegou sem aviso prévio
foi direto ao sangue
uma facada no fígado
sensualidade
água escorrendo
sobre a pele
da saudade
BraziLírica
para Uilcon Pereira in memória
salve salve
a metáfora anárquica
res-publicana brazilírica
que assombradado seja
o poder da fricção
na cara dessa quadrilha
meu coração é vermelho
nunca foi verde/amarelo
minha faca tem dois gumes
não tem neves
não tem cunha
não tem mello
alcalumbre vagalume
não tem mota
nem marmota
nos currais desses estrumes
no circo tem marmellada
às 8 horas da noite
com a massa tele guiada
Cordel Filho da Puta
Era uma vez
no Reino do São Nunca
um Festival de Palavras
que de doce não tinha nada
mas tinha muita fartura
e muita cana queimada
mas mal sabia a Rainha
que naquele reino fajuto
havia um pimenta do reino
um poeta escaralhado
botava fogo nas meninas
tocava incêndio no reinado
o Rei proclamou na Corte
para a Rainha cansada
nessa cama aqui ele não deita
nesse palco aqui ele não canta
nem meu quintal atravessa
nem o meu pão ele janta
mas o poeta muito astuto
não quis saber de reinado
pegou seu Boi Pintadinho
foi cantar lá no Mercado
e desse dia em diante
o Rei perdeu seu reinado
a Rainha perdeu sua cama
enquanto isso o poeta
começou a ganhar fama
com sua espada de ouro
com sua língua de lata
foi marcando gol de letra
desbravando a língua nata
até que um dia um juiz
daquele falido reinado
determinou em decreto
praquele povo mallarmado
que daquela data em diante
o poeta escaralhado
passou a ser diamante
King Artur Rei coroado
Rúbia Querubim
fulinaimicamente
ruidurbanos
também me lembro aquela tarde em Teresina lá estava eu
naquela tarde e Jomard Muniz de Britto me falava que certa vez em Pernambuco um
Rei eunuco engravidou certa Rainha do reino de Assombradado.
Perseguido pela in-justiça o eunuco caiu do telhado
direto num mar de lama e desde então fez a fama onde nasceu Macunaíma que nunca mais foi encontrado.
a coincidência mineira
deputados cínicos e fascistas
travestidos de democratas
insuflados por escravocratas
como um mineiro das Neves
apalavrado por Bicudo
transformam dignidade
em uma lata de lixo
ao bel prazer: impunimente
articulando mais um GOLPE
assim escrachado descaradamente
como se o Brasil fosse habitado
exclusivamente por dementes
e não percebesse que a trama
no bastidor foi engendrada
pelo seu vice-presidente
como a idêntica traição
que esquartejou Tiradentes
Federika Lispector
não
me enganam
as cartas do meu baralho
anistia pra golpista é o kralho
muito menos
as cartas do meu tarô
anistia pra genocida
é um horror
nasceu FlorBela entre lençóis e bananeiras cactos girassóis e
alfavaca quando plantei nunca pensei ser luz do sol os seus olhos de donzela nesses
temporais tropicalistas dou minha cara a tapa e muitos beijos com sabores
infinitos quem adivinhar em que bordel conheci a sua origem nos
arredores da paulista aqui na estação 353 sonhar sagrado rito no meu terreiro
meu corpo santo único mito quando se despe em guardanapo e se entrega corpo
alma carne dentes a essa mulher depravada indecente tão somente por ser filha
de Bacco
fome
ainda que
tentassem
apagar em mim
a tua chama
os pratos estão na mesa
ainda arde em minha cama
esse mar de fogo
que me mantém acesa
Rúbia
Querubim
Na Trilha Do Fogo
penetrações
fulinaímicas
no
coração
do mato
dentro
na frente
atrás
no centro
quando te amei neste poema
tinha dois cavalos copulando
na cocheira da fazenda
não me interessei pelo que pensavam
se é que cavalo pensa
e para nós não fazia a mínima diferença
em minha língua jorrava água ardente
e na tua jatos do meu leite quente
Teatro do Absurdo
Afro-dite-se-quiser
Godot, produtor de farinha, recém chegado de Bom Lugar, que
fica próximo a Barra do Itabapoana, passeava bêbado sem camisa ontem pela
avenida principal de São Francisco e começou a gritar palavrões e palavrinhas
quando viu uma miragem numa das vitrines de uma loja de inconveniências
decorada para o próximo natal.
A Traição Das Metáforas
:
Um Outra
para Celso de Alencar, César Augusto de Carvalho e
Federico Garcia Lorca em memória
há tempos
não escrevo
um poema como esse
:
a formiga carregando folhas lembra-me a máquina de terraplanagem que vez em quando passa na minha rua a carrocinha puxada por um cachorro imagem cibernética estética não é o que me move pra o abstrato do outro lado do espelho atrás da porta do meu quarto
ainda guardo teu
retrato em Nova Granada conheci um presépio com duas mil imagens humanas criado
pelo mestre Guima que cultivava em sua cabala cento e sessenta e três imagens
de Santo Antônio que Hygia Ferreira guardava para o casamento com ela aprendi
que o amor mora muito além da casa dos soldados Federika rasgou o vestido de
Macabea quando Lady Gumes enfiou a faca no monstro ontem mesmo sonhei com
Afrodite tive um surto de desejo gozei no espelho era Cecília quem estava do
outro lado
pitadas de suassuna
com josé cândido de carvalho
godot atravessou o rubicão
num galope do karalho
seu cavalo baio corria mais que o cão
com medo do espantalho
voltando de iriri
passou pela muritiba
para catar sementes de aroeira
e fugir do delegado
no encontro não marcado
nas rodas de capoeira
nas caiçaras da intriga
foi fazer cosmético
pra amante de guaxindiba
que deixou em guriri
comendo piaba frita
no almoço da sexta feira
parecia um tal coronel
Ponciano de Azeredo Furtado
como medo de lobisomem
pensando que o bicho é homem
sem tempo de tomar banho
amanheceu sujo borrado
contando as vacas no pasto
no sobrado do Airizes
nos fios do arame farpado
dia 31 vamos dançar
pra Yemanjá e Olorum
na hora da partida
de 2025 para em 2026
acabar com o genocida
totalmente de uma vez
quarta-feira
de cinzas
a janela estava
entreaberta
dela desejei as costas nua
do pescoço até a bunda
para penetrar-lhe os anos
até o amanhecer do outro
dia
era madrugada quarta-feira
de cinzas
de um carnaval
que há dois anos não havia
curuminha
para Rúbia Querubim
tua pele clara de pêssego
ou mesmo de manga fosse
lembra-me frutas tropicais
com sal e mel agridoce
intenso sabor tupiniquim
Clarice Beatriz que
fosse
ou mesmo esse anjo SerAfim
que dorme em praias distantes
e
acorda dentro de mim
tudo gira tudo rola
ainda que seja assim
ainda que seja assado
não tenho papas na língua
não tenho língua nas papas
quando me descobri ainda menino saltando muros para roubar
mangas no quintal do vizinho ou quando tasquei fogo no paiol de milho
percebi que a vida nos trilhos
tudo gira tudo rola
pomba gira no terreiro
trepada em pé de carambola
e lá vai terminando mais
um ciclo ao redor do sol meu pai cavaleiro de Ogum na terra girou 67 por
onde anda não sei deve estar seguindo seu destino pelas galáxias das festas de São João Xangô Menino
ela vinha ela veio
com um copo de vinho
nos seios
na boca uma língua
de fome
no corpo a carne
sedenta
seis anos para ceder
aos instintos
e dar-me em camas
de um sol azul
ela veio vestida de nada
enquanto pra ela escrevia
na agulha um bolero blue
no poema nada cabe
nem o que sei
nem o que não se sabe
sonho medonho
para Celso de Alencar
inspirado em um poema de Chico das Iolandas
quando Cronos
beijou Vênus em Creta
foi para separar Ísis de Apolo
e evitar que Júlia morresse
de morte tão prematura
e a cabeça de Pompeu
não fosse encontrada num cesto
ao invés de sepultura
sonho literatura
desses que a gente sonha
com desejo de sonhar
e pensa até que a fronha
é mulher pra se casar
toca-se até uma bronha
sonhando que vai gozar
com a diaba Cleópatra
sacerdotisa no altar
esporra nas franjas da cama
e nunca mais quer acordar
que seja por um risco
que seja por um triz
a mulher que sempre amei
nunca foi atriz
era aprendiz de arquiteta
sempre andou em linha torta
por todo sempre ereta
eu sou avessa atravesso
a cidade com o que me interessa as vezes sou sossego outras
vezes tenho pressa não procuro o que não quero me
abstenho no que faço me abstrato quando posso me concreto em cada
passo o compasso é argamassa o
absinto é quando traço uma linha nunca reta da palavra em descompasso se sou
torta não importa em cada porta risco um
ponto pra revelar os meus destroços no alfabeto do
desterro
a carnadura dos meus ossos
Beatriz
Almada
nesta cidade de palha
minha balbúrdia poética
não falha
corta palavra morta
na nervura dessa pedra
na carnadura desse osso
corte grosso de navalha
pra descascar esse caroço
confissão
em nome do pai
do filho e do espírito santo
confesso entretanto
que o meu jejum de hoje
tem almôndegas de soja
com vinho tinto de Bento
Salton Cave de Pedra
eu sei que Fedra Margarida
gosta mais de carne mesmo
cachacinha com torresmo
mas tenho fé que ela
passe a língua no meu linho
se embriague com meu vinho
coma da minha carne
e se engravide do meu pão
sossegado no meu canto
conheci essas meninas
no carnaval de iriri
nas quebradas do entretanto
que fica logo ali do outro lado
nas costas do espírito
santo
EuGênio Mallarmè
lascívia
do porto de Santos
ecoa o grito no Ipiranga
:
irreverência ou morte!
o vampiro está de tanga
no mar negro palácio jaburu
com a baba escorrendo na boca
e o guindaste enfiado no cu
juro que foi assalto
em 2019
uma quadrilha invadiu
o palácio do planalto
Pastor
de Andrade
eu sou umbanda
veja bem meu bem o beijo que não me deste era gelado e
derreteu teu evangelho um sacrilégio de um mitológico prometeu não gosto
da palavra doce prefiro salamargo pra desintoxicar o fígado o sabor da minha
língua é azeite sal pimenta se não agüenta sarta de banda eu sou umbanda vou
pro terreiro de oxossi sacramentar o meu amor bater macumba na quimbanda e
saravá para xangô
Federika Lispector
mini conto - a faca
poesia não é manchete de jornal para espremer escorrer
sangue o poema pode ser facada sim que entra na carne mas não sangra
como aquela em juiz de fora que até agora ninguém me explicou o melodrama
estava li e não vi adélio no curral do tal comício palanque armado para fazer
do brasil uma quaderna - pra fazer do brasil um precipício
última ceia
banquete antropofágico
do peixe vamos comer
somente osso espinha
na rapadura com farinha
curitiba-pr - setembro 2022
santíssima trindade
o pastor universal
o narco tráfico
e a milícia
uma santíssima trindade
no país do
laranjal
mula sem cabeça
a besta fera
perdeu a cabeça
na esquina da W3
com asa norte
a encruzilhada do delírio
sua língua morta
foi decapitada
por Adélio Bispo do Rosário
foi encontrada na rota 666
ladeira do inferno
na praia da macumba
e agora exposta
no museu universal
das grandes novidades
salmo 2019 versículo 6.6
segundo o evangelho
do Pastor de Andrade
a ovelha do oitavo andar
se desgarrou na madrugada
foi dar o leite para o padre
e me deixou na bronha
sujei a fronha
do meu travesseiro
sujei as mãos
sujei os dedos
e a sem vergonha
me ligou pra dar adeus
juro que não sou santo
juro que não sou zeus
se encontro essa ovelha
desgarrada
vai ter bordel
vai ter facada
e não venham me dizer
que é crueldade
sacanagem
é o que ela fez comigo
me deixou de quatro
e ainda cuspiu no meu umbigo
sarcástica
o que dizer das
namoradinhas do crivella
as falsas donzelas
da abstinência sexual
o que dizer das ovelhinhas
do edir mais cedo
não tem segredo
não curto culto meu amor
não curto
sou um pastor afrotupy
prefiro o ritual dos barracões
para aplacar os meus vulcões
em fases de erupções
encarnações como nunca vi
Pastor de Andrade
neo concreto
para Ferreira Gullar
em memória
sequestro teu corpo poema
na entrada da sala do cinema
teu corpo levo para a cama
o poema enterro no poema
janela indiscreta
sargaço em tua boca espuma
sequestro teu
corpo/poema
na sala de entrada do cinema
teu corpo eu levo para a cama
o poema enterro no poema
em Armação de Búzios
tenho um amor sagrado
guardado como jura secreta
que ainda não fiz para Laís
em teus cabelos girassóis de estrelas
que de tanto vê-las o meu olho vela
e o que tanto diz onda do mar não leva
da areia da praia onde grafei teu nome
para matar a sede e muito mais a fome
entranhada na carne como Flor de Lótus
grudada na pele como tatuagem
flutuando ao vento como leve pluma
no salgado corpo do além mar afora
sargaço em tua boca espuma
onde moram peixes - na cumplicidade
do que escrevo agora
carNAvalha Na Carne
quantas
navalhas
na carne enterrei
quantas feridas já sangrei
na pele nos nervos no
osso
do boi só para ti
quantas lágrimas já chorei
quantas vezes mergulhei
no fosso fundo do poço
e ainda estou
aqui?
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